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Nem minissaias nem decotes: moda para mulheres evangélicas

"Nem decotes muito pronunciados nem minissaias", disse em entrevista à AFP Joyce Flores, a jovem estilista da Joyaly

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 1 de novembro de 2012 às 13h43.

São Paulo - A saia larga até os tornozelos e as blusas sem graça ficaram para trás: agora as mulheres evangélicas brasileiras podem comprar uma roupa recatada, mas na moda, graças a um novo mercado que cresce a olhos vistos seguindo o aumento desta religião no país com maior número de católicos no mundo.

"Nem decotes muito pronunciados nem minissaias", disse em entrevista à AFP Joyce Flores, a jovem estilista da Joyaly, uma das marcas pioneiras da chamada "moda evangélica", criada por sua mãe há uma década.

"Antes tínhamos essa ideia das saias muito largas, escuras e feias. Agora temos coisas bonitas para comprar, coloridas, mas que seguem os preceitos da nossa religião, porque se você vai à igreja para adorar Deus, não pode ir com um super decote que vai distrair o pastor", explicou.

Na loja há vestidos, saias e blusas, porque muitas destas religiões impedem as mulheres de usar calças nos cultos.

No coração de São Paulo, o popular bairro do Brás ferve. Epicentro da indústria têxtil brasileira, milhares de pessoas percorrem suas ruas cheias de lojas de confecções com os preços mais baratos da cidade.

Dentro das lojas Joyaly, as vendedoras mostram as roupas às mulheres de todas as idades enquanto os comerciantes compram grandes quantidades para abastecer suas lojas que embarcaram nesse 'boom'.

"A gente quer se vestir bem", diz Elena Soares, que junto com a filha e o irmão viajaram 2.000 km vindos do interior do país para comprar roupas para elas e sua pequena loja 'La Belle de Jour'.


"Antes eu vendia a roupa em bolsas, de casa em casa. Há pouco tempo abrimos nossa loja", diz orgulhosa.

Lúcia de Souza se olha no espelho com um vestido verde, com cintura marcada e largo nos tornozelos, com meia manga para esconder os braços. É um look simples, mas a loja também tem roupas para festas, sempre cumprindo as regras.

"Há mais de dez anos que compro roupa aqui. São coisas bonitas, com muita variedade e cores, mas evangélicas", disse à AFP enquanto continua se admirando no espelho.

Os evangélicos aumentam, "graças a Deus" 

Quando Aurea Flores criou a Joyaly, foi pioneira. Agora estas marcas especializadas já são cerca de trinta, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção, que representa um poderoso setor que nestes dias toma fôlego na famosa Semana de Moda de São Paulo.

O setor faturou 63 bilhões de dólares em 2011.

Flores começou fazendo vestidos para ela mesma, até que a demanda de suas "irmãs" da igreja foi tão grande que decidiu confeccionar em maior escala. Hoje a Joyaly produz 40.000 peças por mês.

"Nos últimos anos crescemos 20%", disse um dos filhos de Aurea, Alison, que faz a contabilidade da marca.


O Brasil, sexta economia global, é o país com mais católicos no mundo: 123 milhões, cerca de 64,6% de sua população.

Mas o número de católicos diminui, enquanto aumenta a quantidade de evangélicos que, segundo o último censo, passaram de 15,4% da população em 2000 (26,2 milhões) para 22,2% em 2010 (42,3 milhões).

Conservadores, formam um grupo que acumula crescente poder político e econômico com programas de televisão, uma forte representação no Congresso e capacidade de tecer grandes alianças políticas pela enorme quantidade de pessoas que mobiliza.

Nas favelas, as igrejas evangélicas se multiplicam e muitas vezes basta uma pequena casa para começar um templo.

Fabrizio Paes é de família católica. Seus pais tinham uma loja de roupas no Brás, mas antes da ascensão dos evangélicos e das demandas do mercado, decidiram dar uma reviravolta no negócio.

"Os evangélicos estão crescendo e compram muito, graças a Deus", disse à AFP atrás da grande bancada da loja Kauly, que duas vezes por ano envia um representante a Paris para se inteirar das tendências mundiais da moda para adaptá-las aos moldes deste mercado.

"Há seis anos decidimos nos especializar totalmente. Fizemos um ano de adaptação com forte investimento", comentou Paes. "Desde então o crescimento é muito visível", acrescentou.

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