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Republicanos usam polêmico filme da Netflix como ferramenta eleitoral

Republicanos usam o filme para atrair conservadores; polêmica faz parte de uma campanha eleitoral para as eleições presidenciais de 3 de novembro

Mignonnes: o polêmico filme francês entrou na batalha eleitoral americana (Netflix/Divulgação)

Mignonnes: o polêmico filme francês entrou na batalha eleitoral americana (Netflix/Divulgação)

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AFP

Publicado em 16 de setembro de 2020 às 20h02.

Última atualização em 16 de setembro de 2020 às 20h48.

O polêmico filme francês Mignonnes ("Lindinhas" no Brasil), acusado de sexualizar meninas e disponível na plataforma de streaming Netflix, entrou na batalha eleitoral americana: os republicanos usam o filme para atrair conservadores, ao mesmo tempo que se referem aos democratas como vacilantes no combate à pedofilia. 

Na última semana, vários republicanos pediram um boicote à Netflix, que disponibiliza o filme da diretora Maïmouna Doucouré em sua plataforma desde 9 de setembro.

O filme conta a história de Amy, uma parisiense de 11 anos que faz parte de um grupo de dança com três outras garotas de seu bairro, com coreografias às vezes sugestivas, como as de muitas estrelas pop atuais.

O senador republicano Ted Cruz, que não viu o filme, pediu ao Ministério Público para investigar possíveis violações das leis de proteção a menores.

O deputado republicano Jim Banks chegou a sugerir ao canal Fox News que "a Netflix deveria ser processada".

"Está claro para mim que, se não for difusão de pornografia infantil, não está muito longe disso", afirmou o senador Tom Cotton.

A advogada americana Lisa Bloom, especialista em questões de agressão e assédio sexual, considerou que o filme está numa "zona cinzenta" em relação às leis.

Não tem cenas de sexo e nenhuma garota aparece nua.

"Acho que é de muito mau gosto", opinou a advogada à Court TV. "Mas isso é um crime? Isso me surpreenderia", ressaltou.

"Vejam o filme e entenderão que estamos na mesma luta", reagiu a diretora Maïmouna Doucouré em uma mesa redonda virtual organizada pela UniFrance, ao falar sobre a hipersexualização de meninas e jovens e a influência doentia das redes sociais.

"É preciso despertar o debate para tentar encontrar soluções, e isso acontece comigo mesma, como o artista que fez esse filme, os políticos, o sistema educacional, os pais, todos, porque é um problema real", declarou Doucouré.

Michelle Obama questionada

Vários defenderam o filme, incluindo a Netflix.

Mas, de acordo com a empresa de análises YipitData, o número de clientes que cancelaram as suas inscrições da plataforma aumentou depois que Mignonnes foi disponibilizado no catálogo, e no sábado passado esse número ultrapassou em oito vezes a média diária registada em agosto.

"Eu sei que a esquerda, a Netflix e Reed Hastings [seu presidente] o defenderam, apresentando-o como uma crônica social contra a exploração sexual de crianças", afirmou Banks. "Acho curioso", acrescentou.

Para muitos conservadores, Mignonnes faz parte de uma tendência favorecida pelo meio cultural, com apoio implícito da esquerda.

"O que os líderes democratas estão dizendo sobre isso?", escreveu o diretor e produtor conservador Robby Starbuck no Twitter. "O que percebi é que a sexualização de meninas de 11 anos não parece um problema para eles".

No Partido Democrata, apenas a ex-candidata às primárias presidenciais Tulsi Gabbard se posicionou contra um filme que, em sua opinião, "abre o apetite dos pedófilos".

"Michelle Obama é cúmplice do filme pornográfico infantil da Netflix, Cuties", foi a manchete de uma coluna de opinião do The Federalist, um site muito conservador.

Segundo os dois autores da coluna, a ex-primeira-dama é culpada de não ter participado do debate, no qual poderia desempenhar um papel decisivo como autoridade moral.

Simpatizantes da extrema-direita vincularam o assunto ao QAnon, a teoria da conspiração que garante que várias personalidades, especialmente da esquerda, organizam uma rede de pedofilia que o presidente Donald Trump busca destruir.

A polêmica sobre Mignonnes faz parte de uma campanha eleitoral para as eleições presidenciais de 3 de novembro que Trump e sua equipe apresentam como o confronto entre duas visões da sociedade.

De um lado estaria o do presidente, onde a lei, a ordem e os valores tradicionais americanos, de inspiração cristã, são preservados. De outro, a visão dos democratas, relaxados e determinados a permitir o colapso dos símbolos americanos.

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