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Os bastidores da separação, só profissional, de Fátima e Bonner

William Bonner chorou e a Globo resistiu à ideia, mas Fátima Bernardes bateu o pé: terá um programa matinal próprio

Fátima deixa o posto que assumiu em 1998 (Divulgação/TV Globo)

Fátima deixa o posto que assumiu em 1998 (Divulgação/TV Globo)

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Da Redação

Publicado em 4 de dezembro de 2011 às 13h54.

Rio de Janeiro - "Como chefe, eu não podia concordar. Como marido, não tinha alternativa a não ser apoiá-la”, assim William Bonner descreve o momento em que cedeu, pela primeira vez, à decisão da mulher, Fátima Bernardes, de desmanchar a dupla mais conhecida do telejornalismo do Brasil.

Foi no dia 1º de janeiro deste ano que a firmeza de propósito de Fátima, que cogitava fazer um programa próprio desde 2007, venceu a resistência de Bonner.

Depois de tocar o projeto em segredo, temendo até que as felicitações pelo desempenho do Vasco, seu time, na verdade se referissem ao futuro programa, Fátima percebeu, em conjunto com a cúpula do Jornal Nacional, que não dava mais para manter o sigilo.

Sorridente, com os cabelos impecáveis — e intocáveis, como se viu pela reação do público quando ela fez alisamento japonês —, ela anunciou a mudança na manhã de quinta-feira, ao lado de Bonner e de sua substituta, Patrícia Poeta, que troca o banquinho do Fantástico pela responsabilidade maior ainda da bancada do Jornal Nacional.

Com o mesmo sorriso, mas atitude bem mais resguardada, Fátima nem cogita entrar em detalhes sobre as especulações de que o casal estaria se separando também na vida real ou de que os catorze meses de idade a mais que o marido começariam a pesar. “Todos sabem que estou radiante. Não existe luto”, diz. 

Mudar para renovar é o nome do jogo de qualquer programa de televisão. O Jornal Nacional está no ar desde 1969, e Fátima e Bonner o apresentaram em conjunto durante treze anos e nove meses. Seguindo desejos detectados por pesquisas de opinião, Fátima e Bonner nos últimos anos imprimiram um ar cuidadosamente mais informal à apresentação das notícias.

Passaram a se olhar e conversar mais e a se dirigir aos telespectadores de maneira mais pessoal. Um novo instrumento de comunicação, o Twitter, aproximou  Bonner de uma faixa etária mais jovem. Até a cor das suas gravatas virou motivo de brincadeira em rede. Além de administrar a rotina dos trigêmeos — com 14 anos, em pleno início de adolescência —, Fátima começou a deslocar seu foco de interesse.

Queria fazer outro tipo de programa, menos noticioso e com pitadas de entretenimento, ao estilo dos matutinos da televisão americana. Em 2007, falou com a direção da Rede Globo, mas todos acharam que era cedo para uma mudança.

Dois anos depois, quando o jornal estava para completar quarenta anos, sugeriu que sua saída fosse anunciada. Ouviu do chefe Carlos Henrique Schroeder, hoje diretor-geral de jornalismo e esporte: “É motivo de festa e você vai querer sair, Fátima?”. 


A virada aconteceu em abril, quando a sinopse de um programa escrita por ela recebeu o sinal verde. A notícia foi dada a Fátima pelo diretor da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel. Em outubro, uma equipe comandada pelo diretor Guel Arraes passou a se encontrar uma vez por semana para formatar a atração.

Outros integrantes eram Claudio Manoel, que fez a transposição da era Casseta & Planeta para uma posição importante, à frente de programas de humor, e o jornalista Geneton Moraes Neto, da Globo News. Reunidos na casa de um deles para manter o projeto em sigilo, discutiam ideias e assistiam a programas ameri-canos consagrados, como o Good Morning America, da rede ABC, uma atração matutina dirigida ao público feminino — motor da maioria das decisões de consumo.

Outra inspiração para o grupo foi o extinto The Oprah Winfrey Show, que ficou no ar durante 25 anos. Numa guinada longamente planejada e copiosamente chorada, Oprah, de 57 anos, encerrou o programa em maio passado e se transferiu para um canal próprio de televisão a cabo. O programa matinal de Fátima, ainda sem nome, deve estrear em abril.

Terá uma hora e será diário. O horário da manhã é aquele em que a Globo enfrenta competição mais acirrada. Entre 2006 e 2011, a audiência  caiu de 9,6 para 7,6 pontos. A da Record registrou aumento de 3,5 para 5,6 pontos. O programa mais afetado é o Mais Você, de Ana Maria Braga. 

Como Oprah Winfrey, Fátima confidenciou o desejo de “sair no auge”, apesar da resistência do marido. Neste ano, Bonner renovou seu contrato até 2018, e achava que Fátima deveria fazer o mesmo, argumentando, com razão, que formam o “casal-símbolo”. Só acabou aquiescendo na conversa mantida no primeiro dia do ano, pouco antes de uma viagem a Fernando de Noronha.

“Embora apreensiva, ela me disse que estava decidida”, conta Bonner. “Pela primeira vez, cedi.” Ele chorou várias vezes enquanto era editado, numa área coberta de papel branco para manter o sigilo, o vídeo com os melhores momentos da carreira da mulher. 

A escolha de Patrícia Poeta como a nova integrante do Jornal Nacional foi cercada de cuidados. A Globo encomen-dou pesquisas para testar a aceitação do nome de Patrícia, que é casada com Amauri Soares, diretor de projetos e eventos especiais da emissora.

Elas mostraram que Patrícia desperta simpatia e confiança em todas as classes sociais com atributos semelhantes aos de Fátima: é informal, elegante, independente e “ao mesmo tempo mãe de família”. Meticulosa e aplicada, ela grava falas várias vezes se detecta uma alteração na voz ou uma mecha de cabelo fora do lugar. A exuberante cabeleira, porém, terá de perder alguns centímetros para se adaptar ao padrão JN. Vestidos festivos não entrarão mais no figurino profissional.

O projeto de ter um segundo filho foi adiado “por enquanto”, diz ela. Se as mudanças provocarem tantos comentários como acontecia com Fátima, o interesse do público estará garantido.


É com você, Fátima

Quando foi a decisão de deixar o JN?

Há quatro anos, mas a emissora achou que era cedo. Concordei e participei de coberturas importantes, como a Copa da África e a eleição de uma mulher para presidente. Em abril, a sinopse do programa foi aprovada. Seis pessoas trabalham nela desde então.

Por que deixar o JN agora, ainda sem data de estreia do novo programa?

É impossível ser apresentadora e editora e, ao mesmo tempo, produzir uma atração nova. Quando foi fechada a decisão sobre o nome de Patrícia, há duas semanas, vi que estava na hora.

É difícil abdicar da bancada do telejornal mais importante do país? 

Sei que estava na posição mais cobiçada do telejornalismo brasileiro. Por muito tempo, tive até vergonha de assumir a vontade de ter um novo programa.

Como reage às especulações de que está se separando de William Bonner?

Seria possível pensarem nisso se eu tivesse sido retirada do jornal. Daí, poderia haver um luto. Mas todos sabem que estou radiante. Sinto como se tivesse tido um quarto filho.

O fato de seu marido ser um ano mais jovem pode ter feito alguma diferença para o público?

Quando entrei no JN, fazia coberturas de temas mais leves. Por isso, fiquei com a imagem de descontraída e ele, com a do chefe de jornal e pai de família. Mas a percepção sobre ele mudou. Quando surgiu o Twitter, ele canalizou ali seu espírito brincalhão. Os adolescentes descobriram um novo William. No tempo que teria para tuitar, eu estou ocupada em coisas como ver a agenda dos filhos para saber se preciso comprar cartolina.

Está ansiosa?

Passei meses trabalhando em segredo, com medo de ser descoberta. Até parabéns pela vitória do Vasco, meu time, me davam calafrios. Não contei nem para os parentes. O público se sentiria traído se não fosse o primeiro a saber.

*Com reportagem de Renata Betti

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