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O alemão-brasileiro que quer se tornar o melhor relojoeiro do mundo

Felipe Pikullik nasceu em Berlim, Alemanha, mas tem raízes brasileiras. Criou a própria marca de relógios em 2017

Felipe Pikullik: relógios feitos à mão. (Divulgação/Divulgação)

Felipe Pikullik: relógios feitos à mão. (Divulgação/Divulgação)

Gilson Garrett Jr.
Gilson Garrett Jr.

Repórter de Lifestyle

Publicado em 21 de outubro de 2024 às 15h01.

Última atualização em 24 de outubro de 2024 às 12h42.

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No disputado mercado de alta relojoaria e da relojoaria de luxo tem crescido a participação de marcas independentes, formadas recentemente, desvinculadas de grandes grupos como Richemont e Swatch, e de marcas centenárias como a Rolex. Nesse cenário, um alemão-brasileiro tem se destacado. Felipe Pikullik nasceu em Berlim, Alemanha, mas tem raízes brasileiras. “Meus pais são brasileiros e vieram para cá porque acreditavam que a vida e a educação seriam mais fáceis aqui”, conta.

Desde cedo, Felipe demonstrou paixão por matemática, física e astronomia — uma combinação útil para o ofício de relojoeiro. “Aprendi também habilidades manuais com meu pai, que trabalha na construção civil”, afirma. Aos 13 anos, ele já desmontava e montava relógios, fascinado pelos mecanismos e componentes que fazem o acessório marcar o tempo.

Felipe lançou sua marca homônima em 2017, após cursar a renomada escola de relojoaria alemã de Glashütte, uma referência para o setor. Na estreia, ele apresentou a coleção “Prius Collectio”, composta por cinco modelos totalmente esqueletizados, cada um com um tema de design específico, o que se tornou uma de suas assinaturas.

Modelos produzidos artesanalmente

Um desses modelos é o FPSK24, lançado em três edições limitadas de dez peças cada. O relógio apresenta superfícies  gravadas à mão. Durante todo o processo de produção, Felipe Pikullik cuida de cada detalhe com precisão, resultando em um movimento que não apenas incorpora uma estética refinada, mas também prioriza funcionalidade e estabilidade técnica. A edição Pure custa 18.000 euros.

Mais recentemente, o alemão-brasileiro uniu suas duas paixões — astronomia e relojoaria — e lançou o Sternenhimmel, um design que remete à sensação de observar o cosmos. Os cristais no vidro de aventurina criam um efeito de céu estrelado, complementado pelas bordas chanfradas polidas da placa de identificação e pelos ponteiros polidos à mão. O modelo com diamantes custa 14.500 euros.

Cerca de 80% da produção dos relógios é feita de forma manual, e o objetivo de Felipe é que em breve todo o processo seja artesanal. Atualmente, ele treina sua equipe para replicar as técnicas que ele utiliza. O time, formado por 12 pessoas, também está sendo introduzido à arte da relojoaria. O sonho de Felipe é claro: “Quero me tornar o melhor relojoeiro do mundo”.

Aos 30 anos, Felipe combina ambição e talento. Seus relógios são comercializados por algumas dezenas de milhares de dólares, o que permite financiar o crescimento da produção artesanal. Em entrevista exclusiva à EXAME Casual, ele compartilhou seus planos para o futuro. Embora tenha aprendido a falar português, a conversa foi em inglês, língua em que se sente mais confortável. Confira os principais trechos a seguir.

Felipe Pikullik. (Divulgação/Divulgação)

O que torna seus relógios únicos no mercado?

É o fato de serem feitos à mão. Mesmo no modelo mais simples da nossa coleção, como o clássico, os ponteiros são feitos artesanalmente, o que poucos sabem. Além disso, treino constantemente minha equipe para que um dia possam criar relógios totalmente à mão. Contudo, fazer um relógio 100% artesanal hoje teria um custo muito elevado, e seria inviável para a maioria dos compradores.

Qual é o maior desafio de manter a tradição da relojoaria artesanal?

O desafio é que a relojoaria artesanal está desaparecendo aos poucos. Hoje, a maior parte dos relógios é feita com peças geradas por computador. Minha meta é preservar e ensinar as habilidades artesanais que não existem mais, criando uma manufatura que produza relógios feitos à mão. Isso exige muito treinamento, paciência e dedicação, mas acredito que, com o tempo, será possível construir uma manufatura única.

Você diz em entrevistas que não escolheu ser relojoeiro, mas que isso faz parte do seu caráter. Pode explicar melhor?

Exato, nunca decidi ser relojoeiro. Isso está ligado à minha essência, é uma combinação dos meus interesses: física, matemática, astronomia e o trabalho manual que aprendi. Meu primeiro contato com a relojoaria foi aos 13 anos, quando vi um relojoeiro desmontando um relógio na TV. Aquilo me fascinou, e a partir desse momento, surgiram muitas perguntas que me fizeram mergulhar cada vez mais no universo da relojoaria.

Qual é o próximo passo para sua marca e sua carreira?

No momento, estou muito focado na produção e no desenvolvimento de novas complicações, como a Moonphase 2. Esse modelo será 80% feito internamente, o que nos permitirá um nível de complexidade maior. Meu objetivo é crescer organicamente, mantendo a qualidade e a tradição, enquanto introduzo novas coleções que vão desde os relógios de entrada até os modelos completamente artesanais e de alto padrão. Eu quero me tornar o melhor watchmaker do mundo.

E quanto aos smartwatches? Você os vê como concorrentes diretos?

Não vejo os smartwatches como concorrência. Comparar um smartwatch com um relógio mecânico é como comparar uma foto com um desenho. Ambos podem ser obras de arte, mas nunca serão iguais. Um smartwatch pode ter sua utilidade e até ser considerado arte, mas ele nunca será um "Mona Lisa". A tradição e a história por trás de um relógio mecânico são incomparáveis.

Como foi construir sua marca em um país com tanta tradição na relojoaria, como a Alemanha?

Crescer em um país com uma história tão rica na relojoaria me influenciou muito. Me sinto conectado à tradição alemã, mas também percebo que a relojoaria tradicional está perdendo força. Não quero apenas trazer essa tradição de volta, mas também conectar o passado com o presente e o futuro. Não acredito em competição com outros relojoeiros. Para mim, existe espaço para todos nesse mercado.

Qual a sua visão para o futuro da relojoaria artesanal?

Penso a longo prazo, como daqui a 200 anos. Quero criar uma sociedade de relojoeiros que compartilhem conhecimento. Isso é o que torna a medicina tão avançada: a troca de informações. Se a relojoaria continuar como está, com cada um guardando seu conhecimento para si, ela não evoluirá. Meu sonho é criar uma comunidade onde possamos trabalhar juntos para desenvolver habilidades e inovações na arte da relojoaria.

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