Brad Pitt: ator americano (Divulgação/Fonte padrão)
EFE
Publicado em 19 de setembro de 2019 às 11h49.
Depois de ter superado várias crises pessoais e dependências, Brad Pitt volta a demonstrar, aos 55 anos, por que é uma das maiores estrelas do cinema mundial.
Com o último filme de Quentin Tarantino, "Era uma Vez em... Hollywood" ainda em cartaz, estreia nesta quinta-feira, nos Estados Unidos, e na semana que vem, no Brasil, "Ad Astra", uma odisseia espacial de James Gray, que questiona os valores associados à masculinidade.
"Crescemos com esta ideia da masculinidade que consiste em ser forte, não mostrar fraqueza, que não te faltem ao respeito... Mas essa ideia é uma prisão que nos impede de aprender com os nossos passos em falso, das nossas áreas mais frágeis, é uma barreira que nos impede de nos abrirmos com os que mais amamos", disse o ator em entrevista à Agência Efe durante a sua passagem pelo Festival de Veneza.
Vestido com camiseta e boné e o braço cheio de pulseiras, Pitt se mostrou amável e próximo com os jornalistas, apesar dos efeitos do 'jetlag', que ele disse tentar combater com um refrigerante de cola na mão.
Em "Ad Astra", o astro de Hollywood interpreta um astronauta que viaja para os limites do sistema solar para buscar o pai (Tommy Lee Jones), que está desaparecido no espaço exterior há anos em uma missão que está colocando a perigo toda a espécie humana.
Pitt é também o produtor do filme, uma faceta que ele vem desenvolvendo há mais de uma década e com a qual conseguiu inclusive mais reconhecimentos que como intérprete: "12 Anos de Escravidão" (2013) e "Moonlight: Sob a Luz do Luar" (2016), produzidas pela Plano B, sua empresa, levaram o Oscar de melhor filme.
"Ad Astra" é um filme de ficção científica espacial, mas o que conta é a história de um homem com um forte bloqueio emocional.
Essa era a ideia, usar a ficção científica para entregar um filme muito íntimo, que é uma viagem obscura da alma de um personagem que, ao se encontrar completamente sozinho, não tem alternativa que não seja enfrentar a si mesmo, sem distrações, se reconciliar com a sua própria luta, sua dor, os seus remorsos e a vergonha que sente de si mesmo.
Atualmente, estamos falando muito sobre feminismo, mas o interessante é que este filme põe sobre a mesa a outra cara da moeda, a crise de valores masculinos.
James (Gray) e eu falamos muito sobre como crescemos com esta ideia da masculinidade que consiste em ser forte, não mostrar fraqueza, que não te faltem ao respeito... Mas essa ideia é uma prisão que nos impede de aprender com os nossos passos em falso, das nossas áreas mais frágeis, é uma barreira que nos impede de nos abrirmos com os que mais amamos.
Nos últimos anos, você superou várias crises pessoais. Isso o ajudou a entender este papel? Você se imagina desempenhando-o em outro momento da vida?
Em todos os filmes, colocamos um toque pessoal. Temos que fazer isso, senão não funciona. Sempre penso no que posso fornecer a um filme. Este chegou neste momento porque tanto James quanto eu estamos muito interessado nesses temas.
O que você acha do empenho humano para conquistar o espaço?
O ser humano sempre foi um pioneiro aventureiro, que deseja explorar o desconhecido, e continuaremos sendo assim, mas o que o filme vem dizer é que, enquanto isso, não podemos nos esquecer de cuidarmos uns dos outros.
Você disse que a motivação do seu trabalho como produtor é promover o talento. Um físico como o seu não lhe serviu também para se fazer respeitar na indústria?
Não, não acho. Acho que o respeito é uma consequência do bom trabalho. Sempre amei a narração de histórias e em particular através do cinema. Produzir é uma maneira de participar de histórias nas quais não necessariamente encaixo como ator, mas que sinto que têm um poder, um peso e que dizem algo sobre o tempo que vivemos.
Com a bilheteria dominada por super-heróis, cinema de gênero e familiar, parece cada vez mais difícil fazer esse tipo de filmes. Qual é a sua experiência como produtor nesse sentido?
As coisas mudaram muito, os filmes são cada vez mais caras, especialmente a promoção, de modo que os grandes estúdios se veem forçados a se voltarem para superproduções-espetáculo, enquanto as histórias mais íntimas ou verdadeiras parecem condenadas a pequenos orçamentos. Com filmes como "Ad Astra", combinamos as duas coisas. É uma aposta cada vez mais complicada, pelo menos para a telona, mas eu continuo empenhado nisso.