Diretor Bernardo Bertolucci: "exceto por algumas poucas produções independentes, acho que tudo que vem de Hollywood é em geral triste. Isso me entristece muito" (Jean-Paul Pelissier/Reuters)
Da Redação
Publicado em 28 de maio de 2013 às 12h06.
Roma - Aos 12 anos, Bernardo Bertolucci se olhou no espelho e se imaginou como John Wayne. Hoje, aos 73, ele está confinado a uma cadeira de rodas, mas continua sendo uma figura imponente dentro do cinema italiano.
Bertolucci anda desapontado com a Hollywood que tanto o inspirou, e acha que séries de TV como "Mad Men" têm roteiros e direção de atores melhores do que as produções da telona.
O cineasta discutiu seu caso de amor com a cultura norte-americana, e seu desdém pelo que Hollywood tem produzido hoje, na noite de segunda-feira, quando foi homenageado em Roma pela Academia Americana.
"O jazz foi a primeira música que escutei na vida, e jazz para mim significava América", disse Bertolucci à plateia no evento beneficente de gala, destinado a angariar verbas para artistas.
A Academia Americana, mais antiga instituição dos EUA no exterior para o estudo independente das artes e humanidades, homenageou Bertolucci com o prestigioso prêmio McKim, já entregue anteriormente a personalidades como o maestro Riccardo Muti, o compositor Ennio Morricone, o cineasta Franco Zeffirelli e o escrito Umberto Eco.
"Vi ‘No Tempo das Diligências', e para mim (o diretor) John Ford virou Homero", disse ele sobre o clássico western de 1939, ano anterior ao nascimento de Bertolucci, em Parma (norte da Itália).
"Eu ficava em frente a um espelho de corpo inteiro e o que eu vi aos 12 anos não era eu, era John Wayne." Mas, hoje, o diretor de filmes como "O Último Tango em Paris", "O Último Imperador" e "Novecento" acha Hollywood deprimente.
"Minha geração teve um caso com a cultura norte-americana, sem dúvida. Um poste de rua e um hidrante de incêndio me fizeram cantar na chuva. Mas os filmes norte-americanos dos quais gosto atualmente não vêm dos estúdios de Hoollywood, e sim das séries de TV, como ‘Mad Men', ‘Breaking Bad', ‘The Americans'", disse ele em entrevista após receber o prêmio.
"Gosto quando eles duram 13 episódios, mas aí vem uma nova série com mais 13 episódios", disse ele, rindo, ao comparar essa estrutura com os folhetins publicados nos jornais no século 19.
"Exceto por algumas poucas produções independentes, acho que tudo que vem de Hollywood é em geral triste. Isso me entristece muito."