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O paradoxo de Madri: fechada aos espanhóis e aberta aos estrangeiros

Desde o fim da primeira onda da pandemia e o desconfinamento em junho de 2020, a região de Madri mantém suas portas abertas aos estrangeiros

Pessoas desfrutam de um dia de sol em um terraço na Plaza Mayor em Madri, em 25 de março de 2021 (AFP/AFP)

Pessoas desfrutam de um dia de sol em um terraço na Plaza Mayor em Madri, em 25 de março de 2021 (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 27 de março de 2021 às 06h02.

Com seus bares abertos e toque de recolher noturno, Madri se tornou o refúgio favorito dos poucos turistas europeus, especialmente franceses. Mas os espanhóis de outras regiões estão proibidos de viajar para a capital, uma diferença de tratamento que causa exasperação e raiva.

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"Saímos da França para vir para Madri. É surreal poder beber uma cerveja num bar, quando em Paris estamos confinados. É mágico", explica o sorridente Mathieu de Carvalho, estudante de 22 anos que chegou à capital espanhola com mais três amigos.

Desde o fim da primeira onda da pandemia e o desconfinamento em junho de 2020, a região de Madri mantém suas portas abertas aos estrangeiros. Agora, a chegada da primavera e o bom tempo atraem um turismo em busca de museus, bares, restaurantes e teatros abertos.

Fora da capital, os alemães poderão viajar nesta Páscoa para a ilha de Mallorca, nas Baleares, um dos seus destinos preferidos.

Mas, ao mesmo tempo, e com exceção das Ilhas Canárias, as viagens estão proibidas entre as regiões da Espanha, exceto por motivos de força maior.

A medida é válida até o dia 9 de abril, para evitar uma quarta onda durante a Semana Santa (28 de março a 4 de abril), sinônimo de deslocamentos em tempos normais.

Isso significa que os espanhóis não podem deixar sua região para ver seus parentes em outra parte do país.

"Pandemia para todos" 
Em plena campanha para as eleições regionais de 4 de maio, uma das candidatas, Mónica García (esquerda radical), critica indignada o "turismo bêbado". E ataca a comunicação do governo regional, de cunho conservador, que segundo ela transmite a mensagem de que "aqui em Madri estamos livres da covid".

"Enquanto os madrilenos não podem ir ver seus parentes, no andar de cima estão dando festas ilegais", reclamou a candidata do Más Madrid.

A polícia teve que intervir em inúmeras ocasiões para impedir essas festas organizadas em apartamentos turísticos, onde dezenas de pessoas se reúnem sem respeitar as medidas de precaução.

O prefeito de Madri, o conservador José Luis Martínez-Almeida, defendeu a chegada de turistas estrangeiros, que vêm não para "beber", mas "aos nossos teatros, aos nossos cinemas, ao nosso Teatro Real, para desfrutar da cultura".

Um raciocínio que não aplaca a indignação de muitos madrilenos.

"A pandemia é para todos", e "se todos temos que ficar em casa, isso deve valer para locais e forasteiros", diz José Rodríguez, fotógrafo de 28 anos irritado por não poder visitar a família no sul da Espanha.

"É uma decisão muito estranha e muito difícil de compreender", acrescenta Félix Domingo, madrilenho de 65 anos.

Até a Comissão Europeia condenou esta contradição.

Na segunda-feira, seu porta-voz Christian Wigand pediu uma maior "coerência" aos Estados-membros, porque "as fronteiras não contam para o vírus".

Em um país altamente dependente do turismo, o presidente do governo, Pedro Sánchez, defendeu-se no Congresso na quarta-feira, afirmando que sua política é "consistente com as recomendações" de Bruxelas.

Nas ruas de Madri, alemães, portugueses, italianos e franceses, estes últimos particularmente destacados, aproveitam, a tal ponto que a embaixada francesa foi obrigada a reagir e pedir para não "estigmatizar" os franceses nem "exagerar um fenômeno que não existe".

Longe das polêmicas, Mélanie Ben, uma estudante francesa de 24 anos de passagem por Madri, já pensa em quando voltará à capital espanhola.

"As pessoas acham que você não pode viajar, quando na verdade você pode. É uma vida que havíamos perdido, aquela vida de antes", resume radiante.

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