Prateleiras com esmaltes do Beverly Nail Studio, no Queens (Jeenah Moon/The New York Times)
Daniel Salles
Publicado em 8 de dezembro de 2020 às 09h21.
Última atualização em 8 de dezembro de 2020 às 09h57.
Na maioria dos dias, Juyoung Lee é a única pessoa no Beverly Nail Studio, o salão de manicure que ela possui em Flushing, no Queens. O local é muitas vezes estranhamente silencioso, e, quando nenhuma cliente aparece, Lee às vezes se senta em seu posto de trabalho e chora. "Talvez – só talvez – amanhã as clientes venham. Estou esperando", afirmou.
Como os outros salões em Nova York, seu negócio teve de fechar quando a pandemia chegou em março. Houve um breve aumento na demanda depois que o bloqueio foi suspenso em julho, mas então as horas marcadas começaram a diminuir. Muitas vezes, as clientes pediam os serviços mais baratos. Agora, elas dificilmente vêm.
A indústria da beleza na cidade parecia bem posicionada para se recuperar depois que as restrições terminaram. Afinal, muitas clientes passaram meses sem se arrumar profissionalmente. Mas, agora, muitas dessas empresas estão à beira do colapso – um golpe duro para uma indústria que é um motor econômico para as mulheres imigrantes.
Alguns salões de beleza tiveram dificuldade em convencer as pessoas de que é seguro voltar. Outros, especialmente aqueles nos distritos comerciais de Manhattan, ainda não viram suas clientes regulares voltar, porque muitas delas deixaram a cidade ou estão trabalhando de casa.
Com 26 anos de experiência em salões de beleza e 20 anos de poupança empregados no próprio negócio, Lee, de 53 anos, contou que não consegue se imaginar fazendo outra coisa, mas já tem dificuldade para manter o salão funcionando: "Embora fosse difícil antes, sempre fui capaz de pagar as contas. Mas agora, não importa quanto eu trabalhe, não ganho dinheiro", disse ela.
As visitas a salões de beleza no estado caíram mais de 50 por cento, e as vendas diminuíram cerca de 40 por cento, de acordo com uma pesquisa de outubro com 161 proprietários de salões promovida pela Federação da Indústria de Manicure de Nova York.
A Associação de Trabalhadores de Salão de Beleza de Nova York, grupo de defesa afiliado ao sindicato Workers United, divulgou que menos da metade dos 594 trabalhadores pesquisados voltou ao trabalho em agosto. Em Nova York, havia 4.240 salões de beleza em 2016, de acordo com o Escritório do Censo Americano. Três por cento dos salões do país ficam no Brooklyn, e dois por cento estão no Queens. "A força de trabalho é composta principalmente de imigrantes assalariados, que sustentam crianças e, em muitos casos, membros da família doentes e idosos em seu país de origem. Adicione a recessão e os efeitos da pandemia, e prevemos que muitos trabalhadores cairão ainda mais na pobreza", explicou Luis Gomez, diretor organizador da associação.
No Queens, Rambika Ulak KC, de 50 anos, contou que tinha tantas clientes pouco depois de reabrir em julho que recontratou todas as suas dez funcionárias em meio período. Agora, no entanto, só recebe cerca de quatro clientes por dia.
Ulak largou a faculdade no Nepal para vir para os Estados Unidos. Enquanto desenvolvia a síndrome do túnel do carpo por causa do trabalho como manicure ou quando era repreendida por clientes frustradas com seu inglês sofrível, ela olhava para as fotos de sua filha coladas na parede. Agora, à medida que seu negócio vai se esvaindo, ela se pega olhando para as fotos ainda mais vezes.
"É por isso que trabalho tanto. Para poder dizer a ela: 'Não pense no meu futuro, apenas seja feliz e se concentre nos seus estudos'", afirmou Ulak.
Os salões puderam reabrir em julho com 50 por cento da capacidade, com salas de espera interditadas e horários marcados.
Embora os serviços em locais fechados representem mais riscos para a transmissão do vírus, o dr. Joshua Zeichner, diretor de pesquisa cosmética e clínica do Hospital Mount Sinai, em Manhattan, disse que, se todos usarem máscara e os clientes se mantiverem devidamente distanciados, eles estarão "um pouco mais seguros do que numa refeição em um restaurante".
Ainda assim, muitos líderes do setor temem que os salões não sejam capazes de retomar a confiança total dos clientes e, posteriormente, de se recuperar até que uma vacina seja amplamente aplicada.
Oitenta e um por cento da força de trabalho nacional de salões de beleza são mulheres, enquanto 79 por cento são estrangeiras, de acordo com um relatório de 2018 realizado pelo Centro de Trabalho da Universidade da Califórnia em Los Angeles.
As mulheres mais velhas podem ter menos flexibilidade na carreira caso a indústria continue a diminuir, de acordo com Prarthana Gurung, gerente de campanha do Adhikaar, centro de trabalho nepalês que atende cerca de 1.300 trabalhadores nepaleses de salão em Nova York. "Há um subconjunto de mulheres que está na indústria de salões de beleza há décadas, independentemente do que aconteça", informou Gurung.
Hannah Lee, de 60 anos, é uma delas: desde que chegou aos Estados Unidos, trabalhou apenas em salões de beleza. Ela contou que deixou a Coreia do Sul com relutância depois que seu marido a convenceu de que haveria melhores empregos aqui.
Embora sentisse saudade de seu país, ela não reclamava – como funcionária de salão, Lee aprendeu inglês no trabalho, economizou o suficiente para colocar seu filho na faculdade e sempre pagou o aluguel em dia.
Mesmo agora, ela reconhece que tem sorte de estar contratada em salões no Queens e em Manhattan, onde trabalhava antes da pandemia. Mas, segundo Lee, os dois salões raramente têm clientes hoje em dia. No geral, ela recebe apenas alguns dólares em gorjetas, às vezes nada.
Seu salário caiu de US$ 1.000 por semana para US$ 300. Ela revelou que está com o aluguel atrasado e mal tem dinheiro para comprar mantimentos. Porém contou que se recusou a procurar outras indústrias e está em busca de um terceiro emprego em um salão de beleza, apesar de suas preocupações com a saúde.
"Só quero me sentir confortável com minha vida. Não quero ficar ansiosa quando vou trabalhar, pensando se as clientes virão hoje ou não, se vou pegar o vírus hoje ou não", disse ela em coreano.
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