Diane Keaton: a atriz afirmou que não tem a intenção de parar sua carreira (Rachel Luna/Getty Images)
AFP
Publicado em 8 de maio de 2019 às 10h45.
Com quase meio século de carreira, Diane Keaton diz nunca ter se sentido "assediada" sexualmente - avalia ela nesta entrevista à AFP, na qual também fala sobre amor, o fato de nunca ter se casado, a passagem do tempo e sua determinação de nunca deixar de trabalhar.
Foram 68 créditos de atuação desde seu primeiro papel em Hollywood, na comédia "As mil faces do amor" (1970). No caminho, trabalhou em clássicos como "O poderoso chefão" e em várias produções de Woody Allen, com quem mantém uma longa amizade depois de ter tido uma relação amorosa e de trabalho.
Em meio ao gigantesco escândalo de décadas de abuso e de assédio que manchou a carreira de pesos-pesados da indústria do entretenimento como Harvey Weinstein e Kevin Spacey, Allen voltou a ser atacado por velhas denúncias de que teria abusado de sua filha adotiva Dylan.
Foi com seu papel em "Noivo neurótico, noiva nervosa", um filme de Allen, que Dianne ganhou o Oscar em 1978.
"Woody Allen é meu amigo e eu ainda acredito nele", tuitou a atriz em janeiro de 2018. Nesta entrevista, ela prefere, porém, evitar o tema.
Ao ser consultada sobre se trabalharia de novo com o cineasta, ela fica em silêncio e espera a próxima pergunta.
Antes diz que nunca se sentiu assediada, como muitas outras atrizes que contaram suas histórias com a deflagração de um escândalo que levou ao movimento #MeToo.
"Nunca", afirma, taxativa, esta atriz indicada a outros três Oscars. "Talvez não tivesse o que precisava para ser assediada", acrescenta, em tom de brincadeira, tentando baixar um pouco a tensão.
"Realmente nunca foi parte da minha vida... No início havia testes, e quando tive filmes bem-sucedidos as ofertas de papéis chegavam. Tive muita sorte", afirma.
Os últimos dois filmes da atriz giram em torno de histórias de mulheres na idade madura: "Do jeito que elas querem", que reivindica que o amor não tem idade e, agora, "As rainhas da torcida".
"As rainhas da torcida" conta a história de Martha, uma mulher doente que decide abandonar tudo para se mudar para um lar para idosos e simplesmente morrer. No caminho, ela acaba criando uma equipe de líderes de torcida, o que dá uma guinada radical a seus últimos dias de vida.
Keaton, que protagonizou com Jack Nicholson "Alguém tem que ceder" (2003), outra comédia romântica sobre um casal na terceira idade com a qual ganhou o Globo de Ouro, exibe com orgulho seus 73 anos.
Longe de se incomodar sobre falar da idade, para ela, a vida é mais fácil à medida que se envelhece. "Você não tem nada a perder, esta é a verdade", diz, rindo.
Você passaria seus últimos dias em um lar para idosos? - perguntamos a ela. "Não sei", responde Dianne. "Mas, se acontecer, não seria uma líder de torcida como Martha", acrescenta, referindo-se ao filme.
"Nunca dancei, e ser líder de torcida é basicamente dançar (...) Tenho muita dificuldade para aprender", admite.
"Fiz teste na escola e não fiquei na equipe, mas meu coração sempre esteve na atuação", completou.
Já os lares para idosos não lhe são estranhos. "Fui voluntária nos meus 30 em um lar judaico e me conecto muito com os mais velhos", afirma. Ela conta que seu irmão, sobre quem acaba de terminar um livro, está em uma casa de cuidados por um quadro de demência.
O que é muito claro para Dianne, onde quer que ela more, é que a palavra "aposentadoria" não lhe passa pela cabeça.
"Nem penso nisso", diz, taxativa.
"E, se ninguém quiser me contratar, tenho muitos passatempos que consomem meu tempo", como a fotografia e a reforma de casas.
"Me dedicarei a eles como meu trabalho. Não tenho a intenção de parar", insiste.
Dianne Keaton, que teve longos romances com outras estrelas como Warren Beatty e Al Pacino, além de Woody Allen, nunca se casou.
Aceitaria uma proposta de casamento? "Não", responde com uma gargalhada a atriz, que tem dois filhos adotados.
"Acho que eu sou a única mulher da minha idade que trabalhou no cinema e nunca se casou. Talvez eu seja um bicho raro. A maioria das pessoas neste business se casa e, em algum momento, se divorcia, mas eu nunca me casei", completa.
E, ainda que diga não se arrepender, reconhece que tem certa curiosidade sobre como seria sua vida, "se tivesse terminado com alguém, se tivesse trocado votos com alguém que realmente valesse a pena".
"Talvez eu tenha perdido algo, mas ninguém pode ter tudo, certo? Infeliz eu não sou", conclui.