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“Riocorrente” faz retrato contundente de nosso tempo

Filme de Paulo Sacramento faz um retrato de uma sociedade que mais parece uma panela de pressão, prestes a explodir

Trecho do filme "Riocorrente", do montador e produtor Paulo Sacramento (Divulgação/Site Oficial)

Trecho do filme "Riocorrente", do montador e produtor Paulo Sacramento (Divulgação/Site Oficial)

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Da Redação

Publicado em 4 de junho de 2014 às 19h17.

São Paulo - "Riocorrente”, primeiro longa de ficção do documentarista, montador e produtor Paulo Sacramento, pulsa com a urgência daquelas obras em sintonia com seu tempo.

Sua primeira exibição foi no Festival de Brasília de 2013, depois na Mostra de São Paulo – de onde saiu com o prêmio da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), somente agora ganhando o circuito de cinemas.

O longa de Sacramento – que em seu currículo registra o excelente documentário “O prisioneiro da grade de ferro” – tem um quê de profético, mostrando-se capaz de figurar um curso da história da luta de classes no Brasil que desaguou, em parte, nas manifestações de rua um ano atrás, contando também com um pouco de sorte.

Mas o que realmente conta aqui é a urgência com que “Riocorrente” faz um retrato de uma sociedade que mais parece uma panela de pressão, prestes a explodir – e, quando isso acontecer, vão voar destroços para todos os lados.

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Trailer novo Riocorrente from Paulo Sacramento on Vimeo.

Ao mesmo tempo que é um filme extremamente paulistano, em sua essência revela-se universal ao falar de opressões múltiplas.

A cidade de São Paulo é uma personagem, e a imagem do pôster do longa – que mostra o rio Tietê em chamas – já se tornou icônica, materializando exatamente o tom contundente do filme.

Essas chamas que consomem São Paulo no pôster simbolizam aquelas que devoram os personagens centrais. Marcelo (Roberto Audio) é um jornalista em conflito com o próprio trabalho.

Carlos (Lee Taylor), um ex-ladrão de carros, é uma verdadeira bomba ambulante.

Renata (Simone Iliescu) é a mulher dividida entre os dois que busca no sexo algo que preencha a cratera existencial que a destrói.

A cidade, sempre presente, sempre opressora, parece rir do desespero de cada um. O quarto personagem é um garoto de rua apelidado de Exu (Vinicius dos Anjos), cuja relação com Carlos transita entre a paternal e a fraternal.

Há um diálogo benéfico entre “Riocorrente” e “O som ao redor”, de Kléber Mendonça Filho, desde a forma como os dois diretores ocupam e filmam os espaços, até a capacidade de compreensão de cada um da tensão entre os diferentes extratos da sociedade.

Porém, se o longa de Mendonça é mais sutil, o outro se pauta pela urgência, pela iminência da explosão. Cada um a seu modo, ambos antecipam parte do que aconteceu no país em meados de 2013.

O pós-apocalipse que, aos poucos se concretiza em “Riocorrente” é o retrato de nosso tempo, pela descrença no poder institucionalizado e na imprensa.

No entanto, “Riocorrente” sugere uma conscientização e a mudança de rumos, ainda que duvidando que uma ruptura pudesse ser feita de forma serena. Existiria retrato mais perspicaz da atualidade?

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