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Produção de vinho em cordilheira da África do Sul desafia tradição

Produtores estão enveredando por um ambiente improvável em um momento em que a mudança dos padrões climáticos põe à prova antigas convenções

Drakensberg, na África do Sul: videiras da vinícola Cathedral Peak crescem no sopé da cordilheira (Hoberman Collection/UIG/Getty Images)

Drakensberg, na África do Sul: videiras da vinícola Cathedral Peak crescem no sopé da cordilheira (Hoberman Collection/UIG/Getty Images)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 15 de março de 2019 às 05h00.

Última atualização em 15 de março de 2019 às 05h00.

A indústria do vinho da África do Sul gira em torno da Cidade do Cabo. Mas pioneiros na região nordeste estão enveredando por um ambiente improvável em um momento em que a mudança dos padrões climáticos põe à prova antigas convenções.

As videiras da vinícola Cathedral Peak crescem no sopé da Cordilheira do Drakensberg, ou "Montanhas do Dragão", a imponente cadeia de montanhas que forma uma fronteira natural no lado ocidental da província de KwaZulu-Natal. Produzir vinho aí a 1.100 metros de altitude desafia a tradição, nutrindo as uvas com as chuvas quentes de verão, em vez do clima mediterrâneo e dos invernos frios e úmidos do Cabo Ocidental, muito mais célebre.

O proprietário Mauritz Koster admite que os agricultores locais disseram que ele estava louco quando arrancou o milho de alguns de seus campos em 2007 e plantou uvas. Doze anos depois, ele está cultivando Merlot, Cabernet Sauvignon e Pinotage, o híbrido de Cinsaut e Pinot Noir desenvolvido na África do Sul. Os vinhos, feitos por Flip Smith, estão ganhando prêmios locais.

"A chuva de verão acrescenta um novo aspecto à produção de vinho e isso, creio eu, aumenta sua singularidade", disse Koster em sua fazenda, quando a safra de 2019 engrenava em uma tarde quente de fevereiro. Embora suas videiras pinot noir estejam "prometedoras", as variedades de vinho branco, como Sauvignon Blanc, foram menos capazes de lidar com as condições.

As temperaturas diurnas rondam 32 graus Celsius em janeiro e fevereiro, o que significa que a fruta deve ser colhida antes que seu teor de açúcar se descontrole. Além disso, tem o granizo, uma característica dos meses de verão que exige que Koster proteja suas vinhas com redes. As videiras vão de leste a oeste para que o vento corrente consiga secá-las depois das tempestades. Mesmo assim, as uvas precisam ser protegidas contra o mofo, a destrutiva ferrugem branca que floresce nas videiras úmidas.

Pelo menos Koster e Smith não precisam se preocupar com a mudança nos padrões de chuvas e com a seca recorde que causou anos de angústia nos vinhedos do Cabo Ocidental. Mudanças no clima têm sido uma das causas do declínio do número de produtores na província, que, segundo o grupo do setor local VinPro, reduziu em 25 por cento nos últimos dez anos.

A África do Sul é o nono maior país vinícola do mundo, apoiado por produtores em áreas emergentes, longe das regiões de Stellenbosch e Franschhoek, no Cabo. Koster e Smith não estão sozinhos em KwaZulu-Natal, onde a área da vinha está aumentando. Os vinhos também são engarrafados pelas propriedades de Abingdon e Highgate, no distrito de Lions River, a sudeste.

O reconhecimento local do Cathedral Peak inclui a apropriada conquista do título de "vinho mais inovador" na competição Michelangelo de 2017. "Platter’s", um guia de 700 páginas consultado por amantes dos vinhos sul-africanos enquanto visitam propriedades para degustações, afirma que Smith, produtor de vinhos da terceira geração da região de Robertson, "lida com desafios que poderiam chocar seus colegas de Cabo Ocidental".

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