Netflix: iniciativa de vender roupas é capitaneada pelo executivo Josh Simon, chefe da divisão de produtos de consumo da Netflix. (Netflix/Reprodução)
Matheus Doliveira
Publicado em 23 de junho de 2021 às 07h23.
Você poderá comprar travesseiros da série "Lupin" e cuecas samba-canção da marca Netflix. Também haverá bonés, colares, pingentes e moletons à venda no Netflix.shop.
O site de compras fornece à Netflix, a maior empresa de streaming do mundo, uma nova maneira de ganhar dinheiro depois de um trimestre em que seu crescimento explosivo mostrou sinais de desaceleração no setor cada vez mais disputado do entretenimento por streaming, que agora inclui um concorrente impressionante: o Disney+.
Ao contrário de alguns de seus rivais, como Hulu e HBO Max, a Netflix, lar de séries como "Bridgerton", "The Witcher" e "The Crown", não tem intervalos comerciais e depende exclusivamente das mensalidades pagas por seus mais de 200 milhões de assinantes em todo o mundo. É aí que entra o Netflix.shop.
O site é o próximo passo para uma empresa que começou a levar a sério as vendas no varejo a partir do ano passado, em uma iniciativa capitaneada pelo executivo Josh Simon, chefe da divisão de produtos de consumo da Netflix.
Simon se juntou à empresa em março de 2020, depois de ter trabalhado em uma função semelhante na Nike. Sob sua supervisão, a equipe de produtos de consumo passou de 20 para 60 pessoas; e a Netflix firmou acordos com as empresas Walmart, Sephora, Amazon e Target para venda de roupas, brinquedos, kits de beleza e utilidades domésticas, entre outros itens relacionados às suas séries e aos seus filmes.
A Netflix criou a loja on-line com a ajuda da empresa de tecnologia Shopify. Simon a descreveu como uma "butique", acrescentando que produtos vinculados a apenas alguns programas da Netflix estarão disponíveis nas primeiras semanas.
"Lupin", a agitada série policial francesa sobre um ladrão de alto nível, estará em destaque no Netflix.shop. Além de bonés, camisetas, moletons e suéteres, algumas das mercadorias relacionadas à série "Lupin" incluem almofadas (US$ 60 cada) e uma mesa de apoio (US$ 150), tudo projetado e produzido em colaboração com o Museu do Louvre.
Duas séries de anime da Netflix, "Eden" e "Yasuke", também serão apresentadas na loja. Um relógio baseado no personagem Haruto, de "Yasuke", criado em colaboração com a artista e designer Nathalie Nguyen, custa US$ 135.
Existe também uma linha de roupas da série "Yasuke", que surgiu mediante uma colaboração com a marca de streetwear Hypland e seu fundador, Jordan Bentley. "Ele faz parte da cultura das edições limitadíssimas, que leva as pessoas a fazer fila na Avenida Fairfax, em Los Angeles, para comprar seus produtos", disse Simon.
Nos próximos meses, produtos vinculados a outros programas da Netflix, incluindo "Stranger Things" e "La Casa de Papel", aparecerão nas prateleiras virtuais.
A demanda parece existir: milhares de produtos artesanais relacionados à série documental "Tiger King", da Netflix, incluindo velas, máscaras e cartões, estão à venda no Etsy e em sites semelhantes, sem a aprovação da empresa.
A Netflix aproveitou o sucesso de séries como "Bridgerton", romance de época da produtora Shonda Rhimes, que estreou em dezembro. Trabalhando com a empresa de roupas Phenomenal, a Netflix começou a vender moletons de US$ 59 inspirados no programa. A linha inclui um moletom lilás com as palavras "I Wish to Be Entertained" (Quero ser entretida) estampadas na frente, e uma camiseta de gola redonda com a mensagem "I Burn for You" (Fervo por você).
"Para Todos os Garotos que Já Amei", série de filmes de comédia romântica da Netflix, ganhou uma linha de roupas e acessórios da H&M, além de kits de beleza da Sephora. Há também bonecos da Mattel e uma pelúcia do Walmart vinculados ao sucesso de animação "A Caminho da Lua".
O Netflix.shop permitirá que a empresa reaja imediatamente para atender à demanda por itens relacionados às séries da Netflix que viralizam nas redes sociais. "Fizemos isso muito rapidamente, mas acho que em questão de dias teremos nosso próximo sucesso inesperado", afirmou Simon, referindo-se aos moletons da série "Bridgerton".
O desejo de reagir depressa contribuiu para a decisão da empresa de administrar sua loja por meio da Shopify, cuja tecnologia é utilizada por diversas lojas virtuais, incluindo Allbirds, Kith, The New York Times e Kim Kardashian's Skims.
Harley Finkelstein, o presidente da empresa, observou que a Shopify tem experiência em lidar com "lançamentos disputados", incluindo álbuns de Taylor Swift e modelos limitados de tênis, e consegue gerenciar dezenas de milhares de compras por minuto: "Somos veteranos de algumas das maiores ofertas relâmpago do planeta."
Produtos baseados em sucessos do entretenimento existem desde os primórdios de Hollywood. Já na década de 1920, a Disney vendia pratos, quebra-cabeças, baldes e outros produtos com imagens de Mickey Mouse, Pinóquio, Branca de Neve e outros personagens. Décadas depois, George Lucas fez fortuna graças a um acordo fortuito com a Fox, que permitiu que ele mantivesse os direitos dos produtos "Guerra nas Estrelas" em troca de um desconto em seus honorários de diretor, acordo firmado antes que o primeiro filme da série fosse lançado.
Agora, as empresas de tecnologia começam a se movimentar, à medida que procuram novas fontes de receita.
As vendas de produtos licenciados vinculados a programas, filmes e personagens geraram cerca de US$ 49 bilhões nos Estados Unidos em 2019 e US$ 128 bilhões no mundo todo, de acordo com o estudo mais recente do setor feito pelo grupo comercial Licensing International. De longe, quem mais fatura é a Disney.
Mark A. Cohen, diretor de estudos de varejo e professor adjunto da Escola de Negócios da Universidade Columbia, disse que duvida da longevidade da loja Netflix depois que a empolgação em torno de sua inauguração passar, em parte por causa do ciclo de vida curto dos produtos da Netflix: "A maioria tem vida útil curta, ao contrário de uma propriedade da Disney, que resiste por muito tempo."
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