Documentário "Neymar: o Caos Perfeito": altos e baixos do craque (Netflix/Divulgação)
Ivan Padilla
Publicado em 30 de janeiro de 2022 às 15h27.
Última atualização em 30 de janeiro de 2022 às 15h28.
Neymar, uma das figuras mais midiáticas do país, joga em dois campos opostos, o amor e o ódio de seus seguidores nas redes sociais. Cada postagem, sobre futebol ou sobre o Big Brother Brasil, é seguida de dezenas de milhares de likes e comentários encorajadores – mas também de algumas tantas centenas de críticas.
Um de seus posts mais recentes é sobre a série “Neymar: o Caos Perfeito”, disponível desde terça-feira 25 na Netflix. “Agora é com vocês”, comenta o atacante. No que é seguido por 1.449 comentários, quase todos positivos. Os três episódios dos documentários tentam fazer um mergulho na intimidade do jogador.
A relação perdida com a família, fruto de ter começado a carreira muito cedo, com viagens e concentrações logo aos 14 anos, as mágoas com os críticos, chamam a atenção nos episódios. O jornal L’Équipe apontou que a qualidade da série é mostrar os principais momentos da carreira do craque sem esconder as polêmicas e os deslizes.
Ainda assim, momentos essenciais da vida do craque não foram explorados: as acusações de assédio e a falta de colaboração com as investigações que levaram ao rompimento do contrato com a Nike, a relação com a atriz Bruna Marquezine, a saída conturbada do Barcelona.
"De alguma forma, a interpretação dos filmes também reflete quem está assistindo” afirma aponta Bruno Maia, CEO da Feel The Match e executivo de inovação no esporte. “O que cada um pensa sobre o Neymar dificilmente será alterado pela série, e acho essa dualidade rica e difícil de se alcançar.”
Maia não acredita ser responsabilidade da série mudar a opinião de ninguém. “Você pode achar a série do Neymar corajosa ou irritante. Já ouvi os dois comentários de duas pessoas que pensavam exatamente as mesmas coisas sobre o próprio Neymar”, afirma o executivo, autor do Livro "Inovação é o Novo Marketing e diretor da série documental “Romário, o Cara”.
"Existe um lado humano que não pode ser desprezado, e é o que faz Neymar ser o Neymar de hoje”, diz Lênin Franco, especialista em marketing e atualmente diretor de novos negócios do Botafogo. “Ele é o responsável pelos proventos da família desde os 14 anos, o que para uma criança já é um peso enorme.”
Como todos craques da atualidade, Neymar começou cedo e abriu mão de coisas simples para qualquer criança, como andar na rua ou ir ao cinema. “De alguma maneira ele criou a bolha dele, com os amigos e as pessoas em quem ele confia, e é natural que isso aconteça”, afirma Franco.
A série abre com uma lembrança que parece ser traumática para o jogador, em 2011, quando o então técnico do Santos Renê Simões afirma: "Estamos criando um monstro." Neymar tenta passar no documentário a imagem de que não se preocupa com a opinião pública. Talvez não seja bem assim.
"Apesar da personalidade controversa, Neymar é inegavelmente um ídolo para uma parcela gigantesca de brasileiros, especialmente os mais jovens”, diz Felipe Soalheiro, diretor da agência SportBiz Consulting, especializada em marketing esportivo. “Como marca, ainda que algumas de suas ações despertem críticas, ele tem uma relevância que nenhum outro esportista brasileiro teve, ao menos na década.”
A falta de um título nacional de relevância contribui para as críticas. “Conquistar a Copa do Mundo pela seleção brasileira no Catar sem dúvida iria colocá-lo entre os maiores ídolos dos brasileiros de todos os tempos”, diz Soalheiro. “O que, mesmo assim, não significa que ele terá o carinho e admiração de todos."
Guilherme Figueiredo, fundador e diretor executivo da plataforma de streaming NSports, afirma que o tipo de informação do documentário tem a capacidade de trazer um outro viés para quem assiste. “A geração de conteúdo tem a capacidade de humanizar os atletas. Seja com vídeos curtos em redes sociais, ou em séries muito bem produzidas como a do Neymar, conhecer mais a história e o lado pessoal do atleta nos leva a refletir que, apesar de ser genial, Neymar é tão humano quanto todos nós.”
Neste ano de Copa do Mundo, Neymar estará em evidência. Na Mundial da Rússia, em 2018, seu nome teve 2,4 milhões de interações, entre comentários, curtidas e compartilhamentos, segundo dados divulgados pela Buzzmonitor Trends, ferramenta de monitoramento de redes. Na semana do dia 12 de agosto de 2020, entre a semifinal e a final da Champions League, as menções ao seu nome tiveram 2,3 milhões de interações.
Em 2017, quando se transferiu do Barcelona, dados do CrowdTangle mostraram que Neymar e o Paris Saint-Germain fizeram 38 postagens no Facebook, com 13,8 milhões de interações em apenas uma semana. No Instagram o número também foi alto, com 54 postagens e 55,6 milhões de interações nas duas contas.
Muitas dessas interações foram pontuadas por frases ou hashtags que viralizaram na boca de Neymar, como “O pai tá on”. Sem contar expressões associados ao seu nome, nem sempre de forma positiva, como “É toys”, “Os parças”, “Menino Ney”.
"O Neymar é um fenômeno de marca que ultrapassa o limite do esporte.”, diz Renê Salviano, especialista em marketing esportivo e que comanda a empresa Heatmap. “Ele é uma referência, atrai parcerias diversas pela forma como se coloca e atinge milhões de seguidores, como no último Big Brother Brasil. Ele forma opinião e as coisas como ele coloca tomam uma proporção enorme.”