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Paraíso vitivinícola reduzido a cinzas por incêndios na Califórnia

Incêndio consumiu um restaurante de 3 estrelas Michelin e vinícolas como o Chateau Boswell, ao mesmo tempo em que arruinou vinhedos

Ruínas de Calistoga Ranch, na zona vitivinícola de Califórnia, após o incêndio (AFP/AFP)

Ruínas de Calistoga Ranch, na zona vitivinícola de Califórnia, após o incêndio (AFP/AFP)

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Daniel Salles

Publicado em 2 de outubro de 2020 às 09h39.

Última atualização em 5 de outubro de 2020 às 11h05.

A trilha Silverado, uma pequena rota que percorre os famosos vinhedos do Napa Valley, na Califórnia, um paraíso para os amantes do vinho, foi praticamente reduzida a cinzas em meio aos devastadores incêndios que assolam este estado na costa oeste dos Estados Unidos.

O incêndio batizado de "Glass Fire" consumiu um restaurante de três estrelas Michelin e vinícolas como o Chateau Boswell, ao mesmo tempo em que a fumaça arruinou lindos vinhedos.

Pelo menos uma dúzia de vinícolas foram queimadas desde o início do incêndio, que esta semana devastou mais de 20.000 hectares.

A costa oeste dos Estados Unidos está passando por uma temporada recorde de incêndios, com cinco dos seis maiores incêndios da história em andamento, que já devastaram mais de 1,6 milhão de hectares.

Na última quarta-feira, em Calistoga, o esqueleto de um trailer estava em uma clareira fumegante próximo a um velho Packard com a tinta derretida no capô.

E enquanto a fumaça subia das colinas, os bombeiros tentavam apagar as chamas.

As adegas e armazéns que ainda estavam de pé foram fechados, sem visitantes diante das ordens de evacuação de toda a área.

Na entrada do complexo hoteleiro Meadowood, onde o chef Christopher Kostow conseguiu três estrelas Michelin para seu restaurante, um agente de segurança fica de guarda.

Carcaça de um carro de golfe é vista no Calistoga Ranch em Calistoga, em Napa Valley, na Califórnia (AFP/AFP)

Apesar de outras partes do complexo não terem sido atingidas pelas chamas, não sobrou nada do restaurante, embora a casa do chef tenha se salvado do fogo.

"Perder seu restaurante e sua casa teria sido um golpe duplo que ninguém seria capaz de aguentar", declarou o prefeito de Calistoga, Chris Canning, após visitar a casa de Kostow, que foi evacuado da área.

120.000 garrafas
No Calistoga Ranch, que oferece aos hóspedes uma piscina, um lago e trilhas para caminhadas, as chamas saem dos canos de gás das ruínas de luxuosas casas móveis.

Carcaça de um carro de golfe é vista no Calistoga Ranch em Calistoga, em Napa Valley, na Califórnia
"Não se parece com nenhum local de casas móveis que você já viu", relata o bombeiro Matt Macdonald, da vizinha Sonoma, enquanto olhava para a paisagem ainda cheia de fumaça.

Perto de uma placa de estacionamento estavam os restos de carrinhos de golfe, usados pelos hóspedes para passear pela propriedade, destruídos por um incêndio.

"É tudo muito triste", afirmou um xerife do condado de Napa enquanto observava um vinhedo situado na trilha de Silverado.

"As pessoas que vêm aqui têm suas próprias memórias, geralmente sobre uma vinícola que amam porque se tornou especial para elas", acrescentou.

Em Calistoga, o chefe da vinícola Castello di Amorosa desafiou a fumaça e as chamas para conseguir avaliar os danos à propriedade.

O fogo consumiu uma construção de pedra onde o vinho era armazenado, mas poupou um falso castelo medieval italiano construído com materiais trazidos da Europa.

Segundo o proprietário Dario Sattui, cerca de 120.000 garrafas de vinho foram perdidas, avaliadas em US$ 5 milhões, enquanto a restauração do prédio deve custar entre US$ 10 e US$ 12 milhões.

O complexo de Calistoga, um destino conhecido desde 1886 e que recebe mais de um milhão de visitantes, é conhecido por suas fontes de águas termais, banhos de argila e rotas do vinho.

Os cerca de 5.200 moradores da região foram evacuados e, apesar de rodeadas pelo fogo, as vinhas, verdes e sem mato, conseguiram frear as chamas na ausência de ventos fortes.

O turismo, já bastante afetado pela pandemia do novo coronavírus, é duplamente atingido pelo fogo.

"2020 está sendo péssimo, quero que esse ano termine", lamenta Canning.

"Nós vamos superar isso, mas vamos garantir que tudo aconteça em 2020 para que possamos descansar nos próximos anos", finaliza.

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