Red Carpet Home Cinema: Serviço é a Netflix do um por cento mais rico da população. (Christian Northeast/The New York Times)
Júlia Lewgoy
Publicado em 29 de abril de 2019 às 05h00.
Última atualização em 29 de abril de 2019 às 08h35.
West Hollywood – Fred Rosen, o magnata aposentado da Ticketmaster, comia um sanduíche de presunto e queijo brie no exclusivo San Vicente Bungalows e falava sobre cintos.
Sim, aquilo que usamos para segurar a calça. Você pode comprar um no Walmart por US$ 4, observou ele. Ou um na Gucci por US$ 1.500. "Todo produto que me vem à cabeça tem uma versão de luxo, e isso me fez pensar: por que não filmes?", disse Rosen.
Essa é uma ideia que cativou inúmeros empreendedores ao longo dos anos: por um preço alto, bilionários da tecnologia, titãs de Wall Street, atletas profissionais, oligarcas russos e outras pessoas ultrarricas poderão alugar filmes – assim que forem lançados nos cinemas – para assistir em casa. Pense nisso como a Netflix do um por cento mais rico da população.
Mas as startups desse segmento nunca foram para a frente, incluindo uma apoiada pela Best Buy em 2013, que cobrava US$ 500 por filme, além de US$ 35 mil em custos de instalação. Os estúdios de cinema, com medo de irritar as cadeias de salas de exibição, relutam em participar. A pirataria também é uma preocupação.
Rosen, de 75 anos, e outro amigo septuagenário com quem joga golfe, Dan Fellman, o principal especialista em distribuição de filmes de Hollywood, podem ter finalmente descoberto como fazer isso tudo funcionar. Eles discretamente fundaram a Red Carpet Home Cinema, que aluga filmes inéditos por cerca de US$ 1.500 a US$ 3 mil cada.
A Red Carpet tem contratos com Warner Bros., Paramount, Lionsgate, Annapurna e 20th Century Fox e Fox Searchlight, da Disney – com um total de cerca de 40 filmes anuais, incluindo grandes sucessos como "Aquaman" e "Nasce uma Estrela".
Essas parcerias refletem as relações da indústria do entretenimento que Rosen e Fellman cultivaram ao longo de décadas. A maioria dos estúdios não os vê como um problema vindo do Vale do Silício, algo que atrapalhou startups como a Screening Room, que tenta sem sucesso desde 2016 levar filmes inéditos para residências por um preço elevado. (Sean Parker, do Napster e do Facebook, está por trás dela.)
A Red Carpet também chega num momento em que o setor cinematográfico passa por uma grande mudança – não só causada pela maneira como a Netflix desafia a tradição de distribuição de filmes. Em geral, os proprietários de salas de cinema insistem em um período de três meses de exclusividade para os novos filmes. A Netflix começou a alterar essa prática, oferecendo aos cinemas uma temporada exclusiva de três semanas ou menos para filmes como "Roma" e "Bird Box".
A maioria dos estúdios vê uma mudança mais ampla na distribuição como inevitável, observou Harold L. Vogel, autor do livro "Entertainment Industry Economics".
"Os consumidores querem ter mais controle", afirmou Vogel.
Mesmo assim, os estúdios tomam cuidado. Nenhuma das produtoras que assinou com a Red Carpet quis discutir o empreendimento publicamente. Vários estúdios importantes, incluindo Universal, Sony Pictures e outras marcas da Disney, estão em negociação com a Red Carpet. Eles também preferiram não comentar.
"Estou confiante em que podemos fechar mais parcerias com estúdios. Somos uma oferta de nicho – sou muito velho para criar caso –, mas, mesmo que um estúdio ganhe entre US$ 25 milhões e US$ 50 milhões anualmente conosco, isso é dinheiro garantido", disse Rosen.
Os donos de cinemas parecem estar esperando para ver como vão abordar a Red Carpet.
"Ainda não tenho uma opinião", disse Adam Aron, executivo-chefe da AMC Entertainment, a cadeia de salas de cinema dominante nos Estados Unidos. Em contrapartida, Aron prontamente criticou startups como a MoviePass, o serviço de ingressos por assinatura.
Rosen, que assumiu a Ticketmaster em 1982 e ajudou a transformá-la em uma gigante, e Fellman, que começou sua carreira em estúdios em 1964, acertavam detalhes da Red Carpet durante suas partidas de golfe no Hillcrest Country Club, em Los Angeles.
O serviço de luxo funciona um pouco como um clube privado. Há um processo de inscrição rigoroso, e os participantes devem ter um cartão de crédito com um limite de pelo menos US$ 50 mil. Aqueles que se tornam clientes devem comprar uma caixa de US$ 15 mil que se conecta a um sistema de Home Theater (instalado por um técnico) que vem com proteções contra a pirataria.
Os preços dos aluguéis são definidos pelos estúdios participantes, com taxas mais elevadas para grandes produções, como "Shazam!", e custos menores para dramas como "A Forma da Água". Cada locação permite duas visualizações em um período de 36 horas.
Qual o tamanho da Red Carpet? Há mais pessoas que podem pagar do que você imagina. Quase 46 mil americanos têm renda anual de mais de US$ 2 milhões, de acordo com dados da Administração de Segurança Social de 2017. Rosen e Fellman, no entanto, insistiram durante um almoço em meados de março que não estavam interessados em tamanho.
"Não estamos à procura de dez mil pessoas", disse Rosen. Com menos de quatro mil clientes, a Red Carpet poderia ter uma receita anual de US$ 300 milhões, de acordo com as projeções de Fellman.
A Red Carpet, que conta com Sherry Lansing, antiga executiva-chefe da Paramount, como investidora, já está funcionando em cerca de 25 casas, como parte de um teste beta, desde dezembro. O site da Red Carpet cita Lansing: "Estou recomendando o serviço aos meus amigos."
Fellman acrescentou: "Não estou interessado em começar um negócio que seja um problema para a experiência de ir ao cinema. Talvez tenhamos 400 casas em Nova York e Los Angeles. Talvez cem em cada uma das 30 maiores cidades dos Estados Unidos." (Celebridades e magnatas de Hollywood sempre puderam ver a estreia de filmes em suas casas – de graça –, parte de algo conhecido como o Circuito de Bel-Air. Os estúdios permitem um número limitado de VIPs pré-aprovados que podem "emprestar" cópias de novos filmes.)
"Dissemos aos estúdios: 'Vocês definem os termos'", contou Fellman. "Eles gostaram disso. Em Hollywood, não dá para entrar, apontar um dedo e dizer: 'É assim que vai ser.'"