Off White-Nike Jordan 1: lançado em colaboração entre Nike e Off-White (Edward Berthelot/Getty Images)
Redatora
Publicado em 23 de outubro de 2025 às 07h12.
Que o legado dos tênis esportivos é forte não é novidade. Quando os calçados são associados a estrelas do esporte, o sucesso é ainda maior. É o caso de Michael Jordan, astro do basquete que se tornou referência mundial. Em 1984, o ex-atleta firmou uma parceria com a Nike, dando início ao fenômeno da Air Jordan, linha que transformou o mercado e o comportamento dos fãs.
A colaboração foi tão bem recebida globalmente que ganhou até um livro sobre o negócio — diferente das tradicionais biografias focadas apenas no atleta. Escrito pelo crítico cultural Adam Bradley e publicado pela editora Assouline, o manuscrito celebra os quarenta anos da linha e se destaca por olhar para o impacto da marca como negócio e expressão cultural.
O Air Jordan Book reúne 408 páginas e seis capítulos, cada um correspondente aos títulos da NBA conquistados entre 1991 e 1998. As imagens inéditas mostram não só o atleta, mas também o processo criativo das coleções e o poder estético que moldou o esporte e a moda. Em entrevista a Michael Sykes, da coluna The Kicks You Wear, do Business of Fashion, Bradley explicou que seu interesse pelo projeto surgiu de sua vivência como fã de esportes e pela curiosidade sobre a influência do estilo no desempenho dos atletas.
Mas o livro vai além de uma homenagem. Ele busca entender por que os tênis continuam relevantes quatro décadas depois, atravessando gerações e consolidando um legado que parece imune ao tempo.
O fenômeno dos Jordans ultrapassa fronteiras e gerações. Há colecionadores que não se desfazem dos modelos clássicos e pais que transmitem aos filhos o valor simbólico dos pares. Ao ser questionado sobre o que mantém o impacto cultural da marca tão forte, Bradley se apoia na experiência que o produto proporciona.
“No coração do Jumpman (símbolo da marca) existe um sentimento. Isso aparece em várias entrevistas do livro, com atletas e artistas como J Balvin e Billie Eilish. Todos falam da sensação de calçar um par de Jordans. Pra mim, são os Jordan 3s — às vezes os 6s — meus favoritos de infância. Você anda diferente com eles. Isso tem a ver com design, com estilo e com a conexão a um momento da história — e da vida de cada um. Mesmo quem não era nascido quando esses tênis foram lançados sente esse legado.”, diz o autor.
Mesmo após 22 anos da aposentadoria de Michael Jordan, seus recordes continuam intocados: o maior número de troféus da NBA, dez títulos de cestinha e a maior média de pontos em uma final da competição.
“Acho que o MJ é um dos últimos símbolos da monocultura. Quando ele se aposentou, estávamos às vésperas da era das redes sociais e dos smartphones. Naquele tempo, havia um tipo de mistério possível para as celebridades que hoje não existe mais. Mesmo LeBron James, com uma carreira quase impecável, vive sob críticas constantes. Com Jordan, o foco da mídia era intenso, mas mais concentrado. Ele podia ter uma vida pública e privada — algo praticamente impossível hoje. Por isso, acredito que ele pertence à última geração que pôde alcançar esse nível de reconhecimento e respeito universal”, afirma Bradley.
Um dos pontos mais marcantes do novo livro é o destaque à conexão entre o atleta, a Jordan Brand e a comunidade negra. Bradley enfatiza que, apesar de muitos dizerem que Jordan “transcendeu” a questão racial, o ex-jogador nunca se afastou de suas raízes.
“Basta ouvir sua mãe: ‘Meu filho sabe de onde veio’. Ele sempre reconheceu suas origens, sua comunidade e sua cultura — e isso aparece claramente em suas ações filantrópicas nos últimos anos. Jordan pertence ao mundo, mas também pertence, de forma especial, aos negros americanos. Ele representa um sonho não adiado, mas conquistado.”
Os fãs de Michael Jordan e da marca podem adquirir o livro em duas versões: a Clássica, por US$ 123, e a Ultimate, por US$ 2.300 (aproximadamente R$ 660 e R$ 12.350 na cotação atual). A edição de luxo é limitada a mil cópias numeradas à mão e vem com um estojo rígido que protege o conteúdo — uma peça à altura do legado que transformou o esporte em símbolo de estilo, poder e cultura.