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Para além de Frida Kahlo: o cenário artístico no México em 2025

Há duas décadas, a Cidade do México apresenta a feira Zona Maco, com mais de 110 galerias, incluindo seis brasileiras na edição de 2025

Soho House: unidade na Cidade do México aproveitou a semana de arte para incluir talks e exposições na programação (Fernando Marroquin/Divulgação)

Soho House: unidade na Cidade do México aproveitou a semana de arte para incluir talks e exposições na programação (Fernando Marroquin/Divulgação)

Júlia Storch
Júlia Storch

Repórter de Casual

Publicado em 29 de março de 2025 às 12h08.

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As obras surrealistas de Frida Kahlo e os grandiosos murais de Diego Rivera cruzaram as fronteiras do México se tornaram referências para o mundo na metade do século 20. No entanto, as artes do país não se resumem a apenas estes dois nomes nem aos seus quadros e gigantescos murais. Há duas décadas, a Cidade do México apresenta a feira Zona Maco, com mais de 110 galerias, incluindo seis brasileiras na edição de 2025.

A feira é dividida em áreas de design, arte contemporânea, arte moderna, artistas emergentes, sul global, fotografia, antiquários e publicações. Para Juan Carlos Campos, membro do comitê organizador da Zona Maco, o interesse em arte latino-americana por estrangeiros vem crescendo, mas este não é o único segmento de interesse. “A gastronomia e a música também estão no centro da cultura latino-americana e também estão sendo valorizadas”, diz.

Neste ano, estiveram no evento mais de 81 mil visitantes que também costumam circular em feiras como a Frieze em Nova York, a Art Basel em Miami, além de outras feiras europeias. A proximidade com os Estados Unidos acaba incluindo o México no circuito de colecionadores, atraindo galeristas brasileiros para a feira.

Em 2025, a galeria paulistana Janaina Torres participou pela segunda vez da Zona Maco. “É uma ótima feira, por ser um evento mais internacional do que os que ocorrem no Brasil. Aqui temos muito contato não só com colecionadores de outros países, mas com instituições e empresas”, diz Luisa Moser, liaison da galeria.

A galeria Albuquerque Contemporânea, de Belo Horizonte, também participou pela segunda vez na feira. Para além das vendas, o evento é importante para a divulgação da galeria e seus artistas. Na edição de 2025, levou o artista Froiid, e suas obras vernaculares com referências aos letterings de caminhões brasileiros e palavras que fazem parte do vocabulário da Loteria das Flores, um jogo típico do México.

“A Loteria das Flores dá origem ao Jogo do Bicho no Brasil. Eu já havia feito uma instalação baseada no Jogo do Bicho, baseada nas tradições construtivistas e concretistas brasileiras. Agora, trago uma instalação com 54 cartas baseadas nas cores do uniforme do goleiro mexicano Jorge Campos, que foi sucesso nos anos 1990. Faço uma construção com tipografia vernacular, usada nos caminhões. A América Latina tem uma questão dos caminhões à margem das estradas, e meu trabalho lida com essas questões da margem e do jogo. Construindo uma instalação como um jogo”, diz o artista.

Galeria Janaina Torres: obras de Jeane Terra foram apresentadas na Zona Maco, na Cidade do México (Giovanna Lanna /Divulgação)

Ambas as galerias estavam na Seção Sul, destinada às produções do sul global. “Participamos das feiras brasileiras, como Arte Rio, SP-Arte, Rotas Brasileiras e Arpa, e no ano passado começamos com a internacionalização da galeria e pretendemos estar aqui nos próximos anos. É uma feira interessante institucionalmente, já que as instituições artísticas do México são muito fortes, há muitos museus e instituições, é um lugar com muita penetração dos Estados Unidos, com visitantes de Nova York e Los Angeles. É uma oportunidade de entrar nesses mercados que estão mais distantes do Brasil. No ano passado trouxemos as obras da artista Efe Godoy, que acabou sendo convidada para uma exposição no Japão”, diz Lucas Albuquerque, diretor da galeria Albuquerque Contemporânea.

Um importante empresário europeu esteve na visita para colecionadores, reservada para apenas 120 pessoas, e segundo Campos, as vendas se voltaram para peças de artistas africanos. “Não somente as obras de latino-americanos, mas de artistas da África também estão no centro das buscas de colecionadores”, diz.

Para Campos, a eleição de Donald Trump e a ascensão da extrema-direita em diversos países deve resultar em obras de protesto que devem aparecer no próximo ano da feira, que acontece entre os dias 4 e 8 de fevereiro.

Durante a semana de arte, marchands, colecionadores, galeristas, artistas e entusiastas das artes de diferentes nacionalidades estiveram na cidade e outros espaços da cidade aproveitaram para unir estes grupos. Paralelamente, galerias e feiras como o Salón Acme apresentam artistas emergentes.

Desde 2013, o Salón Acme oferece difusão das obras de criadores emergentes. Neste ano, foram apresentados trabalhos de 79 artistas selecionados, escolhidos entre 1.800 inscrições. No pátio de um casarão de 1905, a artista convidada deste ano foi Julieta Gil (Cidade do México, 1987), que apresentou uma instalação imersiva baseada no mapeamento digital da vegetação urbana de seus percursos a pé pela cidade. Seu trabalho explora a ideia de "antimonumentos" em espaços vegetativos, convidando o público a refletir sobre a escultura no ambiente virtual.

Salón Acme: feira mexicana para artistas emergentes (Divulgação/Divulgação)

A Soho House, clube londrino com mais de 45 unidades pelo mundo, também aproveitou o burburinho artístico para incluir uma programação dedicada às artes, como a residência artística com Román de Castro, artista mexicano que elaborou a mostra Todo Incluido. Pinturas em quadros, cadeiras e tecidos questionam com desenhos e frases o que realmente precisamos para nos sentirmos completos. “Em um tempo marcado pela conectividade infinita, pela imediaticidade tecnológica e pela dissolução dos limites entre vida privada e coletiva, Todo Incluido surge como um convite visceral ao hedonismo, à indulgência e ao excesso”, diz Regina Alencaster, curadora da mostra.

Na Cidade do México, o clube está localizado na Casa Prim, um casarão histórico de 2.300 metros quadrados que serviu de lar para o General Juan Prim, que comandou a expedição armada no país no início do século 19. A casa é decorada com mais de 150 obras de arte de artistas locais como Alinka Echeverría, Claudia Peña, Clotilde Jiménez, Dexter Dalwood, Fernanda Barreto, Ana Segovia, Gonzalo Lebrija, Octavio Abundez, Manuel Forte e Zhivago Duncan. No ambiente de entrada da casa, os membros são recebidos com uma instalação têxtil projetada pela dupla de artistas Celeste, que filtra a luz do sol com tecidos naturais estampados em tons terrosos. As cores de Frida Kahlo e de diversos novos artistas continuam em evidência na cidade.

*a jornalista viajou ao México a convite da Soho House

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