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Por que a construção da imagem de poder de Kamala Harris é tão importante?

Semiótica do poder: como a imagem da primeira vice-presidente norte-americana é significativa para a história e para quem a vê?

Kamala Harris é empossada como vice-presidente dos EUA.  (Kevin Lamarque/Reuters)

Kamala Harris é empossada como vice-presidente dos EUA. (Kevin Lamarque/Reuters)

Publicado em 21 de janeiro de 2021 às 12h08.

Última atualização em 27 de setembro de 2024 às 09h31.

Estampar a capa de uma revista de moda com uma produção casual poderia não significar nada. Ou melhor: poderia não dizer tanto ao mundo. Isso se na imagem editorial não fosse Kamala Harris, uma das mulheres mais importantes da atual política dos Estados Unidos (para não dizer do mundo), e, também, se não fôssemos uma sociedade pautada pelo poder da aparência. Poder este, inclusive, que está nos holofotes quando pensamos num momento de uma crise política e do símbolo de uma minoria que chegou ao comando da maior nação do mundo. 

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Longe de estar na posição de celebridade vestindo a última tendência da passarela, Kamala foi a personagem do mês de fevereiro da icônica Vogue, referência editorial no segmento. Até aqui, nada de polêmico ou inovador no aceite do convite, pois outras mulheres poderosas da política disseram sim anteriormente, incluindo a primeira-ministra britânica Theresa May, a ex-primeira-dama Michelle Obama e a vereadora Hillary Clinton.

O que distancia essas mulheres de Kamala Harris é a imagem construída do poder frente às câmeras. Enquanto algumas tiveram seu espaço para vestir e celebrar a sua posição de destaque, a atual vice-presidente teve todos os símbolos equiparados aos de uma cidadã comum. Na capa que foi às bancas tendo a política como persona sob holofotes: blazer acetinado (com uma aparência amarrotada); calça skinny (que não se sabe ao certo se é um tecido de alfaiataria ou jeans); camiseta branca e um tênis converse preto. O problema, claro, não está em ser uma cidadã comum. Pelo contrário. Isso é o que a aproxima a imagem de líder dos novos tempos. Mas o que gera questionamentos (e polêmica!) é Kamala não ter tido a mesma oportunidade de ocupar seu espaço e mostrar sua força e imagem de preparo e afinidade com o cargo que vai conduzir nos próximos quatro anos. 

Pela primeira vez uma mulher negra está com uma caneta na mão em um cargo executivo de alto escalão. Kamala Harris não está ao lado do homem que vai liderar um país como esposa ou companheira, mas, sim, como uma coautora da jornada política que o presidente Biden vai percorrer pelos próximos quatro anos.  Algo que tem muito peso e sabor de vitórias (além das urnas) quando se pensa nos símbolos que Kamala carrega consigo em termos sociais. E se essa vitória vem com tantas lutas e significados, a imagem de poder construída dessa mulher que representa tanto foi exigida pelos seus seguidores e eleitores como algo que mostra seu poder e força, assim como foi para tantas outras mulheres que tiveram suas imagens estampadas outrora.

A vice-presidente Kamala Harris é capa da edição de fevereiro da revista Vogue norte-americana. (Tyler Mitchell)

Segundo declarações da equipe da vice-presidente norte-americana, a capa aprovada seria a que a política vestia um costume azul-claro, e dotava de uma postura muito mais à altura do seu cargo. A repercussão foi tanta que a edição a equipe, liderada por Anna Wintour, anunciou nesta quarta-feira, dia 21/01, colocar em circulação a capa “poderosa” de Kamala Harris como uma edição especial após a posse de Joe Biden e para celebrar o “momento histórico” a que o país assistiu. Foi justamente no momento da posse que a política reverteu o jogo de imagens. Kamala Harris escolheu a dedo (e de forma muito estratégica) a vestimenta que iria determinar a imagem que vai ficar para os registros históricos. 

Na ocasião, tudo em sintonia com a mensagem que se deseja deixar para a posteridade. A cor violeta não foi aleatória: símbolo de espiritualidade, poder e sobriedade. É a cor que, curiosamente, foi muito empregada na essência histórica do luxo, quando a nobreza tinha nessa tonalidade um instrumento visual eficaz para mostrar o seu poder e diferenciação. É na cor violeta que vemos a junção do rosa com o azul, como se fosse uma chamada emergencial para a equidade de gênero, um sonho já não tão impossível para Kamala Harris, mas ainda ideológico e distante para muitos. Com a cor violeta, a vice-presidente carregou em sua pele, de forma estética, significados e deixou uma mensagem longe de qualquer erro de interpretação: ali existe uma mulher negra, com uma trajetória de lutas e que tem seu poder. E ela exigirá o espaço e o respeito não só pelo cargo que conquistou, mas pelo mundo que tanto sonha – assim como nós!

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