(Bandai/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de dezembro de 2022 às 19h30.
A cultura dos anos 1990 voltou com tudo: estética, música e até a forma de vestir estão buscando as referências da virada do milênio. Agora, a moda da vez é entre os pequenos: os bichinhos virtuais — ou Tamagotchis —, pequenos aparelhinhos em que é preciso cuidar de um pet digital, são os novos desejos de consumo das crianças neste fim de ano.
Amanda Luiza, de 7 anos, ficou encantada com o bichinho virtual. Ela ganhou o brinquedo em outubro passado e se tornou uma mini especialista sobre o aparelhinho em casa. Com a mãe, Claudia Pinheiro, a menina descobriu um brinquedo bem diferente de um smartphone.
“Ela ganhou (o bichinho virtual) de Dia das Crianças porque eu lembrei da época que o meu sobrinho tinha. Vi que ia ter o lançamento do Tamagotchi de novo, e imaginei que ela fosse ficar super empolgada”, conta Claudia, que ajuda a filha a dar “comida” e “remédios” ao pet digital.
O Tamagotchi, nome original do brinquedo, é uma criação da empresa japonesa Bandai e surgiu em 1996, antes de os smartphones serem opção de brinquedo para crianças.
Com centenas de opções de animais para cuidar, o bichinho virtual dá aos “donos” a missão de gerenciar a vida do pet: é preciso alimentar, dar injeções, colocar para dormir e fazer atividades físicas com o animalzinho para que ele sobreviva.
Alguns modelos possuem, inclusive, sinalização sonora para avisar quando precisa de alguma coisa — e eles apitam independentemente da hora do dia.
Ser “pai de pet” virtual é mais uma das tarefas que Cleiton Cruz de 36 anos, sabe bem o que é. Quando criança, o empresário também fez parte da turma que alimentava e passeava com o bichinho. Agora, é o Tamagotchi da filha Clarice, de 4 anos, que o faz voltar para a infância.
“A gente entrou em uma loja infantil e ela ficou encantada com o bichinho. Mas quem mais se diverte sou eu. Quando o bichinho apita, ela vai ver e chamar a gente para ajudá-la a cuidar do Tamagotchi”, aponta Cruz.
Segundo André Pase, professor de comunicação digital da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), a volta dos bichinhos virtuais é uma das tendências dos anos 1990 na prateleira dos clássicos passados de pai para filho por ter marcado toda uma geração.
“Ele já é um brinquedo tradicional, já faz parte da cultura. E esse tom tecnológico o ressalta como uma coisa com que a molecada já lida bem”, explica Pase. “Ele demanda que você fique todo tempo mexendo nele, interagindo na rotina dele. É um eletrônico feito para ser chaveiro na mochila, então também tem essa coisa de ficar apegado porque ele é feito para brincar com você.”
Foi o que aconteceu com Lucas, de 5 anos, filho de Angela da Silva Campos, de 38 anos. O interesse veio do brinquedo parado na estante de casa. A mãe tinha um exemplar guardado que despertou a curiosidade do pequeno. “Foi engraçado quando ele encontrou o aparelho, porque pensou que era um relógio”, afirma Angela. “Fui mostrar que era um brinquedo e ele agora se diverte”.
Como Cruz e Claudia, Angela prefere que o filho se distraia com o bichinho virtual por conseguir saber exatamente qual é a interação de Lucas com o aparelho, mesmo que às vezes seja necessário um empurrãozinho para relembrar a graça do brinquedo. Isso porque, diferentemente dos celulares, por exemplo, em que variados conteúdos podem ser acessados, o dispositivo não tem conexão à internet nem outros aplicativos vinculados — é um pet virtual e nada mais.
Assim como nos anos 1990, há várias lojas que oferecem o bichinho virtual a um leque de preços que pode variar de acordo com o material, fabricação e funções do Tamagotchi.
A fabricante japonesa, por exemplo, relançou o bichinho virtual no fim do ano passado acoplado a uma pulseira para ser vestida como um relógio pela criançada. Outra novidade é a tela colorida avanço em relação às décadas passadas.
O brinquedo retornou ao mercado por US$ 60 (por volta de R$ 318). Aqui no Brasil, assim como nos anos 1990, é possível encontrar os dispositivos não originais com preços a partir de R$ 20. Mas, para quem quer o autêntico Tamagotchi, ou uma variação mais rebuscada, o valor desembolsado pode chegar a R$ 485.
Para comprar um modelo neste fim de ano ainda é preciso ficar atento aos canais e lojas de compras. Os exemplares, além do preço elevado, também estão em falta nas lojas nas últimas semanas por conta da alta demanda.
“Fiz uma pesquisa para saber onde estava à venda e, o que eu vi, tinha uns quatro modelinhos disponíveis. A Amanda escolheu um e compramos. Foi pela internet e chegou aqui em casa no prazo”, diz Claudia.
Uma rápida pesquisa por lojas online mostra a tendência do brinquedo. Na Amazon, dois modelos aparecem na lista dos 100 brinquedos eletrônicos mais vendidos pela empresa na semana que antecede o Natal — os dois entraram no marketplace no segundo semestre do ano.
Já no Mercado Livre, o aparelho aparece em segundo lugar no ranking de “brinquedos eletrônicos” mais populares. A lista inclui outros tipos de brinquedos, como laptops e tablets infantis.
O conceito de um bichinho virtual já existe em diversos apps infantis, como Pou, Neopets e Moy. Mas é o Tamagotchi, um aparelho dedicado, que chama a atenção de uma geração que nasceu conectada à internet. De acordo com Pase, além do visual do aparelho, existe uma relação de estímulo e resposta muito rápida para quem está cuidando do bichinho.
“Boa parte dos brinquedos traz uma recompensa que talvez possa vir, a depender de como você joga ou o nível de dificuldade do jogo. No Tamagotchi, isso é instantâneo. Se você alimentar o pet ele vai ficar feliz. É uma mecânica muito boa”, avalia o especialista.
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