Vinhos: os consumidores de vinho que procuram aliviar o estresse do isolamento social aumentaram a demanda por vinhos premium acessíveis (Divulgação/Divulgação)
Guilherme Dearo
Publicado em 12 de agosto de 2020 às 11h35.
Os consumidores de vinho que procuram aliviar o estresse do isolamento social aumentaram a demanda por vinhos premium acessíveis, na faixa de US$ 10 a US$ 14 a garrafa. O momento não poderia ter sido melhor para o maior exportador de vinhos da América Latina.
O carro-chefe da vinícola chilena Concha y Toro, o vinho Casillero del Diablo, que atende a esse segmento, ajudou a empresa sediada em Santiago a obter um aumento de 17% nas vendas no segundo trimestre e 3,3% de crescimento em volume. Sozinho, o Casillero, que responde por 20% das vendas totais, teve um aumento de 36% nas vendas e de 14% em volume.
“O mercado está pedindo qualidade, mas a um bom preço”, disse Osvaldo Solar, diretor financeiro da Concha y Toro, em entrevista. “Nossa estratégia é continuar a fazer crescer este segmento de vinho dentro do nosso mix.”
As condições climáticas favoráveis permitiram ao Chile desenvolver uma forte indústria vinícola, que hoje responde por 3% das exportações do país. Os protestos antigovernamentais que começaram em outubro e a pandemia da Covid-19 enfraqueceram o peso chileno em cerca de 8% desde então, beneficiando os exportadores. O mercado externo responde por 80% das vendas totais da Concha y Toro. Neste cenário, as ações da empresa tiveram ganho de 9,9% no mês passado, em comparação a uma perda de 1% no índice IPSA, o indicador de referência da bolsa de Santiago.
Os consumidores na Europa Ocidental têm aumentado lentamente a disposição para pagar mais por garrafa, de acordo com um estudo de 2013-2018 da Euromonitor. A Concha y Toro classifica seus vinhos como premium, super premium - entre US$ 15 e US$ 25 por garrafa - e ultra premium - entre US$ 25 e US$ 40.
Dadas as incertezas em torno da pandemia, a Concha y Toro’s elevou sua posição de caixa para 114 bilhões de pesos (US$ 142 milhões) no segundo trimestre, de 72 bilhões no final de 2019.
Agora ela planeja pagar antecipadamente a dívida para reduzir os níveis de liquidez para níveis mais normais, disse Solar. A empresa descarta novas emissões de dívida, embora os custos dos empréstimos sejam baixos.
O peso chileno se fortaleceu mais de 8% desde março, quando os lockdowns estavam começando, mas ainda está 11% mais fraco do que há um ano. A Concha y Toro se protegeu contra um peso mais forte, ao estimar 650 pesos por dólar para calcular seu plano estratégico para 2022, disse Solar. O peso fechou ontem a 802,69 por dólar. A empresa lançou em 2017 um plano para dobrar os lucros até 2022.
Embora as vendas tenham aumentado em alguns dos principais mercados de exportação, como Reino Unido, Brasil e México, os padrões de consumo variaram amplamente nos mercados asiáticos, com as vendas na China despencando 80%.
“O gosto da China por vinho se recuperou mais devagar do que o esperado, porque o consumo de álcool naquele país está muito associado à vida social, algo bastante reduzido pelas medidas de isolamento”, disse Solar.
Concha y Toro confiou em sua rede de escritórios comerciais e 14 subsidiárias de distribuição para manter suas vendas globais fortes durante a pandemia, disse Solar. A empresa opera um site de vendas diretas no Chile, o descorcha.com, mas o e-commerce direto representou apenas 3% das vendas da Concha y Toro. A empresa vê potencial nas vendas online e esse percentual pode aumentar no futuro, disse Solar.
E enquanto outras indústrias continuam a se preocupar com possíveis surtos do vírus em todo o mundo com a reabertura das economias, Solar não tem receios. “O último trimestre demonstra que nem mesmo um lockdown impede as pessoas de comprar vinho”, disse ele.