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Pandemia alavanca sucesso de documentários esportivos em streamings

Conteúdos exclusivos e impactantes sobre atleta midiáticos, que são grandes pontos de conexão com o público, são ouro nos catálogos; tendência é que grandes produtoras sigam apostando neste tipo de produto

Cena do documentário 'Pelé', na Netflix (Reprodução/Divulgação)

Cena do documentário 'Pelé', na Netflix (Reprodução/Divulgação)

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GabrielJusto

Publicado em 11 de maio de 2021 às 15h43.

Última atualização em 11 de maio de 2021 às 16h00.

Cases de sucesso na pandemia, os documentários esportivos têm conquistado espaço nas plataformas de streaming e emissoras de televisão. Para além das transmissões dos jogos ao vivo, o esporte é visto no momento como uma oportunidade de gerar conteúdos de cinema e, com isso, também trazer produções com viés de entretenimento para os espectadores.

No dia 23 de fevereiro, a Netflix expandiu seu cardápio de conteúdos esportivos e lançou o documentário “Pelé”. Para Bruno Maia, especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte, esse lançamento foi um marco do streaming esportivo no Brasil. “Ao longo da história, o futebol sempre foi acompanhado pelo viés do ao vivo, ou seja, através das transmissões dos jogos. A partir de agora, isso está mudando”.

Segundo o especialista, a tendência é que esse tipo de conteúdo se multiplique nos próximos anos. Aproveitando esse cenário, as plataformas de streaming devem aumentar a lista de produções originais sobre esporte. A série “Doutor Castor”, da Globoplay, lançada recentemente, é outro exemplo de como o futebol pode ser explorado para além das quatro linhas. “O lançamento aconteceu com a exibição do primeiro episódio na grade do SporTV, um canal que tradicionalmente não explora esse tipo de linguagem em produtos originais, além de preferir a cobertura de eventos ao vivo e o jornalismo”, argumenta Maia.

Também no SporTV, a série “Acesso Total”, que mostrou os bastidores da temporada 2020 do Corinthians, inspirado em programas como o “Sunderland Til I Die”, da Netflix, e o “All or Nothing”, da Amazon Prime, foi outra novidade para os espectadores. Maia valoriza esse tipo de produto. “Esses conteúdos estão preenchendo um déficit histórico importante do esporte brasileiro e também ajudando os dirigentes a entenderem que o valor do produto pode ir muito além dos campos, das confusões do VAR, etc”, conclui.

Pandemia impulsiona streamings

Segundo a consultoria britânica Kaizen, a média de horas de consumo por assinante de streaming na pandemia aumentou 61% em todo o planeta e, no Brasil, 69% dos assinantes aumentaram sua média de consumo. No primeiro mês após a Organização Mundial da Saúde ter declarado pandemia global, só a Netflix conquistou mais de 16 milhões de novos assinantes.O levantamento revelou que as duas séries de maior audiência no período foram Tiger King, com mais de 34 milhões de visitantes únicos nos primeiros 10 dias, e “The Last Dance”, série documental sobre a explosão do Chicago Bulls, impulsionada pelo maior jogador da história do basquete, Michael Jordan.

O sucesso de “The Last Dance”, realizado em parceria entre a ESPN Films e a Netflix, teve repercussão mundial e recebeu o prêmio Emmy, a maior honraria da televisão norte-americana, na categoria de melhor série documental de 2020. O documentário se tornou o mais visto da história da ESPN, com mais de 5,8 milhões de espectadores no primeiro episódio e atingiu números ainda maiores nas primeiras semanas do conteúdo na plataforma de streaming, chegando a mais de 13 milhões de pessoas. Segundo a Bloomberg, agência de tecnologia e dados, a série do Chicago Bulls e do astro Michael Jordan bateu “Tiger King” como a mais vista na Netflix.

Com a quarentena mantendo parte da população dentro de casa, a ESPN Internacional decidiu antecipar a estreia do documentário, que estava planejada para junho de 2020, para o dia 19 de abril, segundo informações divulgadas pelo jornal New York Post na época. Maia ressalta que o documentário se mostrou um sucesso em vários sentidos e pode ensinar ao futebol brasileiro a força do entretenimento para aumentar a paixão pelo esporte e receitas dos clubes. “Para ficar só na vendas de produtos, as do Chicago Bulls cresceram 5000% depois do lançamento da série. Já víamos este movimento ganhar força com alguns exemplos como as séries “All or Nothing”, da Amazon Prime Vídeos e “Sem filtro” e “De volta”, mas nada se compara ao que se viu em “The Last Dance”, argumenta o executivo de marketing.

No Brasil, a venda de produtos relacionados ao Chicago Bulls aumentou de modo considerável durante a exibição da série. Segunda a operadora da LojaNBA.com no país, a Netshoes registrou um aumento de 650% das vendas dos itens relacionados aos Bulls.

Conteúdos exclusivos com atletas

Além das jogadas de efeito, gols decisivos e partidas memoráveis, hoje os jogadores de futebol também enxergam as plataformas de streaming como oportunidade de autopromoção de imagem. Em abril, a Amazon fechou contrato exclusivo com Serena Williams, uma das maiores atletas da história do tênis, e o renomado jogador francês Paul Pogba, do Manchester United.

Rene Salviano, ex-diretor comercial, marketing e novos negócios do Cruzeiro, e há 20 anos com experiência no marketing esportivo, destaca o poder midiático dos atletas e o impacto desse fenômeno na vida de cada um deles. “É uma chance de ter várias frentes de trabalho, não somente para ter ganhos financeiros, mas também para colaborarem em causas em prol de um mundo melhor. Vale lembrar que o poder de conexão com marcas será consequência da imagem que passa. Alguns atletas usam de forma fantástica e outros nem tanto”.

Na visão do especialista, a tendência é que daqui para frente as grandes produtoras, seja de televisão ou streaming, sigam apostando neste tipo de produto. “Um conteúdo exclusivo e impactante de um atleta midiático é um produto de ouro, e a cada vez mais tem sido explorado por suas instituições e por eles próprios. Ainda tem muita coisa boa por vir devido ao momento de utilização de dados para construir qualquer produto para conectar ao consumidor”.

Ele ainda completa. “Todo mundo quer um conteúdo exclusivo, algo que ninguém viu ou teve contato. As métricas hoje são perfeitas, sabemos as jornadas de consumo e todos estudam o tanto que isto tem mudado. As marcas e instituições precisam se humanizar para conectar ao público, os atletas são exemplos de grandes atores de conexão”.

Com o advento da internet e evolução dos gadgets, como smartphones e videogames, os usuários passaram a ter acesso a diversos tipos de conteúdos a qualquer momento e na palma das mãos. Hoje, não há mais necessidade de esperar a programação da televisão para assistir a um filme ou até mesmo aos melhores momentos de uma partida de futebol, por exemplo, o consumidor está a um clique da informação e do entretenimento.

Guilherme Figueiredo, CEO da TV NSports, explica que o Vídeo on Demand (VoD) é um tipo de conteúdo que pode ser acessado a qualquer hora e, por conta disso, mudou o padrão de consumo. “As plataformas de streaming permitem que o usuário acesse com facilidade um vídeo específico que queira assistir. No caso do esporte, a escolha pode estar entre um conteúdo exclusivo sobre um esporte, atleta, clube ou competição ou nos melhores momentos de um evento, como o gol da virada, a enterrada decisiva, a ultrapassagem que causou um acidente ou o golpe que finalizou o adversário. É possível ver e rever quantas vezes quiser. Outro ponto importante é que o vídeo sob demanda oferece outras maneiras de se conectar com o seu público a partir da produção de conteúdo direcionado”, completa.

 

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