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“Queremos que nossos concorrentes nos alcancem”, diz CEO da Panerai

Jean-Marc Pontroué conta por que a marca de relojoaria mezzo italiana, mezzo suíça está lançando um relógio de materiais reciclados e divulgando a cadeia de fornecedores

Jean-Marc Pontroué, CEO da Panerai: sustentabilidade na relojoaria (Panerai/Divulgação)

Jean-Marc Pontroué, CEO da Panerai: sustentabilidade na relojoaria (Panerai/Divulgação)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 7 de abril de 2021 às 08h00.

Última atualização em 8 de junho de 2021 às 07h55.

Jean-Marc Pontroué, atual CEO da marca de relógios Panerai, desenvolveu uma habilidade bastante útil em sua vida corporativa quando trabalhou como diretor de vendas da Givenchy, do grupo LVMH, nos anos 1990. Nos cinco anos em que permaneceu no cargo, ele montou uma vasta rede de contatos pelo mundo e construiu uma estratégia global de produtos baseada na necessidade de cada país.

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Pontroué entende, portanto, a importância de senso de comunidade. Algo que a Panerai tem de sobra graças principalmente aos paneristi, uma legião de 30.000 fãs espontâneos da marca, “o maior departamento de marketing que uma empresa pode ter”, afirmou o executivo em entrevista por vídeo conferência à Casual EXAME, na semana passada.

Depois da passagem pela Givenchy, Pontroué entrou para o grupo Richemont, primeiro na Montblanc, depois na Roger Dubuis e por fim na Panerai. Conhece bem, portanto, sua comunidade, que recebeu com surpresa o principal lançamento da Panerai na Watches & Wonders, a feira de relojoaria que acontece este ano de 7 a 13 de abril, virtualmente. O destaque foi o modelo eLAB-ID, o primeiro relógio com 98,6% do peso feito de materiais reciclados.

“No nosso mercado é comum que as empresas guardem segredos, assim como em outros segmentos”, afirmou Pountroué. “Nós não queremos guardar as informações para a Panerai, queremos que os nossos concorrentes estejam onde estamos, por isso estamos divulgando uma lista com os fornecedores de materiais do nosso modelo feito de material reciclado. Quanto mais rápido isso acontecer, mais seguro estará o mundo.”

É uma boa estratégia de marketing, alinhada a práticas recorrentes. A Panerai é hoje uma das manufaturas de relojoaria mais preocupadas com a sustentabilidade. Em termos de produto, um dos destaques da marca é o modelo Luminor Marina Fibratech, com componentes feitos de fibras naturais, resistente e cerca de 60% mais leve que o aço.

A Panerai também produz correias de relógio com PET reciclado e estojos feitos a partir de materiais reciclados. A manufatura em Neuchatel, na Suíça, conseguiu anular as emissões de carbono com redução de emissões de gases, uso de fontes renováveis de energia e reciclagem de recursos, além de promoção de mobilidade sustentável entre os trabalhadores.

No ano passado, em entrevistas diversas, Pountroué afirmou que o próximo objetivo da marca seria produzir um relógio 100% feito a partir de materiais reciclados. Bem, a Panerai pode ter falhado em 1,4%. Mas provavelmente nem se a marca tivesse alcançado agora a meta hipotética ele se daria por satisfeito.

“Queremos levar o conceito sempre adiante”, diz ele, na nossa entrevista. “Não estamos pensando em 2021, mas nos anos seguintes. Se você compra um carro a combustão, sabe que faz dez quilômetros com um litro de gasolina. De compra um carro elétrico, tem noção de quanto dura a bateria. Na nossa indústria, nós criamos os parâmetros, tudo está em aberto.”

Pountroué sabe que, além de tudo, falar em sustentabilidade é estabelecer vínculos com uma nova geração de consumidores, sonho de toda marca de bem de consumo. “Tudo muda muito rápido. Dez anos atrás ninguém falava de sacolas retornáveis, embalagem do shampoo, carros elétricos.”

A comparação com o mercado automotivo é uma constante na fala do executivo. Pergunto a ele se o eLAB-ID pode ser um ponto de virada na indústria relojoeira, se a partir desse lançamento o uso de materiais reciclados se tornará uma obsessão das manufaturas.

“No fim do dia, o tipo de produto é o mesmo. Um carro elétrico no fim é um carro, um carro com motor a combustão é um carro. O mesmo acontece com relógios. É o princípio do negócio.” A indústria caminha para o uso de materiais reciclados, fato. Mas em outras palavras Pontroué parece querer dizer que sempre haverá espaço para um relógio como objeto de desejo.

Pergunto, no fim da conversa e aproveitando o tema de desenvolvimento sustentável, sobre os resultados do e-commerce na Panerai no Brasil, inaugurado no fim do ano passado.  A marca não abre números, mas o presidente se diz bastante satisfeito com os resultados até aqui.

“Esse planejamento começou dois anos atrás, portanto um ano antes da pandemia. Inauguramos o PAMCAST, uma plataforma de relacionamento com vídeos, entrevistas com embaixadores da marca, nossa história, a Itália. Não queremos apenas vender produtos. Criamos todo esse ecossistema para que as pessoas fiquem um clique só não é suficiente.”

Pontroué cita como exemplo a venda de um relógio comemorativo do Luna Rossa, o barco de competição patrocinado pela Panerai. “Foram 40 peças e era preciso fazer uma inscrição. Sabe quantas pessoas se cadastraram? Mais de 40.000. Quanto ao Brasil, estamos muito orgulhosos, o e-commerce permitiu que chegássemos a muitos fãs. Não fizemos centenas de pesquisas antes do lançamento, mas sabíamos que havia demanda.”

 

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