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Obra inédita de Tarsila do Amaral é revelada quase um século após sua criação

Quadro foi autenticado e confirmado como genuíno, despertando interesse no mundo da arte e no legado do Modernismo brasileiro

Quadro descoberto de Tarsila do Amaral é da primeira fase da obra da artista. (Jornal Nacional/TV Globo/Reprodução)

Quadro descoberto de Tarsila do Amaral é da primeira fase da obra da artista. (Jornal Nacional/TV Globo/Reprodução)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 20 de agosto de 2024 às 09h31.

Última atualização em 20 de agosto de 2024 às 09h50.

Uma obra inédita de Tarsila do Amaral, uma das figuras centrais do Modernismo brasileiro, veio à tona quase 100 anos após sua criação, provocando grande agitação no mundo das artes. A descoberta ocorreu em abril de 2024, durante uma feira de arte em São Paulo, e desde então, a notícia se espalhou, suscitando inúmeras perguntas sobre a origem e autenticidade da peça. Agora, após meses de investigação, a família de Tarsila confirmou a autenticidade da obra, adicionando um novo e precioso capítulo ao legado da artista. A reportagem é do Jornal Nacional, da TV Globo.

A revelação do quadro se deu em um ambiente modesto no centro de São Paulo, em uma pequena sala cuja localização é mantida em segredo por motivos de segurança. Lá, o galerista Thomaz Pacheco, responsável por trazer a obra à luz, apresentou o quadro ao público, reforçando sua importância. O quadro, pintado em 1925, faz parte da fase Pau Brasil de Tarsila, conhecida por retratar paisagens brasileiras, tanto urbanas quanto rurais, com uma visão modernista que se tornaria emblemática na história da arte brasileira.

“Tarsila é uma artista que produziu muito pouco em vida; existem menos de 200 pinturas catalogadas. É uma produção muito escassa. Desta forma, poder revelar uma obra inédita significa aumentar o alcance de todo o trabalho da artista. É um patrimônio nacional que agora será descoberto pelo mundo todo”, explica Pacheco.

Poucas pessoas tiveram a oportunidade de ver a obra desde sua descoberta. O mistério que envolvia a autenticidade do quadro gerou debates intensos, especialmente sobre sua origem e os proprietários ao longo do tempo. De acordo com Pacheco, o quadro foi adquirido diretamente de Tarsila em 1951 por Mikael Abouij Naid, um libanês residente no Brasil na época, como presente de casamento para sua esposa, Beatriz Maluf. Após a morte de Beatriz no final da década de 1970, a obra foi levada ao Líbano, onde permaneceu até 2023, quando o filho do casal a trouxe de volta ao Brasil.

“O presente que a minha mãe recebeu de casamento sempre ficou em Zahle - levamos a obra como  bagagem acompanhada; é normal isso para algo que até então não tinha um valor expressivo. E no retorno ao Brasil, no ano passado, ela também veio como bagagem acompanhada, uma vez que não tínhamos nenhum documento de autenticidade da obra. A tela tem um valor simbólico e emocional para mim e para a minha família, pois está conosco desde muito tempo, mas reitero que foi um presente do meu pai para minha mãe, e passado de geração para geração. Até então, não tínhamos ciência do valor estimado desta obra e não havíamos pensado em trazê-la ao Brasil tão cedo. Foi com a eclosão da guerra entre Israel e Hamas - e por conta de possíveis desdobramentos desastrosos no Líbano, como  estamos vendo acontecer agora -, que achamos que seria o momento ideal de trazê-la ao Brasil. Trata-se da repatriação de um produto brasileiro, que até então é um bem de uso doméstico. Tão logo foi confirmada a autenticidade da obra, informamos imediatamente a Receita Federal e o Iphan - isso é uma honra para minha família”, detalha Moisés Mikhael Abou Jnaid.

Surpresa para a família

O retorno da obra ao país surpreendeu a família de Tarsila, particularmente sua sobrinha-bisneta, Paola Montenegro, que coordena o Tarsila S.A., uma organização dedicada à preservação e promoção do legado da artista. Montenegro destacou, ao Jornal Nacional, a importância da tecnologia na verificação da autenticidade da obra, um processo que envolveu exames físico-químicos, luz ultravioleta e escaneamento por infravermelho, conduzidos por laboratórios altamente capacitados no Brasil.

A comissão responsável pela autenticação, liderada por Douglas Quintale, presidente do Comitê de Autenticação Tarsila S.A., concluiu que a obra é genuína, pertencente à fase Pau Brasil, uma das mais importantes da artista. A pintura, que retrata uma paisagem inspirada nas fazendas do interior de São Paulo, é agora celebrada como uma adição significativa ao corpo de trabalho de Tarsila.

Com a autenticidade confirmada, o próximo passo é tornar a obra acessível ao público. Paola Montenegro expressou sua esperança de que o quadro seja exposto em um museu, onde poderá ser apreciado por um número maior de pessoas. Essa descoberta não apenas enriquece o legado de Tarsila do Amaral, mas também oferece ao público uma nova oportunidade de se conectar com a história e a cultura brasileira através da arte.

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