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Da Redação
Publicado em 5 de outubro de 2011 às 11h21.
São Paulo - “Eu não a conhecia. E é difícil você virar o marido de alguém que nunca viu de um dia para outro. Mas ela é uma pessoa muito divertida. Além de talentosa também”, diz Rodrigo Santoro. Deve ser a quarta ou quinta vez que o ator repete a mesma resposta, com pequenas variações, se referindo a Jennifer Lopez. Corre a tarde do dia 29 de setembro e ele está há umas cinco horas zanzando entre três salas diferentes, no mesmo andar de um hotel em São Paulo, dando entrevistas para jornalistas de TVs, revistas e jornais. As chamadas junket sessions.
A ideia é divulgar o filme Meu País, de André Ristum, que estreia dia 7 de outubro na cidade. Nele, Rodrigo vive um brasileiro bem sucedido, que mora na Itália e tem de voltar para cá e lidar com problemas familiares após a morte do pai. Para falar sobre a trama, diretor, ator e produtor se revezam entre as salas. Rodrigo continua simpático mesmo após a décima segunda entrevista – e após vários: “Os boatos são só boatos”, ainda sobre Jennifer Lopez – uma vez que vários meios de comunicação especulam com um romance entre eles.
De jeans, tênis e camiseta preta, Santoro finalmente se senta à minha frente. Ocupa todo o espaço: é alto, largo, gesticula. Está visivelmente cansado, mas bem disposto para falar, receptivo. Com fome, devora na passagem metade de um sanduíche encomendado pela assessora que estava dando sopa na sala ao lado. Temos dez minutos. E neles, Rodigo conta um pouco do que vive e aprendeu:
“Como todo meio italiano, sou um cara emotivo. E muito próximo de minha família. Tenho pai e mãe juntos, o que é uma raridade. Entre os meus amigos, eu me sinto um E.T. nesse sentido, infelizmente. Mas essa é minha referência. Mesmo viajando muito, minha família é muito próxima. Meu País me interessou justamente porque falava de família e afetos (Rodrigo estava para tirar férias quando recebeu o roteiro e resolveu interrompê-las para poder filmar). Eu viajo muito, então essa questão afeto versus distância me interessa: ver como você mantém os laços, como os alimenta. Principalmente na era do bombardeio digital, em que, se você deixar, a pessoa está até na sua frente, mas falando: “Só um minutinho (ele faz um gesto com a mão e finge digitar um texto em um iPhone).”
“Vivo entre os EUA e o Brasil há uns seis, sete anos. Tenho casa só aqui. Em Los Angeles, já morei em quase todo tipo de situação. Só não acampei porque os acampamentos ficam longe dos lugares que tenho de ir. Já dormi até no carro, teve de tudo. Atualmente, alugo um apartamento, dividindo com uma amiga. Já foi mais divertido, está começando a cansar. Viajar é maravilhoso, continuo amando, mas tudo em excesso cansa. Gostaria de ficar mais tempo por aqui. Não tem sido penoso, porque, a partir do momento que for, eu vou parar. Eu me escuto muito, respeito muito meu bem estar, eu tenho de estar feliz. Não faço nada porque “essa é a regra”, a regra é a gente que faz.”
“Estou muito satisfeito com as oportunidades e experiências que tenho tido, mas sempre que posso eu dou uma esticada por aqui. Heleno (filme com estreia prevista para 2012) e Meu País, nesse sentido, foram duas grandes oportunidades de ficar alguns meses. Eu planejei isso, mas é difícil, porque acabo fechando portas por lá. Fiquei oito meses filmando aqui no Brasil e com certeza perdi oportunidades nos EUA, mas não me arrependo. Não vejo o trabalho fora com toda essa seriedade. Pra mim é uma aventura. Não tem: “Ah, minha carreira, Hollywood”. É só um lugar onde estão me dando trabalho.”
“O fato de estar fora me deixa mais livre, me dá mais possibilidades de me reinventar, porque as pessoas não me conhecem. Aqui tem a coisa do galã. Lá quem me conhece é do meio, não rola esse assédio.”
“O assédio faz parte, me acostumei a lidar com isso e não deixo de fazer o que quero. Claro que não tenho a mesma liberdade, mas esse é o preço, vem no pacote. Ao longo dos anos, aprendi a lidar. Às vezes falo: Pô, precisava ter tanto paparazzi aqui? É desnecessário. Quando eu vou surfar, por exemplo, querendo relaxar. E é claro que os caras depois colocam a foto em que você caiu (risos).”
“Tenho vontade de ter filhos há muito tempo. Mas para mim, neste momento, parar para me dedicar a um outro é complicado. Eu preciso encontrar esse equilíbrio. Família é uma referência forte pra mim, ter todo mundo junto, perto. Tenho muita vontade. Mas tem hora pra tudo. Na hora certa isso vai acontecer.”
“Meu país é o que está dentro de mim, é o meu mundo interno, que onde quer que eu vá está comigo. São meus afetos, minha cultura. A opção de filmar aqui é exatamente por sentir necessidade de me aproximar, de alimentar quem eu sou. Para eu não me perder nesse grande caldo. Você começa a viajar muito e uma hora começa a não pertencer a lugar nenhum. Você coloca seu cérebro para funcionar em ingles, uma hora vai falar português e sai uma salada. Sinto a necessidade de me ancorar. Eu não fico de bobeira fora, assim que acabo um trabalho, venho para cá.”
“A grande diferença de filmar aqui ou nos EUA é cultural, de mercado. Lá a maioria dos filmes são feitos com grandes orçamentos. Mesmo um filme menor nos EUA é quase um filme de grande orçamento para os padrões do Brasil. Tem uma estrutura maior. Mas filme é igual. Estamos contando histórias de seres humanos. Nisso não há fronteiras. Filmes são histórias. E eu sou apenas um dos que contam essas histórias.”
“Para construir o personagem Marcos, de Meu País, tive duas semanas e meia. Em What to Expect when You’ re Expecting, o filme com Jennifer Lopez (estreia em maio de 2012), foram apenas três dias. E era pegar ou largar. Sempre que posso, faço uma grande preparação. Me da prazer, adoro pesquisar, sempre gostei. Mas o personagem vai sendo construído ao longo do processo. Não existe você se preparar e aí, na hora de filmar, estar pronto. Eu nunca me sinto pronto. Vou buscando até o ultimo dia de filmagem. Estou no set e estou aprendendo, errando, experimentando. A cada dia você volta pra casa e pensa: Por que fiz por ai? Você vai arriscando. Muitas vezes, quando você acaba dá aquela sensação de: “podemos começar de novo?” Porque você sabe tanto mais sobre aquele personagem…”
“O grande barato de ser ator é que aprendo muitas coisas. Tenho a oportunidade de me aproximar, de pesquisar, de explorar universos que eu não conheço. Uma coisa é ler sobre um assunto, olhar de fora. Ler sobre o sofrimento mental, a loucura, por exemplo. Outra é você ir lá, se aproximar, vestir os sapatos do outro. Aí você comeca a entender. Você se despe dos estereótipos. Uma travesti, o que é uma travesti? (Rodrigo viveu Lady Di no filme Carandiru, de Héctor Babenco). Uma coisa é o que você pensa, outra é viver isso, ir quebrando os preconceitos. Isso me expande a visão, me aproxima das pessoas, me deixa mais humano de alguma forma. E isso não tem preço.”