Jacu Bird: a fazenda Camocim é a principal produtora do café (Fazenda Camocim/Divulgação)
Alexa Meirelles
Publicado em 21 de outubro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 21 de outubro de 2017 às 08h57.
São Paulo – Vai um cafezinho aí? E se dissermos que a xícara sai por 22 reais? E se dissermos, ainda, que esse grão caríssimo é colhido das fezes de um pássaro? Fomos até o Octávio Café, zona Oeste de São Paulo, para saber mais sobre esse representante brasileiro dos cafés exóticos, o Jacu Bird, cujo quilo do grão ultrapassa mil reais.
Esse café é resultado do processo digestivo do pássaro Jacu e tem um sabor muito mais exótico em relação a um expresso normal.
Pelo fato de o animal escolher os melhores frutos, ele tem um sabor mais adocicado, uma acidez que remete às frutas vermelhas – as chamadas “berries” – e um baixo índice de amargor. É mais ralo do que um expresso comum.
O processo de fermentação dentro do corpo do Jacu é responsável pelo sabor único da bebida. O grão sai do pássaro intacto - o animal só processa o fruto ao redor - e é recolhido num formato semelhante ao de um “pé-de-moleque”.
Martha Grill, analista de qualidade e treinadora dos baristas do Octávio Café, diz que o Jacu Bird harmoniza principalmente com queijos, castanhas e alimentos mais ácidos.
Embora não goste de ditar a “forma correta de se tomar café”, Martha sugere não o tomar com algo que seja doce ou que aplaque o pouco amargor que a bebida tem (como o leite, por exemplo). “Há dois caminhos para a harmonização: combinar a bebida com algo semelhante ou completamente oposto. O sal do queijo, por exemplo, faz o doce do Jacu saltar”.
Ao contrário do café Kopi Luwak, o mais caro do mundo (o quilo do grão é vendido por 500 dólares na Indonésia, de onde ele vem, mas pode ser encontrado por 2,8 mil dólares ao redor do mundo), o Jacu Bird é produzido de uma forma muito menos agressiva aos animais.
O Kopi Luwak passa por um processo semelhante ao do café brasileiro, mas é o marsupial Luwak quem faz o processo de comer o grão e evacuá-lo. A fim de otimizar a produção, já existem “fazendas” de Luwaks, onde os animais são criados exclusivamente para a produção do café.
Já os pássaros Jacus vivem de forma livre. A maior produtora do café, fazenda Camocim, de Henrique Sleper, fica no Espírito Santo, mas os animais não vivem num criadouro.
Esse é um dos fatores pelos quais o preço é tão salgado – tudo depende dos animais, e por isso, o preço oscila de acordo com a quantidade de produção. Sobre os que torcem o nariz para o valor, Martha diz ser normal.
“É algo cultural, pessoas pagam de 20 a 30 reais em uma taça de vinho, em um bom restaurante, mas às vezes estranham pagar o mesmo em uma xícara de café, mesmo que a produção seja mais cara”.
Ainda assim, apesar do preço, não falta gente disposta a desembolsar mais de R$ 20 em uma xícara ou mais de R$ 200 em 200 gramas de café.
Érico Fukushimo, de 33 anos, e Enzo Mori, de 29, são frequentadores assíduos do Octávio Café. Érico não ficou receoso antes de provar o café pela primeira vez, pois gosta de provar sabores diferenciados.
Ainda assim, achou o Jacu Bird muito semelhante a qualquer outro café, só que mais suave. Em relação ao preço, não se arrepende do valor desembolsado: “A gente paga muito mais do que só o produto, pagamos pela experiência”.
Enzo, que saboreia um expresso, também é fã de diferentes sabores de café, mas nunca provou o Jacu Bird. A origem do grão não o deixa nem um pouco receoso, mas ele se mostra menos disposto que o amigo para gastar, e diz que paga até, no máximo, R$ 20 por uma xícara. “E não dá para ser uma coisa recorrente não, só de vez em quando”.