Café filtrado: brasileiros gastaram, em média, 11,6 bilhões de reais em café para uso em domicílio. (IsaEva/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 27 de dezembro de 2022 às 10h04.
Última atualização em 4 de outubro de 2024 às 11h23.
O café é a bebida mais consumida no mundo depois da água. E aqui no Brasil não poderia ser diferente. Além de sermos o maior produtor e exportador mundial do grão, nós brasileiros temos uma relação íntima com essa frutinha que já foi a locomotiva econômica do país. Afinal, quem nunca ouviu a expressão “Aqui tem café no bule”?
Pois é, falar sobre café é um desafio enorme, e sabe por que? Porque, como é paixão nacional, todo brasileiro se acha especialista no assunto, exatamente como acontece com futebol, churrasco e, mais recentemente, política. Portanto, a partir desta primeira coluna, meu principal objetivo é desmistificar o chamado café especial e trazer informações e tendências desse novo queridinho do brasileiro que busca qualidade e um novo jeito de degustar a bebida.
Por definição, o café especial é aquele livre de amargor, feito somente com grãos maduros, colhidos manualmente. Porém, para mim vai muito além disso. É especial porque, diferentemente do que é produzido como commodity, existe uma atenção e carinho totalmente voltados para cada etapa do manejo. Ou seja, esse café não é só especial por seu sensorial (aroma, sabor, corpo e finalização), mas principalmente pela sua cadeia produtiva e por seu valor agregado.
Por isso é tão importante sua desmistificação. Quanto mais informação o consumidor tiver, mais envolvido ele estará. Acredito que a tendência a partir de 2023 em relação à produção de café especial será justamente essa: a maior fomentação da conexão entre quem produz e quem compra, entendendo e melhorando questões socioeconômicas das regiões produtoras, trazendo crescimento sustentável para seus habitantes. Na prática, isso funciona em diversas esferas.
No meu caso, como Coffee Hunter, costumo dizer que após comprar algumas safras de um mesmo produtor e não encontrar nenhuma melhoria em sua realidade, seja na propriedade, em equipamentos ou moradia, eu não estarei desenvolvendo meu papel da forma correta. Pois é minha responsabilidade também a evolução do meu parceiro. Se extrapolarmos este raciocínio para maiores esferas, em pouco tempo teremos um desenvolvimento sustentável em toda a cadeia, impactando diretamente uma região inteira.
E isso tem se mostrado verdadeiro. Lugares que antes nem sequer produziam cafés de qualidade ou eram considerados os “patinhos feios” para cafés especiais, hoje têm papéis protagonistas na cena, como Espírito Santo e Rondônia, de onde saíram os ganhadores da edição deste ano do aguardado Coffee of the Year Brasil. Já a Etapa Internacional do Cup of Excellence 2022 consagrou o cafeicultor Antônio Rigno, de Piatã, na Chapada Diamantina (BA), que venceu a competição pela quarta vez, num feito inédito. Inclusive, conheci Seu Antônio em uma de minhas expedições para a Chapada, mas essa história fica para as outras colunas com dois dedos de café para tingir o beiço.
*Caio Tucunduva é Coffee Hunter da No More Bad Coffee e mestre em sustentabilidade.