A meta é atrair 20 milhões de pessoas por ano, somando os espaços, o que significa uma média de quase 55 mil por dia (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de setembro de 2022 às 17h26.
Última atualização em 26 de setembro de 2022 às 17h40.
Após sustentar uma capela tombada a 31 metros de altura, o megacomplexo de luxo Cidade Matarazzo volta a chamar a atenção por uma obra de engenharia. Os trabalhos desta vez são nos blocos do antigo Hospital Umberto I, em que pilares a metros de profundidade e outros reforços têm permitido o restauro das fachadas e do telhado simultaneamente às escavações de subsolos e à demolição da estrutura interna. O destaque da nova fase será o teatro subterrâneo, com 17 metros de altura.
Os planos são de concluir todo o megaempreendimento bilionário até o fim de 2023, com dois hotéis, escritórios, capela, gastronomia variada, dezenas de lojas de luxo, spa e um centro de artes e criatividade. Tudo a duas quadras da Avenida Paulista em conjunto com um bulevar — cuja permissão de uso por 30 anos acabou de ser autorizada pela prefeitura — e os parques Trianon e Mário Covas e a Praça Alexandre de Gusmão, públicos, mas com gestão privada por 25 anos.
A meta é atrair 20 milhões de pessoas por ano, somando os espaços, o que significa uma média de quase 55 mil por dia. "Não tem qualquer equipamento turístico que conheço no Brasil que tenha a capacidade de fazer um número tão grande", compara o idealizador do complexo, o empresário francês Alexandre Allard. Para ele, a procura pelos espaços já em funcionamento demonstra que estava certo em investir no que alguns chamavam de "o lado errado da Paulista [o da Bela Vista]". "Todo mundo falava do maluco francês, apostavam no momento que eu fosse desistir. E eu não desisti."
Ao todo, a obra custa cerca de R$ 3 bilhões, dos quais 35% são referências à fase atual, que engloba os cinco blocos do antigo hospital. "Existe uma complexidade talvez nunca feita no Brasil", diz o engenheiro George Sallum, diretor técnico do complexo. Além de aproveitar a estrutura existente, o projeto envolve expansões. Considerando construções tombadas, a alternativa foi crescer abaixo do nível do solo. E não somente para estacionamento, mas também para centro de convenções, cinema, lojas, restaurantes, depósito, área técnica e até uma "dark kitchen" (cozinha exclusiva para delivery) de alta gastronomia.
No caso do bloco E do antigo hospital, o do teatro, a avaliação da equipe técnica da Cidade Matarazzo é que não há intervenção de engenharia no País comparável nem a da capela. Na prática, são duas obras dentro de uma, com o desafio de manter o esqueleto original de pé.
"Vai escavando e contendo as paredes, para segurar a envoltória [fachada]", diz o diretor técnico do complexo. Há ainda a preocupação que seja uma estrutura capaz de suportar obras de arte de grandes dimensões, que em geral, costumam ficar em áreas externas.
A obra no pavilhão começou pelas fundações e os pilares de sustentação, a partir de tubos metálicos inseridos no solo. Na sequência, começaram as escavações, por trechos de cerca de 3 metros, que seguirão até atingir próximo de 20 metros de profundidade. Em paralelo, estão previstos trabalhos de restauro das fachadas e dos telhados. Uma parte da expansão, principalmente da fase anterior, inclui a construção de novas edificações, o que foi possível após uma mudança no tombamento, em 2013.
De 1918, o bloco E foi originalmente o ambulatório e a residência das freiras que trabalhavam no complexo hospitalar. Agora, a transformação é em Casa da Criatividade, em parceria com o Bradesco, que realizará exposições, apresentações artísticas quase ininterruptas e palestras, além de um laboratório que pretende unir artes, design, ciência e tecnologia, um clube da criatividade e um espaço criativo infantil.
São cerca de 7 mil metros quadrados de área coberta apenas nos cinco blocos do antigo hospital, aberto em 1904. E, ao todo, serão 40 mil metros cúbicos de terra advinda das escavações e 62 mil metros cúbicos de concreto para a obra.
Os planos para os espaços públicos são distintos. A ideia é que as mudanças nos parques comecem a ficar em evidência aos poucos, a partir do início de 2023, com nova programação cultural, de responsabilidade de Alê Youssef, com destaque para o aniversário de São Paulo, em 25 de janeiro. Entre as mudanças estão mais atividades e tecnologia, como um app de realidade aumentada.
"Muitas pessoas pensam que um parque é só um espaço verde. Mas isso é como dizer que um escritório é um cubo branco", compara Allard. Ele defende que os parques são uma oportunidade de propagar a reconexão das pessoas com a natureza. "E o melhor lugar para falar disso é in situ."
Cada um dos espaços terá um perfil diferente. O Parque Mário Covas será voltado especialmente para a alimentação, com horta e atividades educativas. Já o Trianon será de "comunhão" com a Mata Atlântica, com atividades à noite.
A Praça Alexandre de Gusmão, na Alameda Santos, por sua vez, será para o feminino. Um prêmio ao feminino será entregue mensalmente além de atividades variadas do tema, como debates e exposições.
Já o bulevar foi rebatizado de Sua Rua. A iniciativa engloba uma quadra da Rua São Carlos do Pinhal, uma quadra da Alameda Rio Claro e a chamada Alameda das Flores (que é exclusiva para pedestres e funciona como "calçadão"). O trecho liga o megacomplexo à Avenida Paulista.
O projeto não inclui mais o túnel que acabou em críticas e judicialização em 2019 e 2020. Como alternativa, o projeto agora prevê intervenções urbanas para reduzir a velocidade do tráfego de veículos e tornar a via mais amigável para pedestres (traffic calming).
A proposta prevê a criação de um mercado de orgânicos, com 35 quiosques, na Alameda Rio Claro. Entre as mudanças estão também o plantio de árvores, o enterramento da fiação, a oferta de internet sem fio, a realização de atividades socioculturais gratuitas e a instalação de bancos, mesas, cadeiras, quiosques e outros itens de mobiliário urbano, em parte assinados pelos Irmãos Campana.
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