Lewis Hamilton: Pentacampeão mundial caminha a passos largos para bater recordes históricos (Ricardo Moraes/Reuters)
Júlia Lewgoy
Publicado em 12 de novembro de 2018 às 11h32.
O inglês Lewis Hamilton venceu no último domingo (11) o GP Brasil de F-1, penúltima etapa da temporada 2018, disputada no autódromo de Interlagos, em São Paulo. Com mais uma vitória (a de número 72 de sua carreira), o já pentacampeão mundial caminha a passos largos para bater diversos recordes históricos da categoria – muitos deles pertencentes a Michael Schumacher, como de títulos (7) e o de vitórias (91).
Mas é com outro grande nome do esporte que a mídia gosta de comparar Lewis Hamilton – justamente ao seu mentor e ídolo, Ayrton Senna, que também venceu dois GPs do Brasil de F-1. É claro que, em um esporte tão competitivo, comparações são parte importante do porquê somos tão fascinados por ele. Quem nunca se imaginou na F-1 como seria um embate na mesma pista e com as mesmas condições entre pilotos de diferentes épocas, como Juan Manuel Fangio, Jim Clark, Jackie Stewart, Senna, Schumacher e Hamilton?
Portanto, a primeira importante análise a ser feita é que comparações não são nenhuma “heresia” a qualquer um destes ídolos. Até porque são inerentes aos fãs que veneram qualquer modalidade: quando Senna chegou na F-1, sua impressionante velocidade desde os tempos de estreante e sua incrível capacidade de fazer poles era logo comparada a Clark. Quando Alain Prost bateu o que parecia insuperável recorde de vitórias de Stewart, as comparações também foram inevitáveis...
Então, é natural que o nome Hamilton seja associado ao de Senna desde a impressionante chegada do piloto na McLaren em 2007. Quebrando um tabu histórico (o inglês é o primeiro piloto negro a chegar na categoria, que tem um histórico de rara inclusão social e racial), Lewis sempre deixou claro que seu ídolo não era um piloto britânico, e sim um brasileiro.
Uma passagem interessante aconteceu com este repórter em 2006, quando Hamilton era ainda piloto da antiga GP2 e já reserva da McLaren. Como rival naquele ano de Nelsinho Piquet, também na categoria de base, era interessante ouvir as histórias daquela jovem promessa inglesa e logo fui atrás de uma entrevista com ele no GP da Espanha, um dos primeiros do ano da categoria de acesso da F-1.
Sem a quantidade desproporcional de assessores que Hamilton tem hoje (basta ver a dimensão de um evento no hotel de SP neste ano de um de seus patrocinadores, a Petronas), vi o piloto no paddock da GP2 e perguntei diretamente a ele se poderia atender a reportagem de uma revista brasileira.
A resposta não foi apenas positiva, mas também demostrou uma grande alegria e surpresa: “Claro, eu amo o Brasil, meu grande ídolo é Ayrton Senna”- e já emendou a conversa imediatamente, dando uma longa entrevista exclusiva que hoje teria que ser feita pedindo 10 vias registradas em cartório.
Ainda assim, mesmo com todo o exército que o cerca, o carisma de Hamilton também tem parte na explicação de suas comparações com Senna, que também sempre foi visto por seu público como um grande herói – afinal de contas, ele erguia com orgulho a bandeira brasileira quando nosso País ia bem mal em áreas como política, economia e até no futebol (qualquer semelhança com nossos dias de hoje talvez não sejam mera coincidência). Hamilton tem grande empatia com o público, algo que outros talvez não tenham conseguido com a mesma quantidade de conquistas (o próprio Schumacher, por exemplo).
Além disso, os números de Hamilton são impressionantes – o alemão também alcançou o recorde de poles de Senna, mas Hamilton o faz com uma velocidade incrível. Tanto que sua legítima emoção ao receber o capacete de Ayrton como prêmio dado pela família do piloto ajudou a fortalecer ainda mais o elo entre os dois gênios do esporte.
Elo que Hamilton disse, nesta mesma entrevista em São Paulo, que chega a ser “um pouco estranho”. “Toda vez sinto a presença de Ayrton quando estou no Brasil”, diz Hamilton, que também já citou o brasileiro como seu mentor em provas difíceis em sua carreira, como na importante vitória na chuva em Cingapura. “Era como se ele estivesse comigo no carro”.
Por fim, o inglês faz questão de dizer que seus números são como uma sequência da carreira de Senna, que teve a carreira abreviada pela tragédia em Ímola há 24 anos. “Ele teria conseguido feitos incríveis: sete títulos facilmente”, disse... Assim como as comparações, os “se” também são fascinantes no esporte. E se até mesmo Hamilton se permite sonhar com os números, os torcedores também podem se deliciar pensando nos cenários.
Uma coisa é certa: não há comparações com Ayrton Senna. Seja na pista ou foras delas, cada um tem sua história única, ainda que os dois tenham qualidades muito parecidas, como impressionante velocidade em classificação, desempenho extraordinário na chuva e em circuitos de rua e estilo ousado em ultrapassagens.
Certamente, de onde estiver, Senna tem orgulho de ver seu jovem pupilo caminhando a passos largos para quebrar os principais recordes da F-1 – e deixando seu legado nas pistas da F-1 ainda mais eterno.