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Netflix finalmente é aceita em Hollywood, mas ainda não por todos

Dentro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas há um contingente que considera modelo de streaming a destruição da indústria tradicional do cinema

Longa Roma, indicado ao Oscar de melhor filme (Netflix/Divulgação)

Longa Roma, indicado ao Oscar de melhor filme (Netflix/Divulgação)

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AFP

Publicado em 23 de janeiro de 2019 às 20h08.

Última atualização em 12 de março de 2019 às 16h36.

A Netflix recebeu finalmente sua primeira demonstração verdadeira de legitimidade em Hollywood com "Roma", indicado ao Oscar de melhor filme, mas a plataforma ainda está longe de ser aceita de forma unânime por um setor que continua defendendo a indústria tradicional.

Além das 15 indicações ao Oscar de filmes produzidos pela Netflix, na terça-feira a companhia se tornou oficialmente membro da poderosa associação americana do cinema (MPAA), um sinal importante de sua aceitação no meio.

Bem recebida nos festivais de Toronto e de Veneza, onde "Roma" recebeu o Leão de Ouro, a Netflix não é mais indesejável em Hollywood, embora o tapete vermelho ainda não tenha sido estendido sob seus pés.

Quando as indicações ao Oscar foram anunciadas, na terça-feira, as cadeias de cinemas AMC e Regal, que são de longe as principais do mercado, deixaram claro que não transmitirão "Roma" no âmbito de seu tradicional programa especial sobre o Oscar.

A AMC explicou que, como não pôde transmitir o filme quando este saiu porque a Netflix não lhe concedeu os direitos, decidiu que também não transmitirá agora.

"Roma" foi exibido em 900 salas de todo o mundo, mais que qualquer outro filme produzido pela Netflix, embora o grupo ainda não tenha comunicado os rendimentos de bilheteria.

E a companhia fez muito mais que levar "Roma" às salas de cinema para atender às exigências da indústria, tendo lançado uma campanha de marketing agressiva, com eventos, pôsteres e anúncios nas redes tradicionais, segundo o site Fast Company.

Faz tempo que a plataforma limita sua produção de séries, e a cada dia que passa consolida mais seu posicionamento como terreno de jogo de cineastas exigentes como Cuarón, Scorsese, Soderbergh e irmãos Coen, e inclusive, mais recentemente, como destino das estrelas de Hollywood.

Nesse contexto, segundo os resultados anuais anunciados pela Netflix, junto aos quais publicou cifras de audiência mais completas, o filme "Bird Box", protagonizado por Sandra Bullock, foi visto por 80 milhões de casas, 58% de seus assinantes.

"Um voto para 'Roma' é um voto para a Netflix"

Para ser aceita pelas instituições do cinema, a Netflix teve de fazer pequenos ajustes que não modificaram seu modelo econômico.

Neste sentido, por exemplo, só esperou três semanas após sua estreia nos cinemas para disponibilizar "Roma" em sua plataforma, em comparação com os 90 dias que as salas americanas impõem hoje aos estúdios.

Dentro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que entrega o Oscar, "há um contingente (de membros) que considera que um voto para 'Roma' é um voto para a Netflix", aponta Nicole Laporte, do site especializado Fast Company.

"Em outras palavras, um voto para uma empresa cujo modelo de streaming está destruindo a indústria tradicional do cinema", acrescenta.

"Eles não querem estar na indústria do cinema, mas na indústria da assinatura", afirma Aswath Damodaran, professor da Escola de Negócios Stern da Universidade de Nova York e autor de pesquisas sobre o modelo de negócios da plataforma.

Com exceção da Disney, que conta com algumas cartas como Pixar, Star Wars e Marvel, "o resto da indústria do cinema está sendo destruído", indica. "A Netflix está aumentando o preço da produção, do conteúdo e tirando outros do negócio".

Segundo os analistas, a plataforma poderia gastar até 15 bilhões de dólares com produção em 2019, mais que todos os grandes estúdios de Hollywood juntos.

Aswath Damodaran diz estar "inquieto por seu modelo econômico, simplesmente pelo dinheiro que gastam em conteúdo". O futuro do grupo não está em perigo, diz, mas os investidores poderiam se cansar de ver uma companhia crescer nesse ritmo sem gerar caixa.

"Os assinantes foram praticamente condicionados a esperar 100 filmes e séries novas por ano, não sei como vão poder parar isso", diz.

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