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Odete Roitman tornou Beatriz Segall a rainha das vilãs na TV

A incômoda marca fazia com que a atriz só era lembrada para esse tipo de papel. Com isso, irritava-se e reagia como... Odete Roitman

Beatriz Segall interpretando a vilã Odete Roitman: a marca foi uma injustiça que, com o tempo, diminuiu mas não aplacou (TV Globo/Reprodução)

Beatriz Segall interpretando a vilã Odete Roitman: a marca foi uma injustiça que, com o tempo, diminuiu mas não aplacou (TV Globo/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de setembro de 2018 às 17h07.

São Paulo - Beatriz Segall exibia um talento múltiplo ao representar. "Ela disseca cada papel que interpreta", disse o diretor Eduardo Tolentino em 2009, quando estreou Retratos Falantes. "Tem consciência das nuances de cada personagem", completou Charles Möeller, que a dirigiu no musical Nine, em 2015. Mas, mesmo com talento reconhecido, Beatriz era sempre lembrada pelos papéis de mulheres dominadoras, implacáveis, eternamente mal humoradas. Em outras palavras, Odete Roitman.

A inesquecível vilã que interpretou na novela Vale Tudo, exibida em 1988 pela Rede Globo, e cuja morte atraiu audiência até o último capítulo quando foi revelado quem foi seu assassino, tornou-se uma incômoda marca. Beatriz passou a ser a rainha das vilãs. Só era lembrada para esse tipo de papel. Com isso, irritava-se e reagia como... Odete Roitman. A personagem que serviu como exemplo de sua vasta capacidade interpretativa assumiu o protagonismo artístico e deixou a própria Beatriz Segall na sombra.

Uma injustiça que, com o tempo, diminuiu mas não aplacou. Afinal, desde sempre, Beatriz tornou-se célebre em peças que tratavam de mulheres que enfrentavam a vida com sensibilidade sem autocomiseração e autodisciplina severa. Por trás da aparente rispidez daquela, havia um toque de solidão. Basta lembrar de sua delicada interpretação em Emily, peça baseada na vida da poetisa americana Emily Dickinson e dirigida pelo então pouco conhecido Miguel Falabella.

Sua disposição em trabalhar com jovens talentos ainda desconhecidos, aliás, tornou-a uma espécie de madrinha de importantes grupos, como o Tapa, dirigido por Tolentino e que a comandou na maravilhosa montagem de O Tempo e os Conways, de J. B. Priestley. Sabia também ser poderosa diante de uma novata (Marisa Orth) e outra colega igualmente veterana e tão grande como (Nathalia Timberg), na enigmática Três Mulheres Altas, de Edward Albee, dirigida por José Possi Neto em 1995.

Ciente de seu talento, Beatriz não convivia bem com defeitos, especialmente durante suas apresentações. Chegou a interromper uma representação para encarar um homem que atendia o celular. "Vamos esperar que ele termine a conversa", disse ao público. Em outra oportunidade, presenciada por este repórter, também parou a encenação para reclamar do operador de luz. Para alguns, um ataque de estrelismo. Mas, quem conhecia um pouco daquela mulher, que largou momentaneamente a carreira em seu início para cuidar dos filhos, que abrigou perseguidos pela ditadura em sua casa, que estabeleceu uma programação de rara qualidade quando dirigiu o Teatro São Pedro ao lado do marido Maurício (período marcada por encenações memoráveis de Marta Saré, de Gianfrancesco Guarnieri e Edu Lobo, Frank V, de Friedrich Dürrenmatt, e À Margem da Vida, de Tennessee Williams), enfim, quem conheceu um pouco de Beatriz Segall sabia estar diante de uma senhora do palco.

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