Neymar em partida contra o Lyon em julho de 2020: por que o jogador ainda é odiado por parte dos torcedores, mesmo estando em boa fase dentro e fora de campo? (Catherine Steenkeste/Getty Images)
Guilherme Dearo
Publicado em 17 de agosto de 2020 às 12h31.
Última atualização em 17 de agosto de 2020 às 12h32.
Seja em um bate-papo de bar entre amigos ou em uma conversa na internet nas redes sociais, o assunto Neymar gera sempre muito debate, com diversos comentários positivos e também negativos em relação a ele. Amado por uns e odiado por outros, o atacante brasileiro do Paris Saint-Germain divide opiniões e sentimentos. Em sua terceira temporada pelo time francês, ele está a dois jogos de conquistar a tão sonhada Liga dos Campeões da Europa e se tornar um herói no clube. No entanto, mesmo com bom desempenho em campo e menos polêmicas fora dele, Neymar ainda é contestado por parte das pessoas.
Se vencer o Leipzig, da Alemanha, amanhã (18) às 16h (horário de Brasília), no estádio da Luz, em Lisboa, o PSG chega à final da Champions League pela primeira vez em sua história. Depois de lesionar o quinto metatarso do pé direito por dois anos seguidos e desfalcar a equipe nos momentos decisivos da competição, Neymar tem papel fundamental nesta edição atual do torneio. Nas oitavas-de-final, fez um dos gols na vitória sobre o Borussia Dortmund, por 2 a 0, resultado que garantiu a classificação no jogo de volta. Nas quartas-de-final, na última quarta-feira, criou as principais jogadas na emocionante virada sobre a Atalanta, por 2 a 1, apesar de ter desperdiçado chances de gol.
Em conversas da reportagem da CASUAL com torcedores pelas ruas da capital portuguesa, a divisão entre amor e ódio fica clara. “O Neymar está mostrando nesta temporada que pode ser o melhor jogador do mundo, está jogando muita bola”, elogiam alguns. “O Neymar não vale os milhões que foram pagos por ele, se machucou muito, e o Mbappé é melhor que ele”, reclamam outros.
O jornalista francês Eric Frosio, que mora no Rio de Janeiro, escreveu o livro “Neymar, o Príncipe do Brasil” e acompanha de perto a carreira do jogador, deu a sua explicação sobre o motivo pelo qual muitas pessoas na França não gostam do atacante brasileiro.
“Eu acho que o francês não gosta muito da ostentação, das polêmicas e de aparecer muito. Então, o Neymar chegou e teve esse comportamento, de ostentar o poder, o dinheiro, carros, tudo isso não pegou muito bem, não é do costume dos franceses. E também ao mesmo tempo o Neymar não fez nada para interagir com o povo francês, não deu muitas entrevistas, até agora não fala muito bem francês, acho que ele não conhece muito bem a história do PSG, não passava muito tempo em Paris. Tudo isso fez com que ele se afastasse dos torcedores. Então, entre as lesões, as polêmicas, as festas de aniversário, o fato de ele render muito pouco na Liga dos Campeões, fazia ele ser criticado pelo torcedor francês”, disse Eric.
“Acho que o torcedor francês gostaria de ver o Neymar se comunicar mais em francês, principalmente quando ele vê o Marquinhos e o Thiago Silva darem entrevistas em francês depois de uma temporada ou até menos. Hoje no Lyon temos o exemplo do Bruno Guimarães, que acabou de chegar em já está conversando em francês com os companheiros, com a torcida. Acho que o Neymar se comunica pouco com o torcedor, mesmo em português, ele poderia interagir mais, conversar mais com a imprensa. Na história do PSG, o Raí por exemplo, ele saía em Paris, andava de metrô, ia aos museus, fazia tudo como um parisiense de verdade. Hoje, claro que a realidade é diferente, o Neymar não poderia andar de metrô, mas pelo menos falar do carinho que tem pela cidade. Agora ele está fazendo isso mais, há pouco tempo ele publicou uma foto em frente à Torre Eiffel, ao Arco do Triunfo, e tudo isso está ilustrando o carinho que ele tem cada vez mais pela cidade, pelo clube, e ele está rendendo mais dentro do campo”, completa.
Neymar chegou a Paris em agosto de 2017, contratado junto ao Barcelona por 222 milhões de euros, na transferência mais cara do futebol. Nos primeiros meses, se envolveu em uma polêmica com o uruguaio Cavani, ídolo da torcida, sobre quem seria o cobrador oficial de pênaltis. A postura às vezes provocadora e debochada nos jogos também irritou adversários. No segundo ano, o atleta foi acusado de estupro por uma mulher brasileira em um hotel na capital francesa, mas acabou inocentado pela Justiça. A fama de “cai cai”, por causa de suas constantes quedas no gramado contribuiu para piorar a imagem. E apesar dos gols, assistências e títulos nos campeonatos nacionais da França, as lesões fizeram com que ele ficasse fora das eliminações nas oitavas-de-final da Champions League, em 2018, contra o Real Madrid, e em 2019, contra o Manchester United.
Mas o motivo da maior irritação dos torcedores do Paris aconteceu no meio do ano passado, quando Neymar manifestou sua vontade de voltar a atuar pelo Barcelona. Mas diretoria do PSG fez jogo duro, a negociação não deu certo, e o brasileiro começou a ser vaiado dentro do próprio estádio do time. Na partida contra o Strasbourg, quando ele fez no último minuto o gol da vitória por 1 a 0, além das vaias, a torcida levou cartazes com xingamentos ao Parque dos Príncipes.
“Quando mais precisamos do Neymar em campo, nos jogos mais difíceis da Liga dos Campeões, ele não estava presente. Sei que as lesões podem não ter sido culpa dele, mas a postura dele não é legal. Ele quis sair do PSG para voltar à Espanha e não respeitou o nosso clube”, afirmou o torcedor parisiense Julien Perret.
Depois tentativa frustrada de sair da França, porém, Neymar parece ter mudado de postura. Falando menos e jogando mais, com um comportamento mais tranquilo, aos poucos ele foi reconquistando os fãs nesta temporada, na qual ele já tem 19 gols e 11 assistências em 25 jogos disputados. Agora com o clube na semifinal da Liga dos Campeões pela segunda vez na história, repetindo o feito de 1995 quando o time contava com Raí, os elogios e aplausos só aumentam. Principalmente o público mais jovem, idolatra o camisa dez.
“O Neymar está mostrando este ano que é um gênio, que pode sim ser o sucessor de Messi e Cristiano Ronaldo. Claro que ainda precisa ganhar títulos e ter uma sequência maior, mas com a cabeça no lugar ele tem uma qualidade incrível”, analisou outro torcedor do PSG, Nicolas Gallet.
As redes sociais também são um reflexo desta divergência de opiniões sobre Neymar. Postagens e comentários no Twitter e Instagram mostram bem isso, seja para o bem ou para o mal. Na última semana, houve uma descontraída movimentação para que o atacante cortasse o cabelo no estilo moicano, como fazia antigamente. O atacante entrou na brincadeira, atendeu aos pedidos e apareceu para o duelo contra a Atalanta com o penteado. Se for um lado o jeito Neymar de ser incomoda alguns, por outro a personalidade alegre conquista outros. O craque brasileiro é um dos principais responsáveis pelo bom ambiente e a união do elenco do Paris Saint-Germain nesta temporada 2019/2020, tendo promovido jantares e encontros com os demais jogadores em sua casa nos arredores da capital francesa.
Em entrevista em Lisboa, o técnico Thomas Tuchel destacou o papel de liderança exercido pelo camisa dez no PSG.
“O Neymar é um líder do time, desde que eu cheguei. Só que ele é um líder diferente do que todo mundo pensa. Ele é líder com sua qualidade, confiança, coragem, e isso reflete em todo o grupo dentro de campo. Ele tem uma capacidade incrível em grandes jogos e ama esses momentos de decisão em campo. Nós construímos um elenco que sabe dividir as responsabilidades. Navas, Sarabia, Herrera são casos de reforços experientes que entendem o papel de cada um. Todo elenco ajuda com um pouco. O Neymar não pode ganhar tudo sozinho”, afirmou Tuchel.
Para concretizar essa evolução em seu terceiro ano no PSG, ser considerado um herói em Paris e ter cada vez mais amantes do que odiadores no planeta bola, Neymar precisa brilhar em apenas mais duas partidas esta semana em Portugal, mas diante de adversários difíceis. Na semifinal dessa terça-feira, contra os alemães do Leipzig; e na grande decisão de domingo, diante do vencedor de Bayern de Munique e Lyon, em duelo que vale a taça do principal torneio de clubes da Europa.