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Peça 'Amores Difíceis' ganha versão ao vivo em transmissão pela internet

Plataforma Zoom transmitirá a peça com direito a plateia, interatividade e três monólogos diversos apresentados em dias alternados

Amores difíceis: mesmo antes da estreia, atores e diretores da peça pretendem explorar a plataforma para futuros trabalhos (NurPhoto/Getty Images)

Amores difíceis: mesmo antes da estreia, atores e diretores da peça pretendem explorar a plataforma para futuros trabalhos (NurPhoto/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de abril de 2020 às 17h48.

De um jeito ou de outro, a vida sempre flerta com o fantástico, e Italo Calvino sabia disso. De 1949 a 1967, o italiano dedicou-se a encontrar um lado mais mecânico da escrita, atento e obsessivo na descrição de detalhes. Sentir o peso do silêncio era mais importante que preenchê-lo. Como grande fabulador, a imaginação fornecia ritmo na composição de um pequeno universo conectado. E o protagonista? O amor.

A coletânea de contos Os Amores Difíceis já surgiu irônica no título. Textos curtos e novelas sobre as desventuras de quem porta afeto consigo e não encontra jeito de comunicá-lo. Se encontra, algum infortúnio da vida trata de embaralhar as cartas novamente. É uma sensação que atingiu a equipe do espetáculo Amores Difíceis. Neste sábado, 2, a montagem ganha temporada em versão online e ao vivo, por videoconferência na plataforma Zoom com direito a plateia, interatividade e três monólogos diversos em dias alternados. Para participar é preciso enviar mensagem para @amoresdificeis.

Meses atrás, esta notícia teria um tratamento mais tradicional, como foi quando a peça estreou no Teatro de Contêiner, lembra a diretora Tatiana Rehder. "O trabalho falava sobre os obstáculos e as dificuldades, muitas delas cômicas, sobre o amor", diz. "Após temporadas nos últimos anos, nos reunimos para planejar a estreia em 2020, quando todos fomos surpreendidos com a pandemia."

Entre as categorias ou as classes de artistas, os que trabalham no palco talvez estejam entre os mais afetados neste período, diante de profissionais nativos da televisão, por exemplo. No entanto, como o coronavírus não faz diferença entre vítimas, o formato da telinha acabou nivelando a todos. "Mas não queríamos algo gravado, ou mesmo no formato de uma live", comenta a diretora. "O interessante seria descobrir uma maneira para que a experiência teatral fosse mantida, como chegar ao teatro e aguardar o início da peça e receber o ingresso, que nesse caso é um link", continua.

Pela internet, a pandemia deixa um impacto que já influencia os formatos de se contar uma história online. Levando em conta que dramas inéditos e a paixão do melodrama vão levar algum tempo para serem vistos, haveria chance para esquetes e para o humor? De certa forma, é um princípio que guia Amores Difíceis. Na estreia do palco, as atrizes interagiam com histórias. "Era tudo escancarado, às vistas do público, a troca do figurino, a manipulação dos elementos de luz e cenário", lembra a atriz Isadora Petrin. Na nova versão, foi preciso, antes de tudo, confinar as narrativas. "Tivemos que escolher quais histórias iríamos contar", aponta Rehder. O motivo se dá para evitar possíveis problemas de transmissão que poderiam atrapalhar a fruição dos diálogos. O caminho foi desenvolver três solos, com duração de cerca de 25 minutos, apresentados em dias alternados.

O texto Julieta abre a temporada, sobre uma moça que sempre sonhou interpretar o papel da jovem shakespeariana, embora lhe falte algo, essencial, no mínimo. "Ela não tem um Romeu", afirma a atriz Isadora. Na encenação presencial, o problema era pretexto para uma solução criativa. A atriz oferecia a oportunidade para alguém da plateia encarnar o amado de Julieta. "Agora aproveitamos os recursos do chat. Convidaremos alguém da plateia para participar", explica.

Durante os ensaios, as artistas recriaram cômodos de suas casas, redefiniram figurinos e cenários. Para Isadora, a preparação para atuar no palco não é substituída na montagem online "Faço todo meu aquecimento normalmente." No entanto, com o recorte horizontal da câmera do computador, a interpretação é adaptada para caber nesse plano. "Apesar de ser um enquadramento de televisão, não temos close ou outros ângulos como no cinema. A minha impressão é de que não é televisão, tampouco live. É um outro lugar." A voz também precisa de um tratamento, considerando o local do microfone, a distância e o volume. "No teatro, nossa volta tem outro tipo de alcance. Não é preciso falar tão alto agora, já que pode haver distorções e ruídos", aponta a atriz.

O solo seguinte se chama A Banhista, também com Isadora, que narra a situação cômica de uma mulher que toma um banho de mar e perde parte do biquíni. "Ela fica refletindo como vai sair de lá com a praia cheia de gente", conta. "A plataforma também nos oferece a chance de mudar fundos e aplicar cenários diferentes, como o de uma praia." Por último, entra em cartaz A Viajante, com Andrea Serrano. Na história, uma mulher deseja se apaixonar. Ela embarca em um cruzeiro de carnaval e encontra o alvo de seu amor. "Agora tenta fazer tudo para encontrar o rapaz", diz Rehder.

O projeto de Amores Difíceis ainda nem estreou na plataforma, mas já deixou a equipe com vontade de mais. Para a diretora, um caminho de pesquisa se revelou para elas. "É mais que fazer uma peça online. Estamos aprendendo e descobrindo recursos narrativos que certamente vão compor as nossas ferramentas, seja no palco, no online, perto ou longe da plateia", ressalta ela.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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