Desfile da Louis Vuitton em Xangai: expectativa para apresentação deste ano (Louis Vuitton/Divulgação)
Ivan Padilla
Publicado em 13 de janeiro de 2023 às 07h33.
Última atualização em 13 de janeiro de 2023 às 16h32.
Convém prestar atenção quando a maior marca de luxo do mundo começa o ano fazendo movimentações estratégicas. Nesta semana, a Louis Vuitton anunciou seu novo CEO, Pietro Beccari, em substituição a Michael Burke.
Para o hermético mundo da moda, porém, a mudança mais aguardada será vista mesmo nas passarelas. Na próxima quinta-feira 19 de janeiro, a grife francesa apresentará seu desfile masculino na Semana de Moda de Paris. A coleção será assinada por Colm Dillane, da marca KidSuper, um novato conhecido pelas criações muito coloridas e com muitas estampas.
A Louis Vuitton ainda não anunciou o substituto de Virgil Abloh, morto em novembro de 2021, para o cargo de diretor criativo da linha masculina. É fácil entender o desafio. Abloh foi o primeiro estilista negro a comandar a marca. Nos quatro anos em que ficou no posto, conseguiu criar apelo para as novas gerações ao aproximar a roupa da música e do universo das ruas.
De lá para cá a Louis Vuitton tem trabalhando com convidados para seus desfiles. A coleção masculina outono/inverno 2023, que será apresentada nesta próxima squinta-feira 19 de janeiro na Semana de Moda de Paris, terá cenografia de Lina Kutsovskaya e dos diretores franceses Michel e Olivier Gondry.
Outras parcerias têm dado muito resultado, como a colaboração recente com a artista japonesa Yayoi Kusama, em uma campanha estrelada pela brasileira Gisele Bündchen.
Mas pela primeira vez a marca chamou um designer de passarela, o que compreensivelmente causou burburinho. Trata-se do americano Colm Dillane, fundador da marca KidSuper, um novato com apenas dois desfiles na Semana de Moda de Paris.
Dillane criou a KidSuper como se fosse um personagem. Aos 15 anos, ele começou a fazer um trabalho de serigrafia de camisetas. Em meados da década passada passou a trabalhar com outros artistas, com quem gravava músicas e vídeos, em um estúdio colaborativo no bairro do Brooklyn, em Nova York. Em 2018 fundou oficialmente a marca.
Atrás do alter ego do KidSuper, Dillane solicitou a entrada na Semana de Moda de Paris. E conseguiu. Sua relação com a LVMH começou quando ele venceu um prêmio de talentos do grupo, levando um cheque de 150.000 dólares. Virgil Abloh estava entre os juízes.
O jovem designer tem alguns pontos de interesse para a Louis Vuitton. Assim como Abloh, ele vem do streetstyle, gosta de trabalhar em colaborações e tem capacidade para construir comunidades. Assumir apenas pontualmente a direção criativa da linha masculina tira da marca a pressão de nomear um substituto para o anterior diretor criativo.
Outros nomes têm sido ventilados para assumir o cargo, como o da anglo-jamaicana Martine Rose. Ela apresentou suas últimas criações nesta semana na Pitti Uomo, a feira de tendências mais importante da moda masculina, em Florença, na Itália. No ano passado o agora ex-CEO da Louis Vuitton Michael Burke assistiu a uma apresentação de Rose sentado na primeira fila.
A Louis Vuitton viu suas vendas aumentarem em 20%, para 20,6 bilhões de euros, em 2022. Este ano seu faturamento deve chegar a 21,9 bilhões de euros, segundo estimativas de consultorias. É a principal marca das 75 que compõem o portfólio do grupo LVMH. A moda masculina é a parte menor da Vuitton, mas engloba segmentos estratégicos, como artigos de couro.
O italiano Pietro Beccari estava no comando da Dior desde 2018. Pelos bons resultados à frente da grife do mesmo grupo LVMH, sua promoção era esperada pelo mercado. O americano Michael Burke, um dos funcionários mais antigos do conglomerado, era também presidente da Tiffany e seguirá na empresa, ainda sem função anunciada.
Burke foi um dos responsáveis pelo crescimento acelerado da Louis Vuitton nos anos mais recentes. Isso inclui a aproximação com a moda de rua e o rejuvenescimento da cartela de clientes.
Beccari já passou pela Fendi, outra marca da LVMH. Na direção da Christian Dior, aumentou em três vezes o faturamento da marca, para 6,6 bilhões de euros, segundo estimativas feita por consultorias. Uma das estratégias para esse crescimento foi a expansão para novos produtos.
No portfólio da Dior passaram a figurar acessórios de praia como pranchas de surfe. A marca abriu pop ups em destinos como Mykonos, na Grécia, e Santa Bárbara, na Califórnia. Beccari também conduziu a reforma do endereço histórico da grife na Avenue Montaigne, em Paris.
O presidente e CEO da LVMH, o francês Bernard Arnault, tem mexido na cúpula do conglomerado. Com a ida de Beccari para a Louis Vuitton, ele anunciou sua filha Delphine na direção da Christian Dior. Ela trabalhou na última década como vice-presidente de Michael Burke na Louis Vuitton.
Arnault também nomeou Antoine, seu filho mais velho, para chefiar a holding da família. As mudanças anunciadas entram em vigor em fevereiro.
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Todos os cinco filhos de Arnault ocupam cargos de gestão em marcas do grupo. Delphine e Antoine são os mais velhos, do segundo casamento. Alexandre Arnault é responsável por produtos e comunicação na Tiffany. Frederic Arnault é CEO da marca de relógios TAG Heuer. E o caçula Jean Arnault, 24 é diretor de marketing e o desenvolvimento de produtos da divisão de relógios da Louis Vuitton.
As mudanças sugerem que Bernard Arnault, de 73 anos, recentemente apontado como o homem mais rico do mundo, pode estar preparando sua saída. Mas isso não deve acontecer logo. Recentemente a empresa aumentou o limite de idade para o cargo de CEO de 75 para 80 anos. Arnault, um empresário agressivo conhecido pelo apelido de lobo de cashmere, ainda deve fazer barulho à frente de seu império de luxo.