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“Não fazemos complicações por fazer. Nossos relógios precisam resolver problemas”

Lorenz Brunner, chefe de pesquisa e inovação da IWC Schaffhausen, fala o que faz a marca ser única no mundo da relojoaria: a relação com a engenharia

Lorenz Brunner, da IWC: novos materias precisam trazer benefícios ao cliente (IWC Schaffhausen/Divulgação)

Lorenz Brunner, da IWC: novos materias precisam trazer benefícios ao cliente (IWC Schaffhausen/Divulgação)

Ivan Padilla
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 23 de abril de 2025 às 07h00.

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GENEBRA. Qual é o trabalho do departamento de inovação de uma manufatura quando se trata de revisitar um modelo de muitas décadas? No Watches & Wonders deste ano, que aconteceu entre 1 e 7 de abril em Genebra, na Suíça, a IWC Schaffhausen apresentou uma nova versão do modelo Ingenieur, agora com caixa menor, no tamanho de 35 milímetros.

No salão de relojoaria também foram apresentadas versões do modelo em ouro, em cerâmica e com complicação calendário perpétuo, além de uma edição limitada em referência ao filme F1: The Movie, com estreia prevista para junho.

O primeiro relógio Ingenieur foi apresentado pela IWC Schaffhausen em 1955 como um tributo aos engenheiros pós-Segunda Guerra, um relógio que era, ao mesmo tempo, preciso e protegido dos efeitos de campos magnéticos. De lá para cá o modelo saiu de linha, voltou, evoluiu.

Para falar do lançamento e da marca conversamos com Lorenz Brunner, head de pesquisa e inovação. Ao seu lado estava Stefan Ihnen, diretor técnico associado de pesquisa e desenvolvimento, no estande da IWC no evento de Genebra. Acompanhe.

Como é trabalhar com inovação e o desenvolvimento de novos materiais em modelos tão tradicionais como o Ingenieur?

O Ingenieur em geral é bastante complexo, então, se você trabalhar com materiais difíceis como a cerâmica, precisa superar alguns obstáculos na construção. Claro, isso leva tempo, mas o bom é que temos muita experiência com ambos, com o design e com o material, então sabemos o que precisamos fazer. Para este relógio também escolhemos uma construção de caixa um pouco diferente, os parafusos são montados diretamente no anel. E o vidro é pressionado, não colado. Então, escolhemos algumas tecnologias diferentes para produzi-lo e para mantê-lo fino, e não muito grande.

Existe um limite para uso de materiais quando se pensa na tradição desse modelo?

Não, não há limite. Já fizemos muitas coisas no Ingenieur. Usamos cerâmica, carbono, alumínio, titânio. Quero dizer, materiais são um dos pilares da nossa estrutura de inovação, da nossa estratégia de inovação. Se você voltar um pouco mais na história, se olhar para os primeiros Ingenieur projetados por Gerald Genta, tínhamos relógios de ouro, por exemplo.

Pode me contar qual é a ideia por trás dessa nova linha?

O design puro de Gerald Genta foi para uma coleção pequena. Em 2023 reintroduzimos o modelo. Este ano estamos apresentando uma coleção completa. Estamos trazendo, por exemplo, nossa competência de calendário perpétuo, que faz total sentido em uma linha tradicional da IWC. Estamos trazendo a competência da cerâmica, trazendo um metal precioso, e claro, também estamos aprimorando a coleção com diâmetros menores para alcançar um público mais amplo.

O feedback dos clientes faz diferença? Se o Ingenieur de 2023 não tivesse sido um sucesso, isso impactaria os lançamentos deste ano?

Acho que sim. Se o feedback do mercado não fosse tão positivo, talvez teríamos mudado algo. Mas o relançamento do design de Genta foi muito bem-sucedido. Vimos o potencial dessa linha. E fazia sentido aprimorar e expandir o escopo completo de uma coleção. O tamanho de 35 milímetros não é o que talvez os clientes da IWC estejam acostumados a ver, mas, ao mesmo tempo, trata-se de uma linha muito tradicional, e no passado as caixas dos relógios eram menores.

Como foi a adaptação do Ingenieur para os modelos de agora?

Foi desafiador porque nosso CEO colocou bastante pressão para acertarmos a proporção correta, o diâmetro, a altura, e assim por diante. As proporções deveriam ser muito próximas às do modelo tradicional. Isso foi um desafio para o de 35 milímetros, mas também para o calendário perpétuo. Nesse caso, tiramos o ponteiro de segundos central, o que nos trouxe meio milímetro na altura para mantermos as proporções ideais. No de cerâmica aumentamos um pouco o diâmetro para 42 milímetros. Tivemos que fazer alguns novos caminhos na construção. No de 35 também usamos um movimento novo, o que tínhamos era muito grande, não funcionava.

O modelo de 35 milímetros pode ser considerado feminino?

Não. Recentemente tive uma conversa com um de nossos colegas de marketing e ele estava um pouco desapontado porque recebeu o de 40 milímetros em vez do de 35 para usar no Watches & Wonders. Quando você olha para onde o mercado está indo, vê-se uma tendência em diâmetros menores. Não é apenas para as mulheres. Isso também é um tamanho que um homem pode usar. Porque não estamos falando de um 30 milímetros ou menor. Ao mesmo tempo, minha irmã (Lorenz fala) usa um Big Pilot de 46 milímetros. E ela também tem um Ingenieur de 40 milímetros. Mostrei a ela a nova coleção de 35 milímetros e ela disse não, o meu de 40 está perfeito.

Além da indústria relojoeira, quais são suas principais inspirações em uso de novos materiais?

Quando desenvolvemos o Ceramic Matrix Composite, trabalhamos em parceria com a agência espacial alemã. Então, olhamos para o setor aeroespacial, olhamos para a indústria de dispositivos médicos, olhamos para a indústria automobilística. Você só precisa estar aberto e ter um olhar realmente 360 graus, porque cada indústria tem materiais especiais ou também outros elementos que poderíamos usar em nossos relógios.

Qual é, na opinião de vocês, a essência da IWC?

Acho que o principal tema que também nos coloca um pouco à parte da concorrência é realmente o aspecto da engenharia. Estamos um pouco afastados do centro da indústria suíça, de língua francesa. Estamos no lado de língua alemã, com um fundador americano, impulsionados pela industrialização. Então, acho que isso é realmente algo único na IWC, que ainda está profundamente em nosso DNA. Estamos realmente na vanguarda da engenharia da indústria, diria. Isso é o que nos diferencia. Complicações, por exemplo. Não fazemos complicações só para ter uma complicação. Elas devem resolver um problema. Então, você não encontra muitos mostradores retrógrados ou algo assim. Sempre tentamos tornar os mostradores o mais legível possível. Tentamos resolver um problema para o cliente e não apenas fazer coisas só para mostrar que podemos fazer.

  • o jornalista viajou a convite do Watches & Wonders
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