Vivian Leigh e Hattie McDaniel em cena do filme "E o Vento Levou": após controvérsias, HBO Max retirou temporariamente filme de seu catálogo (HBO Max/Divulgação)
Guilherme Dearo
Publicado em 10 de junho de 2020 às 17h58.
Última atualização em 10 de junho de 2020 às 18h44.
O filme de 1939 E o Vento Levou, do diretor Victor Fleming, é considerado um dos maiores clássicos do cinema de Hollywood. A película levou oito Oscar para casa em 1940, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz para Vivian Leigh. A cerimônia do Oscar daquele ano também entrou para a história porque a atriz negra Hattie McDaniel, que interpreta a escrava Mammy no filme, levou uma estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante. Foi a primeira pessoa negra a ganhar um Oscar.
O marco estabelecido por McDaniel não impediu que o filme, ao longo das décadas, fosse considerado racista. Para os críticos, Gone With The Wind trata com extrema condescendência a Guerra Civil Americana do ponto de vista sulista (que queria manter a escravidão no país) e tem visão caricata dos negros, além de usar termos como "darkie". Além disso, a produção do filme não foi em nada inclusiva: os atores negros não puderam participar da noite de estreia e também foram eliminados dos cartazes de divulgação da época.
O Oscar dado a McDaniel também não refletiu qualquer progressismo ou antirracismo que pudesse haver na época, pelo contrário. Naquela ocasião, a cerimônia de entrega das estatuetas acontecia no Ambassador Hotel, em Los Angeles, um hotel segregado e que não permitia negros, hóspedes ou visitantes. A Academia de Hollywood precisou intervir para que aceitassem a presença de McDaniel na festa. Mesmo assim, ela foi colocada em uma mesa segregada, no fundo do salão — não na frente, onde ficariam os demais indicados da noite.
Nessa semana, o produtor e escritor negro John Ridley, que levou um Oscar por Doze Anos de Escravidão, retomou a controvérsia em torno do filme em uma coluna escrita no jornal Los Angeles Times. Ele argumentou que a produção não só ignora o horror da escravidão da época como perpetua estereótipos do povo negro. Seja em 1939, seja em 2020, ele não "passa no teste" quando a questão é racismo. Ridley direcionou seu texto de opinião diretamente à HBO e, já no título, pediu que ela retirasse o filme do ar.
Depois do texto, a HBO Max, nova plataforma de streaming da WarnerMedia (ainda não disponível no Brasil), retirou E o Vento Levou de seu catálogo online. A saída do conteúdo é temporária. Para disponibilizar novamente o filme na plataforma, a empresa colocará um aviso inicial no conteúdo, advertindo que ele representa uma visão problemática da época e que deve ser visto dentro de seu contexto social.
Um representante da WarnerMedia disse: "E o Vento Levou é um produto de seu tempo e mostra alguns preconceitos raciais e étnicos que têm, infelizmente, encontrado reverberação na sociedade americana. Essas representações racistas eram erradas naquela época e são erradas agora, e nós sentimos que manter esse título no catálogo sem uma explicação adequada e uma denúncia desses retratos seria irresponsável".