Com o fechamento de academias e clubes, consumidores gastaram 54,4% a mais com a compra de bicicletas (Rovena Rosa/Agência Brasil)
Agência O Globo
Publicado em 9 de fevereiro de 2021 às 12h51.
Se a pandemia fez o brasileiro gastar mais com bens para a casa, aplicativos de entrega de comida e material de construção, também mudou os hábitos de lazer das pessoas. Com o fechamento de academias e clubes, os consumidores encontraram outras formas de se exercitar e gastaram 54,4% a mais com a compra de bicicletas, no ano passado, na comparação com 2019. Também cresceram em 40,4% os valores gastos com games, livros, streaming e instrumentos musicais.
A conclusão é de uma pesquisa feita pelo Itaú Unibanco dos hábitos de consumo dos brasileiros durante a pandemia, através dos gastos com cartão de crédito e débito e dos pagamentos feitos pela Rede, empresa de meios de pagamento do banco. A pesquisa mostrou uma queda de 72% nos gastos com lazer, na comparação anual. Com baladas e bares, os gastos caíram 33%, enquanto com restaurantes, a queda foi de 32,3%.
— Como os brasileiros ficaram mais dentro de casa. Os gastos com turismo caíram 43,8% e surgiram novos hobbies - disse Moisés Nascimento, diretor de estratégia e engenharia de dados do Itaú Unibanco.
O economista-chefe do banco, Mário Mesquita, observa que entre os setores mais resilientes frente à pandemia, no ano passado, foram o financeiro, a agricultura e a construção civil, que não sofreram com as limitações impostas pela Covid-19. Já o setor de serviços foi o mais impactado. Indústria e comércio sofreram nos primeiros meses, mas mostraram recuperação rápida.
— Nossa estimativa é que a economia brasileira tenha encolhido 4,1% ano passado. este ano, a expectativa é de um crescimento de 4% - disse Mesquita.
O Índice de Atividade Econômica (Idat), elaborado pelo Itaú, mostra que a economia roda atualmente em 90 pontos, frente aos 100 pontos antes da pandemia. Mas a recuperação da atividade perdeu força nos últimos meses com a segunda onda da pandemia e o final do estímulos, como o auxílio emergencial.
— A atividade tem apresentado resiliência, sem mostrar grande crescimento. O auxílio ajudou a preservar a renda, mesmo com a perda provocada pela retração do mercado de trabalho. E a taxa de poupança subiu a 18%, acima da média histórica - observa Mesquita.
Para este ano, os fatores que podem ajudar a manter o consumo são a expansão do crédito, a recuperação do mercado de trabalho e a redução da poupança, na margem, com as pessoas guardando um pouco menos, com a volta da confiança. No ambiente internacional, a recuperação da economia global também ajuda o Brasil, diz o economista.
Ele avalia que a inflação pode subir a 6,5% durante o ano, mas o Banco Central já deverá elevar a taxa Selic, atualmente em 2%, a partir de março. Com isso, o IPCA deve fechar o ano entre 3% e 4%.
— Se o BC elevasse os juros para 5% ou 6% teria impacto mais relevantes na atividade econômica. mas a avaliação é que a Selic termine 2020 a 3,5%. Ou seja, o BC vai pisar menos no acelerados e não usar o freio - afirma.
Para o economista, se um novo auxílio emergencial for reeditado pelo governo, deve-se obedecer o teto de gastos.
— Se houver a ruptura do teto de gastos e do arcabouço de política fiscal, o real se deprecia e isso gera pressão inflacionária - disse o economista.
A pesquisa de hábitos de consumo dos brasileiros mostrou que as transações pelo e-commerce cresceram 19,4% em relação a 2019, com destaque para restaurantes atacadistas e material de construção. Ao final de 2020, os meios digitais já respondiam por 18,9% do total transacionado pelo varejo, contra 16,3% um ano antes.
Mais da metade (50,4%) das compras online foram feitas por mulheres, especialmente nos segmentos de vestuário, drogarias e atacadistas. Os homens tiveram participação levemente menor nas compras em canais digitais, mas seu gasto médio por transação é 23,9% maior que o das mulheres. As compras em atacadistas, de eletrônicos e itens e serviços de Saúde foram puxaram o crescimento do tíquete médio dos homens nos canais digitais