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Por que a China está apostando tanto nos carros elétricos?

O país espera que até 2025 esteja fazendo quase tantos carros totalmente elétricos quanto toda a América do Norte

 (Lorenz Huber/The New York Times)

(Lorenz Huber/The New York Times)

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Matheus Doliveira

Publicado em 25 de maio de 2021 às 06h06.

Última atualização em 25 de maio de 2021 às 14h00.

Zhaoqing, China – A Xpeng Motors, startup chinesa de carros elétricos, abriu recentemente uma grande fábrica de montagem no sudeste da China e está construindo outra semelhante nas proximidades. Além disso, anunciou planos para uma terceira.

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Outra empresa chinesa de carros elétricos, a Nio, abriu uma grande fábrica no centro do país e está se preparando para construir uma segunda a poucos quilômetros de distância.

A Zhejiang Geely, dona da Volvo, mostrou uma nova fábrica de carros elétricos enorme no leste da China, em abril, que rivaliza em tamanho com algumas das maiores fábricas de montagem do mundo. A Evergrande, gigante imobiliária chinesa que enfrenta problemas, acaba de construir fábricas de carros elétricos nas cidades de Xangai e Guangzhou e espera que, até 2025, esteja fazendo quase tantos carros totalmente elétricos quanto toda a América do Norte.

A China está construindo fábricas para carros elétricos quase tão rapidamente quanto o resto do mundo somado. Os fabricantes chineses usam os bilhões que levantaram de investidores internacionais e líderes locais para estar à frente das montadoras estabelecidas no mercado. O sucesso, porém, não está garantido. Entre os atores há startups, fabricantes de eletrônicos e outros novatos da indústria automobilística. Eles estão apostando que os motoristas na China e além estarão dispostos a gastar US$ 40 mil ou mais em marcas das quais nunca tinham ouvido falar.

As montadoras chinesas admitem que a experiência dá às empresas de automóveis estabelecidas algumas vantagens, mas insistem que seus planos funcionarão. "Temos vontade e paciência. Acredito que será muito desafiador, mas devemos avançar", disse He Xiaopeng, presidente e executivo-chefe da Xpeng, em entrevista.

A indústria chinesa tem força. A China fabricará mais de oito milhões de carros elétricos por ano até 2028, estima a LMC Automotive, empresa global de dados, em comparação com um milhão no ano passado. A Europa caminha para a produção de 5,7 milhões de carros totalmente elétricos até lá.

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A General Motors e outras montadoras norte-americanas têm planos para alcançá-las. Em abril, o presidente Joe Biden pediu que os Estados Unidos intensificassem seus esforços com veículos elétricos. Durante uma visita virtual a uma fábrica de ônibus elétricos na Carolina do Sul, ele avisou: "Neste momento, estamos muito atrás da China."

As montadoras norte-americanas preveem a construção de apenas 1,4 milhão de carros elétricos por ano até 2028, de acordo com a LMC, em comparação com 410 mil no ano passado.

As montadoras de todo o mundo estão ajudando na liderança chinesa. A Volkswagen iniciou recentemente a construção de sua terceira fábrica na China, projetada para produzir carros elétricos.

A China já possui a infraestrutura de carros elétricos, graças a um lançamento nacional apoiado pelo governo de mais de 800 mil estações públicas de carregamento. Isso é quase o dobro do resto do mundo, embora os motoristas nos Estados Unidos – que são mais propensos a viver em uma casa com uma única família – possam mais facilmente carregar a bateria em casa.

Com a implantação mais lenta de estações de carregamento fora da China, as montadoras em outros lugares planejam continuar produzindo alguns carros híbridos plug-in com pequenos motores a gasolina por mais alguns anos. No entanto, o mercado de carros totalmente elétricos já é maior do que o desses híbridos, e a liderança dos primeiros está aumentando depressa. Montadoras como a GM planejam eliminar totalmente os motores a gasolina e a diesel nos próximos 15 anos.

Para os novos carros chineses, o reconhecimento das marcas será um grande desafio. Elas não são familiares nem mesmo para os motoristas chineses. Em estradas cheias de automóveis Buick, Volkswagen e Mercedes-Benz, poderiam ter dificuldade para se destacar.

O Alibaba, grupo de empresas de comércio eletrônico, e duas empresas apoiadas pelo Estado criaram uma joint venture de carros elétricos com o nome IM Motors, e planejam começar a vender carros no início do ano que vem.

A Evergrande batizou sua marca de Hengchi. A mania do mercado de ações pelo segmento ajudou as ações negociadas em Hong Kong da unidade de carros elétricos da empresa, a Evergrande New Energy Vehicle, a atingir quase a mesma capitalização de mercado da GM. Há planos de produzir e vender um milhão de carros totalmente elétricos por ano até 2025. Até agora, não vendeu nenhum.

A Geely, veterana da indústria com marcas reconhecidas na China, batizou sua marca elétrica de Zeekr, e planeja começar a entregar carros em outubro.

O Zeekr está sendo feito em uma nova fábrica de carros elétricos perto de Ningbo, na costa leste da China, espaço cavernoso com quilômetros de correias transportadoras brancas e fileiras de robôs de quatro metros e meio feitos pela ABB da Suécia. Tem uma capacidade inicial de produção de 300 mil carros por ano, maior do que a maioria das fábricas de automóveis em Detroit, e espaço para expansão. "O mais importante é que a China tem o mercado", disse Zhao Chunlin, gerente geral da fábrica.

He Xiaopeng chamou sua montadora de Xpeng em homenagem a si mesmo. O recurso de nicho da Xpeng é um assistente de voz, semelhante à Siri, que guia os serviços de internet do carro, como trajetos e música, e sua direção assistida por computador. A empresa planeja ter capacidade de fazer 300 mil carros por ano até 2024; no ano passado vendeu menos de um décimo disso.

Autoridades do governo chinês ajudaram no processo. Uma empresa estatal em Zhaoqing, cidade milenar perto de Guangzhou, emprestou US$ 233 milhões à Xpeng em 2017 para a construção de sua primeira fábrica com capacidade anual de cerca de cem mil carros. A cidade subsidia os pagamentos de juros da empresa desde então, de acordo com os registros regulatórios da Xpeng.

A cidade de Wuhan ajudou a Xpeng a comprar terras e a tomar dinheiro emprestado com baixas taxas de juros para uma nova fábrica lá. O governo de Guangzhou também facilitou a construção de uma fábrica na cidade, de acordo com Brian Gu, vice-executivo-chefe e presidente da Xpeng.

No ano passado, depois de enfrentar a pandemia, a Xpeng veio para Wall Street, onde a ascensão da Tesla aguçou o apetite dos investidores na indústria. A empresa chinesa levantou US$ 5 bilhões em uma oferta pública inicial e subsequentes vendas de ações. Está gastando parte do dinheiro em novas fábricas e a outra parte em pesquisa e desenvolvimento, particularmente em carros autônomos.

Os bolsos recheados da Xpeng são visíveis na cara automação existente em sua fábrica de Zhaoqing. Robôs levantam capôs de vidro escuro de 20 kg e aplicam cola aeroespacial para prendê-los. Outros autômatos de pouco mais de um metro de altura deslizam pelo piso de concreto cinza carregando painéis de instrumentos, ao mesmo tempo que tocam uma versão instrumental de "My Heart Will Go On", de Céline Dion. (Eles vieram programados dessa forma, explicaram os funcionários da empresa.)

A fábrica levou apenas 15 meses para ser construída, consideravelmente mais depressa que no Ocidente. Yan Hui, gerente geral da área final da linha de montagem da fábrica, declarou que as decisões foram tomadas mais rapidamente do que na fabricante alemã de autopeças, onde ele trabalhava. "Qualquer mudança de design levava muito tempo – assinar, assinar, até assinar em alemão; mas na Xpeng podemos simplesmente fazer a mudança."

Embora muitas das marcas de carros elétricos sejam novas na China, seus proprietários já têm ambições no exterior. A Xpeng está iniciando a exportação de carros para a Europa, a começar pela Noruega. A Chery, grande montadora estatal no centro da China, anunciou na semana passada que começaria a exportar carros movidos a gasolina para os Estados Unidos no ano que vem e seguiria com carros elétricos.

Os Estados Unidos serão um mercado difícil. O governo Trump impôs 25 por cento de impostos em 2018 sobre carros importados da China, o que desacelerou as exportações. Muitas peças de carros elétricos são cobertas pelas mesmas tarifas. Isso torna mais difícil, mas não impossível, que as empresas chinesas comecem a enviar carros elétricos em kits, para que sejam montados nos Estados Unidos.

Por enquanto, as empresas chinesas veem um enorme potencial para desenvolver suas marcas. Michael Dunne, executivo-chefe da ZoZo Go, empresa de consultoria especializada na indústria de carros elétricos na Ásia, disse que as perspectivas do setor estavam ficando claras: "A China terá o domínio global no que diz respeito à fabricação de carros elétricos."

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