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O maraturista

Everest, Atenas, Muralha da China... Tadeu Guglielmo já rodou o mundo correndo maratonas incríveis em lugares mais incríveis ainda


	Pessoas correm em maratona: para comemorar uma década “maraturistando” pelo planeta, Tadeu Guglielmo lista as dez corridas mais incríveis que já fez ao redor do mundo
 (Getty Images)

Pessoas correm em maratona: para comemorar uma década “maraturistando” pelo planeta, Tadeu Guglielmo lista as dez corridas mais incríveis que já fez ao redor do mundo (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 14 de janeiro de 2014 às 15h58.

Tudo começou em Nova York, há exatos dez anos. Foi lá que José Tadeu Guglielmo, paulistano, economista, 48 anos, casado, pai de três filhas, correu sua primeira maratona. Apaixonou-se pela distância — e pelo turismo que, de quebra, fez após a prova. E não parou mais.

Hoje acumula muitas histórias e fotos em seu perfil no Facebook, tiradas mundo afora. “Maraturista” por opção, Tadeu já correu em todos os continentes: fez 25 maratonas em 21 países.

A paixão pela corrida vem desde 1995, ano em que o economista completou sua primeira São Silvestre. O sonho era antigo. Desde pequeno, nas noites em que a tradicional prova paulista era transmitida na TV, ouvia sua mãe dizer que o desejo de seu pai, falecido em 1973, era um dia completar a prova. Tomada a aspiração para si e querendo largar o sedentarismo, Tadeu decidiu corrê-la.

A estreia nos 42 km, em Nova York, foi oito anos depois. Seu tempo — 4h05 — não foi nada mau e ele terminou a prova com um novo objetivo: “A união da maratona e da viagem foi tão emocionante que eu decidi juntar o útil ao agradável; conhecer cada vez mais lugares correndo.”

Para comemorar uma década “maraturistando” pelo planeta, ele lista aqui as dez corridas mais incríveis que já fez ao redor do mundo — com direito a dicas imperdíveis sobre as provas e cidades, para quem se aventurar a corrê-las. E aí, vai embarcar nessa?

Maratona da Grande Muralha
A PROVA

É preciso bastante preparo para encarar essa prova. O árduo percurso de 42 km tem apenas um trecho que passa pelo monumento, construído há cerca de 1500 anos e considerado uma das sete maravilhas do mundo. Há muitas subidas e descidas em 5164 degraus. Como parte da preparação, fazia meus treinos na escadaria do Estádio do Pacaembu, em São Paulo.

Na prova, o topo de cada subida conta com um ponto de apoio que oferece sombra, água, bebidas esportivas, esponjas para ajudá-lo a se refrescar, além de palavras de incentivo. Difícil é recuperar o fôlego diante daquelas paisagens. No resto do percurso, passamos por pequenas vilas rurais, com muita estrada de terra e trechos difíceis.

O LUGAR
Para participar dessa prova é preciso comprar um pacote de seis ou sete dias, providenciado pela organização. Ele oferece um tour histórico por Pequim, visitas incríveis à Cidade Proibida e um dia para reconhecimento de uma parte do percurso da prova, cerca de 3,5 km de caminhada.

O que mais me marcou foi conhecer a Grande Muralha, mas a visita a Pequim é imperdível. Inclua também em seus planos paradas na Cidade Proibida, no Templo do Céu, no Palácio de Verão, no Mausoléu de Mao Tsé-Tung e nos Túmulos Ming.


Maratona de Auckland
A PROVA

Não é uma das maiores provas. Correm, no máximo, 2 000 pessoas. Eu a considero uma corrida rápida, porque é basicamente plana. Como a largada é na parte da manhã, tem clima agradável (não passa dos 20º C). Lá fiz meu recorde pessoal (3h39). Vale a pena pelo visual.

O LUGAR
Dividido em duas ilhas principais, o país é um dos lugares mais bonitos que já conheci. Se quiser correr nessa prova, reserve duas semanas para explorar o local.

Na Ilha Norte, onde a prova é realizada, há belíssimas praias, vulcões, lagos multicoloridos e outras formações geológicas inusitadas (uma delas serviu de cenário para a trilogia O Senhor dos Anéis).

Na Ilha Sul, minha preferida, as atrações são os montes nevados, como o Monte Cook, ponto culminante do país, e os esportes radicais, como bungee jump, paraquedas e paraglider. Qualquer um que vai ama.

Maratona de Kilimanjaro
A PROVA
A largada é de manhã, o que ajuda a fugir do calor, mas ele inevitavelmente vai aparecer durante a prova (felizmente, a cada 4 km há postos de hidratação).

Além das altas temperaturas, as subidas são os principais obstáculos. Apesar da dificuldade, o Monte Kilimanjaro nos acompanha por toda a prova, garantindo uma corrida exótica e nos estimulando nos momentos difíceis. O trajeto passa por pequenas fazendas, vilas, uma parte da cidade de Moshi e até por plantações de banana e café. Tirando a da Muralha da China, essa foi a prova mais difícil que já corri.

O LUGAR
Quando eu fui, escolhi um pacote que incluía uma escalada ao Monte Kilimanjaro, no dia seguinte à prova, e um safári. Não me arrependi. Além de subir o Kilimanjaro, não deixe de visitar a Cratera de Ngorongoro, o Parque Nacional de Serengeti e a Aldeia Massai, onde você conhecerá pessoas incríveis.


Maratona da Antártica
A PROVA

A prova tornou-se um detalhe diante de tanta coisa legal que vi por lá, mas vale a pena pela experiência única. Infelizmente, não é tão fácil conseguir vaga. Como a maratona é restrita a 100 participantes e a procura é grande, só há vagas disponíveis para a edição de 2017 (!) — entre 2014 e 2016 pode-se entrar em listas de espera.

A aventura já começa na chegada. Como na Antártica o tempo muda rapidamente, a confirmação da prova é dada somente na véspera. Houve ano em que, devido às péssimas condições do tempo, o grupo não pôde desembarcar em terra firme e os 42 km foram percorridos no convés do navio.

Não há posto de apoio, então você precisa montar sua estratégia e deixar pelo caminho o que pode precisar (água, gel, vaselina, roupa, protetor solar, manteiga de cacau) — o fato de serem quatro voltas pelo mesmo percurso ajuda na logística. Também não pode deixar nenhum lixo pelo caminho.

Tudo o que for descartado ao longo da estrada deve ser recolhido por você. Dois ou três triciclos patrulham constantemente o percurso para auxiliar os participantes e há postos médicos na largada e na chegada.

O LUGAR
Para participar da prova, é necessária a aquisição de um pacote turístico, reservado com no mínimo dois anos de antecedência, devido à procura e ao limite de participantes. O pacote inclui três dias em Buenos Aires em um hotel de luxo, um voo para Ushuaia (extremo sul da Argentina) e embarque do grupo em dois navios, numa viagem de dez dias até o continente gelado.

É um itinerário deslumbrante. Nas excursões diárias, a pé ou de navio, pudemos conhecer a remota paisagem antártica e ver de perto icebergues, pinguins, baleias, focas, leões-marinhos, geleiras e albatrozes.


Desafio do Pateta
A PROVA

A prova faz parte do Walt Disney World Marathon Weekend, três dias de eventos voltados para a corrida pelos parques da Disney. O fim de semana é reservado para o Desafio do Pateta. No sábado fizemos a meia maratona nos parques Magic Kingdom e Epcot e, no domingo, a maratona percorre todo o complexo (Epcot, Magic Kingdom, Animal Kingdom e Hollywood Studios).

O clima é de descontração, da largada à chegada. Eu nem me preocupei com o tempo. Muitas pessoas vão fantasiadas e concluem a prova andando. Para quem busca boas marcas, os percursos são praticamente planos.

O LUGAR
Fazer esse desafio foi mágico. Eu venho de uma família humilde e realizar esse sonho de conhecer a Disney foi algo de outro mundo. Depois das provas, fomos até os parques e nos divertimos muito. É o passeio perfeito em família.

Maratona do Everest
A PROVA

A Maratona do Everest pode ser uma das mais difíceis que existem no mundo, principalmente para pessoas que, como eu, têm medo de altura. É a montanha (e a maratona) mais alta do mundo (8 848 metros) e o percurso atinge 5 545 metros de altitude. A maratona é sempre realizada no dia 29 de maio, pois foi nesse dia, em 1953, que o nepalês Tenzing Norgay e o neozelandês Edmund Hillary chegaram ao cume do Everest pela primeira vez.

Mas os participantes precisam chegar ao Nepal três semanas antes da largada, para aclimatação. Todos se reúnem em um hotel em Katmandu e partem em um teco-teco para Lukla, a 2 834 metros de altitude. Dica para quem quiser dar uma chance ao risco: sente-se na janela no lado esquerdo do avião para apreciar o Himalaia do ângulo mais impressionante.

O LUGAR
Apesar do sofrimento, tive momentos deslumbrantes durante o desafio. Os dias amanhecem claros, deixando à mostra os gigantes nevados. A vista é esplêndida. Outros destaques são as fascinantes aldeias sherpas, com sua cordialidade, hospitalidade e simpatia, além dos mosteiros budistas espetacularmente localizados.

Dali começa uma caminhada rumo ao campo-base. Foi um repetitivo sobe e desce, forçando a aclimatação e transportando apenas o necessário. São sete dias até o local da largada. Na prova, o mais difícil não é terminar, mas começar. Devido à diminuição do oxigênio, tive fortes dores de cabeça, falta de apetite, fadiga, enjoo, vômito, diarreia, insônia, febre e inchaços pelo corpo. Finalizar a prova é mais uma questão de sobrevivência do que de competição.


Maratona de Atenas
A PROVA

Foi o soldado ateniense Fidípedes quem primeiro percorreu os cerca de 40 km que separam as cidades de Maratona e Atenas, para levar a notícia da vitória grega sobre os persas, na Batalha de Maratona. O trajeto da prova é o mesmo originalmente percorrido pelo soldado, com subidas e descidas pelas ruas de Atenas.

É emocionante saber que você está refazendo os passos de deuses e heróis antigos, numa cidade onde nasceram os Jogos Olímpicos modernos. A linha de chegada, aliás, é no lindo Estádio Olímpico, inaugurado em 1982. Quando larguei, o céu estava azul e havia balões coloridos no horizonte.

Você encontra pessoas do mundo inteiro, e pelo caminho, há gente gritando “Bravo! Bravo!”. Correr essa maratona, para mim, foi um momento único de alegria e prazer. Na chegada, com o Estádio Olímpico lotado, confesso que não consegui segurar as lágrimas.

O LUGAR
A maratona nos faz passar pelas ruas de Atenas e conhecer parte da cidade histórica por meio da corrida. É lindo e emocionante. Não deixe de conhecer o complexo de templos da Acrópole, onde se encontra o Parthenon, que é o templo da deusa grega Atena, o Templo de Poseidon, na linda Ilha de Póros, comer uma mussaká (tipo de lasanha de berinjela, batata e carne moída), visitar o Museu Benaki e o Monte Lycabettus. O site da maratona tem boas opções de pacotes, um mais longo, de 12 dias, e outro de seis – os dois já incluem a maratona.

Maratona Rapa Nui
A PROVA
Ela praticamente atravessa a pequena Ilha de Páscoa, no Chile. O percurso — todo no asfalto — passa por colinas, vales, praias e a região dos moais, estátuas de pedra de 1 a 10 metros de altura. A sinalização é excelente e há postos de hidratação a cada 5 km. A temperatura varia muito pouco, em torno dos 20 oC, mas prepare-se para encarar uma bela subida lá pelo km 24.

O LUGAR
A Ilha de Páscoa é isolada do mundo, fica a mais de 3 200 km da área povoada mais próxima. A principal atração ali são os moais, espalhados ao longo da costa. Misteriosos, ninguém sabe até hoje como foram construídos, nem para qual função. A paisagem única inclui vulcões inativos, praias paradisíacas, sítios arqueológicos e cavernas. Hanga Roa, a capital da ilha, abriga a maioria da população, bastante simpática, e é onde ficam as pensões, os restaurantes rústicos e várias empresas de mergulho.


Maratona do Sol da Meia-noite
A PROVA

Em Trömso, no norte da Noruega, o sol fica dois meses sem se pôr, da metade de maio até o fim de julho. Isso significa que, embora a prova comece às 20h30, os participantes são banhados pela luz solar do início ao fim da corrida. A prova começa no centro da cidade, numa ilha, e passa pela ponte de Trömso até chegar ao continente.

Com percurso praticamente plano à beira-mar, é indicada inclusive para os menos experientes. Entre todas as competições certificadas pela Associação Internacional de Maratonas e Corridas de Longa Distância (AIMS), é a maratona que fica mais ao norte, a uma latitude de 70 graus.

O LUGAR
A sensação de claridade total à meia noite é bem diferente. O corpo perde a referência das horas do dia. Apesar de estar tão ao norte, não faz tanto frio quanto na Antártica. O clima é equilibrado pela Corrente do Atlântico Norte. No inverno, neva muito, mas dificilmente faz menos do que -10º C. No verão, fica entre 5 e 15º C.

A melhor maneira de chegar até Trömso a partir de Oslo é de avião (2 horas de voo), mas preferi ir de trem. São 8 horas até Trondheim e mais 10 horas até Bodo. A partir de lá, peguei um cruzeiro até Trömso (cerca de 20 horas). Apesar da longa viagem, recomendo muito. A paisagem é espetacular e o preço pode sair bem mais em conta. Em Oslo, visite o Palácio Real e os museus. Em Trömso, ande de teleférico e visite a Catedral do Ártico.

100 Km do Saara
A PROVA
Oportunidade para os loucos que sempre sonharam correr no deserto e fazer uma ultramaratona. O evento é pura aventura, mas duríssimo e exige muita preparação. São quatro etapas que minam suas energias aos poucos. No primeiro dia fazemos 23 km (1ª etapa), no segundo, 26 km durante o dia (2ª etapa) e 9 km à noite (3ª etapa), e, por último, a maratona (4ª etapa).

O percurso não fica apenas em areia. Passamos por terra, grama, cascalho e o terreno varia de plano a montanhoso. Além disso, a queda brusca de temperatura à noite torna tudo mais difícil. Não é uma ultramaratona normal, portanto, fazer um bom tempo ali é coisa de louco.

O LUGAR
A prova sempre ocorre na Tunísia, mas no ano em que participei, o país já passava por turbulências políticas e a prova foi realizada no Senegal. O visual era incrível, com um belo pôr do sol e um céu sempre lotado de estrelas.

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