Mario Vargas Llosa: Vargas Llosa começou a escrever "A cidade e os cachorros" em Madri, em 1958, e a terminou em 1961 em Paris (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de dezembro de 2013 às 09h49.
Lima - Para festejar os 50 anos da publicação do romance "A cidade e os cachorros", que marcou a estreia do escritor peruano Mario Vargas Llosa, a Casa da Literatura Peruana inaugurou na semana passada um congresso e uma exposição em sua homenagem.
A mostra "O poder é cada indivíduo. Rotas de A cidade e os cachorros" ocupa três salas da instituição, onde antigamente funcionava uma estação de trens. Pelos espaços é possível observar uma montagem fotográfica de Lima da década de 50 junto a fragmentos da obra, comentários e vídeos.
Mario Vargas Llosa começou a escrever "A cidade e os cachorros" em Madri, em 1958, e a terminou em 1961 em Paris, a partir de sua experiência no colégio militar Leôncio Prado, em Lima.
O romance se desenvolve em um ambiente juvenil e nele convergem diversas realidades que giram em torno de temas como o abuso de poder, a disciplina militar e a masculinidade.
Diana Amaya, curadora da exposição, que fica aberta até 13 de abril de 2014, disse à Agência Efe que sua equipe demorou quatro meses para montar a mostra e que recorreu ao arquivo pessoal de Vargas Llosa. De lá vieram alguns artigos jornalísticos e resenhas sobre seu trabalho.
"Partimos de uma ideia básica ao relacionar o interior das salas com o interior do livro. O que ele narra, o conteúdo, tanto o trabalho formal, a linguagem como a história propriamente dita. E o exterior por assim dizer, o exterior do romance: os comentários, a recepção e as impressões que causou ao longo dos anos", detalhou Diana.
Para a curadora, os fragmentos exibidos se destacam pela "estética, qualidade no trabalho com a linguagem e por seu significado".
"A cidade e os cachorros" esteve envolvido em polêmicas desde que foi lançado. O alto escalão militar se mostrou descontente pela imagem que o livro apresentava da instituição. Inclusive, há rumores de que foram queimados mil exemplares no colégio Leôncio Prado para mostrar a rejeição ao livro, lembrou a curadora.
"A sociedade se apresenta convulsionada. Não são só os críticos literários, mas o privilégio militar. De repente ameaçam com processo (a Vargas Llosa). Existem histórias de que queimaram exemplares do romance", disse.
O presidente do congresso sobre Vargas Llosa, inaugurado ontem à noite, Agustín Prado, declarou à Efe que "A cidade e os cachorros" é um livro vigente "por seu frescor" e por ser uma "radiografia" da Lima dessa época.
"É um romance muito moderno. Utilizava novas técnicas, desafiava o leitor, mas contava uma história tradicional", explicou Prado.
Esta obra de Vargas Llosa, que foi traduzida para dezenas de idiomas e que representou o início do "boom" latino-americano junto dos romances de Julio Cortázar, Gabriel García Márquez e Carlos Fuentes, marcou o estilo realista do escritor a partir de suas vivências, analisou Prado.
"Em "A cidade e os cachorros" são encontrados certos elementos como o poder, os aspectos das hierarquias, como as pessoas se submetem ou se sublevam as hierarquias, e esse é o aspecto que confere universalidade à obra de Vargas Llosa", argumentou.
"Um leitor estrangeiro pode se identificar com os cadetes do colégio militar, com suas experiências sentimentais e com os poderes que podem encontrar em sua vida", ressaltou.