O nome Penélope é uma alusão à mulher de Ulisses, personagem da Odisseia, que tecia e desfazia tapetes enquanto o marido lutava na guerra de Troia (Everton Ballardin/Reprodução)
Da Redação
Publicado em 18 de novembro de 2011 às 16h05.
São Paulo - Quando as teclas de um piano no meio do andar térreo do Pavilhão da Bienal pararam de tocar, cobertas por litros de parafina derretida, chegava ao fim uma performance que marcava o início da 29ª Bienal de São Paulo, no ano passado. O público que assistiu à Metade da Fala no Chão – Piano Surdo, de autoria da jovem paulistana Tatiana Blass, 32 anos, recebeu o trabalho como o indício da nova fase da exposição, que, um ano antes, quase foi extinta. Agora, com Penélope, instalação exposta até fevereiro de 2012 na Capela do Morumbi, em São Paulo, Tatiana crava seu lugar entre os nomes que não se furtam a correr riscos com peças nas mais diversas linguagens e, ao mesmo tempo, mantêm-se fiéis a uma poética própria.
Para falar de Penélope, é preciso antes descrever a Capela do Morumbi, uma construção de taipa de pilão que serve atualmente de espaço para a arte contemporânea. A artista usou as estruturas vazadas dessas antigas paredes, reminiscências das origens coloniais do endereço, para prender fios vermelhos de lã e chenile, criando uma espécie de rede desfiada ou ainda em esboço, algo com um aspecto de não finalizado. (O nome Penélope, aliás, é uma alusão à mulher de Ulisses, personagem da Odisseia, que tecia e desfazia tapetes enquanto o marido lutava na guerra de Troia.)
Faisão Taxidermizado
Tal ideia lembra suas produções anteriores, como a instalação Zona Branca/Lustre, vista na galeria Millan, em São Paulo, em 2007, e Cerco, também presente nessa mesma individual. Em ambas as peças, a desorganização e o descontrole apareciam. Na primeira, em globos que pendiam do teto e, na segunda, por meio de um faisão taxidermizado, amarrado por uma linha dourada de latão.
No ambiente interno da capela, os fios têm uma função lateral. A figura central é o tear manual de pedal e o tapete de 13 m, que se desdobra pelo chão da sala expositiva. Com ele, Tatiana discute as ligações de poder, tema apropriado em um local que remete às intrincadas relações de domínio e submissão, por exemplo.
No entanto, é na área externa que Penélope ganha mais vigor. As linhas púrpura parecem “parasitar” o belo jardim nos fundos do terreno, tingindo de vermelho o que antes era uma pacata superfície verde. O visitante, se não tomar cuidado, pode enredar o pé nos fios distribuídos com um ar caótico pelo espaço. Aliás, a parte externa, somada ao ambiente da capela, torna difícil saber o que é construído e o que é fruto do acaso, explicitando uma sensação cara na trajetória de Tatiana, uma artista que merece constante atenção.