Matteo Berrettini na série Break Point, da Netflix: novatos em destaque (Netflix/Divulgação)
Ivan Padilla
Publicado em 14 de janeiro de 2023 às 08h00.
Você é capaz de jogar cada ponto como se sua vida dependesse dele? A pergunta é colocada em certo momento em Break Point, série da Netflix que estreou nesta sexta-feira 13 de janeiro, e mostra o desafio do tênis profissional, um esporte em que a preparação mental é tão importante quanto o condicionamento físico.
Tênis, no circuito profissional, é rotina. Treino, jogo, treino, jogo. Repetição de movimentos. Os cinco episódios da nova série mostram o que acontece entre as partidas, os bastidores dos principais torneios, as glórias e as derrotas, a motivação e os fantasmas de alguns protagonistas do circuito, principalmente os mais jovens.
O primeiro episódio começa no Aberto da Austrália de 2022, em janeiro, e o quinto termina seis meses depois, em Roland Garros, com uma ou outra cena de torneios mais antigos. É didático ao explicar a importância dos torneios do Grand Slam, a competitividade que move os jogadores, sua vida pessoal, as aspirações e as realizações, ou a falta delas.
Cada episódio tem um foco, em geral em um jogador. O primeiro é sobre o australiano Nick Kyrgios, um rebelde aos moldes do americano John McEnroe, cujo desafio é não deixar seu comportamento rebelde ofuscar seu talento e impedir suas conquistas - isso, claro, se esse for o seu objetivo.
O segundo tem como tema a ausência de Novak Djokovic no Aberto da Australia pela resistência à vacina contra a covid-19. Sem Roger Federer e com Rafael Nadal voltando de uma série de lesões, o torneio era uma oportunidade para novatos como italiano Matteo Berrettini.
O terceiro episódio é centrado na tentativa do americano Taylor Fritz de vencer o torneio de Indian Wells, na Califórnia, depois de mais de duas décadas de ausência de um vencedor nascido no país.
O quarto é o único com maior ênfase nas jogadoras, como a espanhola Paula Badosa, então segunda do ranking, na disputa do Masters de Madri. Uma falha, justamente em um momento de tanta discussão sobre a equidade entre gêneros em visibilidade e premiações no circuito.
A romena Simona Halep, a grega Maria Sakkari, a americana Jessica Pegula, a australiana Ajla Tomljanovic, mesmo a tunisiana Ons Jabeur, primeira tenista africana a vencer um Masters 1000, aparecem nos demais episódios, como o segundo e o terceiro, mas com menor destaque.
O quinto e último episódio, sobre a decisão masculina de Roland Garros, é provavelmente o mais emocionante. O canadense Felix Auger-Aliassime, de apenas 22 anos e nono no ranking da ATP, é uma das promessas. Com uma peculiaridade: ele é treinado por Toni Nadal, tio e ex-técnico de Rafael Nadal.
Felix e Nadal vão avançando no torneio até se encontrarem nas oitavas de final. Para surpresa de muita gente, Toni Nadal, o tio do campeão espanhol e treinador do novato, declara então que vai torcer pelo sobrinho, e não pelo pupilo. Naquele momento família falou mais alto do que dinheiro.
Como todo mundo que acompanha tênis sabe, Nadal venceu Felix em um jogo muito difícil. Para quem gosta de estatísticas, interessante constatar que o canadense foi apenas o terceiro jogador a levar o espanhol para o quinto set no torneio francês. Nadal tem a impressionante marca de 14 títulos, 112 vitórias e apenas três derrotas nas quadras de saibro de Roland Garros.
A série é muito bem filmada e muito bem editada, os depoimentos são ótimos, a narrativa envolvente faz parecer curto o tempo médio de duração de cada episódio, em torno de 45 minutos. Break Point é produzida pela Box to Box Films, a mesma que lançou o sucesso Drive to Survive, da Fórmula 1.
Drive to Survive foi lançada em 2019 e já está na quinta temporada. Foi um sucesso de audiência na Netflix e ajudou na expansão da categoria nos Estados Unidos, mais afeito à Fórmula Indy. Em 2023 o país sediará três provas de Fórmula 1, duas delas em circuitos de rua.
Break Point tem o mérito de dar visibilidade a novatos, em um contexto de transição do esporte. Roger Federer e Serena Williams de aposentaram, Nadal começa a sentir o peso da idade, Djokovic é prejudicado pelas próprias convicções. Se ajudará a trazer mais público, o futuro dirá.
Mas o principal expoente da nova geração aprece pouco na produção. No Aberto da Austrália, Carlos Alcaraz estava em 31º do ranking. Na ocasião, perdeu para o italiano Berrettini. Isso aparece na série.
Seis meses depois, Alcaraz chegou a Roland Garros como sensação, depois de vencer o Masters de Madri, e com chance de assumir a primeira colocação do ranking, mas acabou perdendo para o alemão Alexander Zverev nas quartas de final.
Em setembro, no entanto, ele se sagrou campeão do Aberto dos Estados Unidos e se tornou o tenista mais jovem de todos os tempos a assumir o posto de número um do mundo, com 19 anos e quatro meses. Foi a melhor história de tênis do ano. O problema é que a primeira temporada de Break Point já havia terminado de ser filmada.
Foi uma questão de timing. A consagração de Alcaraz aconteceu depois, mas já era de certa forma esperada. A produção optou por focar em outros personagens, provavelmente por segurança. Para o espectador, faz falta. A notícia boa é que, se a estreia de Break Point é imperdível, a segunda temporada tem tudo para ser melhor ainda.