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Richard Branson, um excêntrico entre os bilionários

Este cabeludo poderia ser aquele seu tio hippie — se seu tio tivesse US$ 4,2 bilhões, 400 empresas, uma ilha no Caribe e uma companhia aérea de viagens espaciais

Richard Branson, fundador do grupo Virgin: "Não acho que trabalho é trabalho e diversão é diversão. Para mim, tudo é vida” (Divulgação)

Richard Branson, fundador do grupo Virgin: "Não acho que trabalho é trabalho e diversão é diversão. Para mim, tudo é vida” (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 27 de março de 2012 às 10h51.

São Paulo - Richard Branson parece um cara legal. Do tipo que você convidaria para tomar uma cerveja e lembrar os velhos tempos ao som de Led Zeppelin. Sua vasta cabeleira dourada e um certo deboche social lhe conferem o ar de um renitente excluído que ainda crê que o sonho não acabou. Mas qualquer semelhança com aquele seu tio hippie acaba aí.

Aos 61 anos, o fundador do grupo Virgin, que congrega 400 empresas, tem 4,2 bilhões de dólares no bolso, é o 254º homem mais rico do mundo segundo a revista Forbes e o quarto da Inglaterra. “Adoro inovar e ser diferente”, disse ele. “Estou sempre correndo riscos para conseguir o que quero, tanto na minha vida pessoal, como na profissional. Não acho que trabalho é trabalho e diversão é diversão. Para mim, tudo é vida.”

Foi com esse estado de espírito que ele resolveu quebrar um recorde, dando a volta ao mundo de balão — e por duas vezes caiu no mar. Mas também já obteve sucesso em outras aventuras: em 1986, atravessou o Atlântico num barco, em tempo recorde. Ironicamente, a dislexia, uma séria dificuldade para aprender a ler e escrever, o fez abandonar os estudos desde cedo para se tornar empreendedor.

“Sabia que jamais passaria nos exames para entrar no Direito, como meu pai e meu avô, ou me tornar professor, médico ou banqueiro”, revela em seu recém-lançado livro, Screw Business As Usual (um quase desabafo que soaria em português como “Dane-se o negócio do jeito que é hoje”). Branson é o profeta do que ele mesmo chama “Capitalismo 24 902” (a circunferência da Terra em milhas). “Nunca houve tempo melhor que esse, pois as fronteiras entre trabalho e as boas intenções sumiram, e fazer o bem virou ótimo para os negócios”, escreve.

Branson tem prazer em brigar com marcas consagradas. Foi assim que criou a Virgin Cola e a Virgin Vodka. As concorrentes pressionaram os comerciantes a não expor os produtos Virgin. “Empreender é também errar e falhar”, afirma. “Gosto de desafiar as grandes empresas, aquelas que estão acomodadas como líderes mundiais”. A British Airlines também estava em sua linha de tiro: “Odiava voar com eles. Então resolvi criar minha própria empresa aérea”.


A partir deste ano, por 20 mil dólares, será possível reservar assento nos voos espaciais que a Virgin Galactic começará a operar em 2013 (o custo total é de 200 mil). Os clientes vão usufruir de um ambiente sem gravidade por seis minutos. “Para fazer isso, a NASA precisaria de uma quantidade de energia equivalente ao que gasta a cidade de Nova York em uma semana”, diz ele. “Nós vamos fazer por muito menos.” E explica: a nave, batizada White Knight Two, será lançada a uma altura de 18 quilômetros, e não do solo, requisitando muito menos energia.

Num dos últimos encontros dos funcionários da Virgin, ele reuniu mais de 7 mil pessoas em sua casa de campo, que, no melhor estilo Woodstock, curtiram shows de bandas ao vivo acampados no jardim. A mensagem que passa reflete conceitos corporativos dos novos tempos: “Vamos fazer a diferença, explorar nossos desejos de aventura, ir aos lugares com que sonhamos. Nós amamos os holofotes”. Vem dando certo: além dos transportes, Branson tem uma seguradora de saúde, uma operadora de celular, uma gravadora, uma empresa de turismo, uma grife de roupas, uma operadora de cartão de crédito, uma reserva florestal na África do Sul destinada a safáris, entre outras coisas.

Péssimo aluno no ensino médio, ele começou muito jovem no ramo musical. Comprava LPs do outro lado do Canal da Mancha e vendia-os na Inglaterra, expostos no porta-malas do carro. Em 1971, foi preso por desviar discos destinados à exportação e por não recolher impostos. Hipotecou a casa da família para pagar os débitos. Em 1998, já milionário, publicou sua autobiografia, Losing My Virginity (Perdendo Minha Virgindade), best-seller que daria origem a vários outros. No ano seguinte, tornou-se “Sir” Richard Branson, Cavaleiro da Rainha da Inglaterra.

Sua enorme rede de contatos poderosos e famosos, seu charme e vigor físico fizeram dele alvo cobiçado pelas mulheres. Frequentemente, veste jeans e camiseta e, quando é obrigado a ser mais formal, usa roupas idiossincráticas, mas sempre elegantes, como terno completo com colete. Às vezes, ao falar, lança um olhar distante, como se pensasse em outra coisa.

Bon vivant assumido, provavelmente sonha com seu retiro favorito de 300 mil metros quadrados: a ilha de Necker, nas Ilhas Virgens Britânicas, onde costuma despachar deitado na rede com vista para o Caribe. Ele a comprou do governo por 400 mil dólares (estava avaliada em 10 milhões) com o compromisso de desenvolver o local, o que fez prontamente.


Em agosto, o hotel de alto luxo na ilha pegou fogo e foi destruído (a atriz Kate Winslet estava em uma das suítes). A reconstrução teve início em dezembro. “Queria a Necker para convencer minha mulher a viver comigo”, conta. “Consegui a ilha, a mulher, um monte de dinheiro e minha família.” Além de Joan, que o acompanha há 34 anos, a família é constituída por seus dois filhos: Holly, formada em medicina, mas dedicada ao império do pai, e Sam, um aventureiro que já atravessou o Ártico e atualmente produz um filme sobre o ambientalista James Lovejoy.

O meio ambiente virou a grande causa de Branson. Ele dá palestras por 350 mil dólares, desde que paguem também as despesas em hotel cinco estrelas para sua comitiva fixa de oito pessoas, garantindo que a quantia arrecadada vai para pesquisas de combate à emissão de carbono. Em todo lugar é tratado como sábio, o que não deixa de ser verdade. Mas muitas vezes dá a impressão de não saber o que está falando. “Os pastos ameaçam a Amazônia. Acho que a humanidade deveria diminuir o consumo de carne e deixar de comer às sextas-feiras”, chutou no Fórum Mundial de Sustentabilidade, em Manaus, março passado.

Campeão da sustentabilidade, é dele a Carbon War Room, instituição que adota causas ambientais de grande impacto. Uma delas foi a criação de um certificado para navios de transporte. “Não há regulamentação para esse tipo de atividade, embora seja a sexta maior fonte emissora de carbono do planeta”, diz. “Nós já certificamos mais de 60 mil navios que estão dentro do padrão sustentável”. Em 2009, criou o Virgin Earth Challenge – um prêmio de 25 milhões de dólares para quem oferecesse uma ideia viável para extrair carbono da atmosfera. As inscrições terminaram com mais de 2 mil propostas. “O aquecimento global é o maior, o mais resistente, o mais impactante e o mais abstrato de todos os problemas da Terra.”

Controverso, Branson introduziu uma população de flamingos em sua ilha. Depois trouxe lêmures, um primata endêmico da ilha de Madagascar. Os ambientalistas torcem o nariz – espécies estranhas podem ameaçar o equilíbrio biológico local. Mas ninguém o detém: ele abraça suas ideias e as realiza. “Quero empregar minha habilidade em ganhar dinheiro nas grandes questões da humanidade”, diz. Prova disso é que suas viagens espaciais têm também o objetivo de chegar à lua, onde há “muitos elementos importantes, como o hélio, que têm potencial energético para abastecer o mundo”, conta. “A lua vai salvar o planeta, vai impedir o aquecimento global.”

Delírio? Não. Há sempre algo de verdade, ainda que minúsculo, nas ideias e frases grandiosas de Branson. É de sua autoria uma máxima viral que vem circulando pela internet: “Os corajosos podem não viver para sempre, mas os covardes não vivem nunca”.

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