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Por que nunca se vendeu tanto relógio suíço como agora?

Começa hoje o Watches & Wonders, o mais luxuoso salão de relógios da história, com 48 marcas como Rolex, TAG Heuer, Montblanc e Panerai. Acompanhe nossa cobertura durante a semana

Watches & Wonders de 2022: número de marcas daquela edição foi superado (Ivan Padilla/Exame)

Watches & Wonders de 2022: número de marcas daquela edição foi superado (Ivan Padilla/Exame)

Ivan Padilla
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 27 de março de 2023 às 06h30.

Última atualização em 28 de março de 2023 às 04h56.

No ano passado, por essa época, escrevi que o Watches & Wonders “já pode ser considerado o salão de relojoaria de luxo mais importante de todos os tempos. Sem receio de exagero.” Pois vou ter de voltar atrás. Por uma simples razão: a edição deste ano da feira superou a anterior.

Em 2022, o salão em Genebra, na Suíça, reuniu 38 marcas, entre manufaturas do grupo Richemont e do grupo LVMH, além de empresas independentes como Rolex e Patek Philippe. A edição de 2023, que vai de 27 de março a 2 de abril, está reunindo agora 48 marcas, todas entre premium e luxo.

O ano de 2021 havia sido o melhor da história na venda de relógios suíços. Naquele ano o mercado global movimentou 22,3 bilhões de francos suíços em valor de exportações, segundo a Fédération de l’Industrie Horlogère Suisse. Antes disso, o melhor ano havia sido 2014, com 22,25 bilhões de francos suíços.

Crescimento de 11,4% do mercado

E eis que o recorde do ano passado foi batido. Em 2022, essa cifra foi de 24,8 bilhões de francos suíços, 11,4% a mais do que no ano anterior. A faixa que mais cresceu foi a categoria mais premium, de relógios com preço final acima de 3.000 euros, em 15,6%.

Esse crescimento se deu mesmo com algumas situações adversas, como a redução de compra dos clientes russos devido à guerra na Ucrânia, falta de alguns componentes que tem limitado algumas linhas de produção e ao fechamento da China devido ainda à pandemia.

O Watches & Wonders deste ano terá a participação das seguintes marcas: A. Lange & Sohne, Alpina, Angelus, Arnold & Son, Baume & Mercier, Beauregard, Bell & Ross, Cartier, Chanel, Charles Zuber, Charriol, Chopard, Chronoswiss, Cyrus Genève, Czapek & Cie, Ferdinand Berthoud, Frederique Constant, Grand Seiko, Gronefeld, Hautlence, Hermès, Hublot, Hysek, IWC Schaffhausen, Jaeger-LeCoultre, Laurent Ferrier, Louis Moinet, Montblanc, Oris, Panerai, Parmigiani Fleurier, Patek Philippe, Pequignet, Piaget, Rebellion Timepieces, Ressence Watches, Roger Dubuis, Rolex, Rudis Sylva, Speake-Marin, TAG Heuer, Trilobe, Tudor, U-Boat, Ulysse Nardin, Vacheron Constantin, Van Cleef & Arpels e Zenith.

Ao longo da semana cobriremos em Genebra os lançamentos das principais marcas e entrevistaremos executivos do setor para entender o bom momento dessa indústria.

Jovens dão mais valor aos relógios

Por que o mercado de relógios de luxo está em alta? O principal mercado são os Estados Unidos, que respondem sozinhos por 3,9 bilhões de francos suíços em compras. Ou seja, um em cada seis relógios suíços vendidos no mundo. Isso representa um crescimento de 26,3% em relação a 2021 e 95,7% em comparação com 2020.

A pandemia no geral colocou em destaque produtos de luxo atemporais como reserva de valor. “Nos Estados Unidos, a geração mais jovem em particular reconheceu o grande prestígio, a tradição e o know-how inerentes aos relógios suíços”, disse Patrik Schwendimann, especialista em artigos de luxo da consultoria ZKB, ao Switzerland Times.

A falta de componentes durante os anos de pandemia também restringiu a oferta de relógios mecânicos, o que gerou um prêmio maior no mercado de peças de segunda mão. Em cinco anos, os preços dos relógios de luxo no mercado de seminovos valorizaram em média 20% ao ano, nos últimos cinco anos, segundo um relatório do Boston Consulting Group e da Watch Box.

Para efeito de comparação, o crescimento do índice de ações americanas S&P 500 foi de 8% no mesmo período. No ano passado a valorização de algumas marcas como Rolex e Audemars Piguet chegou a cair. Ainda assim, o balanço desses útimos cinco anos é mais do que favorável.

Conclusão: relógios têm se tornado um negócio mais lucrativo.

Como será o Watches & Wonders 2023

Um salão de relojoaria é uma grande celebração da indústria. Jornalistas são chamamos para ver as novidades e entrevistar designers e executivos. Revendedores comparecem para ver em mãos os relógios lançados e assim fechar os pedidos de compra. As marcas aproveitam a ocasião para reunir os times espalhados pelas filiais e promover encontros corporativos.

Assim como no ano passado, quem não estiver em Genebra poderá acompanhar online as apresentações dos lançamentos e os painéis de discussões. Este foi um legado da pandemia, os formatos híbridos.

O salão acontece no Palexpo, um centro de convenções perto do centro de Genebra. Entre as apresentações das marcas e palestras dos principais executivos, os convidados podem tomar uma taça de champanhe ou almoçar nos restaurantes instalados nos locais.

Este ano, uma novidade será a abertura nos últimos dois dias para o público em geral, mediante compra de ingresso, uma forma das manufaturas se aproximarem dos consumidores finais. Também devem voltar os jornalistas e revendedores chineses. No ano passado, a China restringia mais as viagens internacionais por causa da pandemia.

Revolução nas feiras de relojoaria

Aqui vale fazer um retrospecto. Até 2019, as principais marcas de relógios se dividiam em duas feiras. A SIHH, ou Salon International de la Haute Horlogerie, organizada pela mesma Fondation de la Haute Horlogerie que agora realiza a Watches & Wonders, acontecia em janeiro, em Genebra. Reunia as marcas do grupo Richemont, como Cartier, Montblanc, Panerai e IWC, e algumas independentes. Era de porte pequeno mas pautada pelo luxo.

A outra grande feira da indústria da alta relojoaria era a Baselworld. Acontecia na Basileia, também na Suíça, no mês de abril, era a maior de todas e mais democrática. Reunia marcas de entrada, e também algumas consagradas, como Rolex e Patek Phillipe.

Assim, quem acompanhava o setor se deslocava duas vezes ao ano para a Suíça: em janeiro para a SIHH em Genebra e em abril para a Baselworld, na Basileia.

Para 2020, uma novidade estava anunciada: a SIHH mudaria de nome para Watches & Wonders (essa nomenculatura já era usada pra eventos menores do grupo) e aconteceria em abril, perto da data da Baselworld. Assim, jornalistas e revendedores só precisariam viajar para a Suíça uma vez por ano para acompanhar os dois salões. Já era uma tentativa de unificar, de certa forma, as ações das maiores manufaturas do mundo.

O “Rolexit” de Baselworld

Mas eis que veio a pandemia e tudo mudou. A Watches & Wonders foi realizada às pressas virtualmente em 2020. Já a Baselworld foi inicialmente adiada para o começo daquele ano e as marcas que participavam de lá fariam então apresentações virtuais independentes.

Até que aconteceu o que ficou apelidado de “Rolexit”, a saída de cinco grandes maisons da Baselworld para se juntar à Watches & Wonders. São elas a Rolex e sua segunda marca, Tudor, além de Patek Phillipe, Chopard e Chanel. A Baselworld então foi enterrada de vez.

Alguns salões locais continuam sendo realizados, como o Watches & Wonders para o mercado de Xangai e o LVMH Watch Week, com as quatro marcas do conglomerado francês. Mas não têm o alcance agora da feira em Genebra. Por isso pode-se dizer que é o salão mais relevante de todos - e a edição deste ano, pelo alcance e pela volta do mercado asiático, o mais importante até agora.

  • o jornalista viajou a convite da organização do Watches & Wonders

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