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Na Netflix, todo poder aos produtores

Ao fechar um acordo milionário com o produtor e roteirista Ryan Murphy, Netflix consolida a era dos criativos em Hollywood

O PRODUTOR RYAN MURPHY: um contrato de cinco no valor de 300 milhões de dólares com o Netflix  (Frederick M. Brown/Getty Images)

O PRODUTOR RYAN MURPHY: um contrato de cinco no valor de 300 milhões de dólares com o Netflix (Frederick M. Brown/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 24 de fevereiro de 2018 às 09h36.

Los Angeles — O acordo entre a Netflix e o produtor e roteirista Ryan Murphy, anunciado no último dia 14, garantindo o trabalho do criador de séries como Glee e American Horror Story por cinco anos, por um valor que pode chegar a 300 milhões de dólares, é um marco em vários sentidos e um flagrante do quanto a indústria de entretenimento está mudando rapidamente.

O fato de a Netflix — a novata no império que um dia foi exclusivo da televisão — ter efetivamente tirado Murphy da Fox e de sua subsidiária, o canal FX , é um dos elementos mais extraordinários do acordo. Não faz muito tempo, um realizador do porte de Murphy jamais consideraria uma oferta de algo que não fosse de uma das grandes redes ou de um canal relevante da TV paga. Plataformas novas, consideradas “arriscadas”, não teriam nem o cacife nem os recursos para bancar uma aquisição desse porte.

Hoje, o segmento mais aquecido da indústria é exatamente o das plataformas de streaming, que se multiplicam e se tornam cada vez mais agressivas. Murphy é a maior, mas não a única grande aquisição do setor: a Netflix fez acordos recentes com outros produtores-estrela como Shonda Rhimes (Grey’s Anatomy, Scandal, How To Get Away With Murder) e os irmãos Jay e Mark Duplass (Togetherness, Room 104); a Amazon garantiu direitos das próximas obras de Robert Kirkman (Walking Dead), Justin Doble (Stranger Things) e Amy Sherman-Palladino e Daniel Palladino (Gilmore Girls); e a Hulu — com renovado gás depois do sucesso de crítica e público da série The Handmaid’s Tale — acaba de fechar com J. J. Abrams, o criador da série Lost.

No caso específico de Murphy há um outro aspecto interessante: o possível êxodo de talento dos estúdios da Fox, em antecipação à sua aquisição pela Disney. Independente da eliminação de cargos e enxugamento geral de folhas de pagamento, há uma série de barreiras conceituais entre os dois estúdios que podem ser intransponíveis. Numa coletiva durante o ritual anual de apresentação dos novos projetos de cada plataforma de TV, Murphy descreveu uma conversa com a alta cúpula da Disney, logo depois do anúncio da aquisição da Fox: “Eles me garantiam que todos os tipos de projetos seriam respeitados, e eu respondia: ‘mas, sabe, o que eu faço, em geral, não é exatamente a linha de produção da Disney.”’

Desde seu primeiro grande projeto como produtor, a série Nip/Tuck, em 2003, até sua mais recente criação, a antologia American Crime Story, Murphy foi uma parte essencial da marca FX. Sua mistura de hiper-realidade, superestilização e destemor por temas controversos ajudou o canal a criar seu perfil de programação e elevou sua presença e audiência. Por mais garantias tranquilizadoras que a Disney possa oferecer, a marca Ryan Murphy, tão útil para o FX, habita uma galáxia muito distante da casa que Mickey construiu. (A mesma questão, aliás, se aplica à Fox Searchlight, a bem sucedida e muitas vezes premiada divisão de filmes de arte e independentes da Fox.)

Antes de sua saída oficial, em julho, Murphy deixa no canal três novas séries para a temporada 2018-2019: Pose, sobre a cena de moda em Nova York, The Politician sobre a ascensão de um jovem político ambicioso e Ratched, inspirada pelo filme Um Estranho no Ninho, sobre uma enfermeira num hospital psiquiátrico.

A transição milionária de Ryan Murphy para a Netflix deixa bem clara uma das principais tendências da indústria, hoje: o poder está nas mãos de produtores criativos.

Depois de períodos dominados pelo poder dos diretores, nos anos 1960-70, e pelos astros e estrelas, na virada deste século, a categoria cobiçada, agora, é a do criador capaz de articular conceitos complexos – “criadores de mundos”, como me disse um analista de mercado – e transformá-los em conteúdos. Assim como diretores e atores em décadas passadas eram “marcas” que garantiam os vastos investimentos necessários para realizar um projeto, criadores como Ryan Murphy, Shonda Rimes e J. J. Abrams são as novas grifes disputadas pelos canais de distribuição.

Recentemente a revista especializada Hollywood Reporter publicou sua habitual lista com as 100 pessoas mais poderosas da indústria. Os primeiros postos estão com CEOs dos grandes conglomerados de produção e distribuição de conteúdo, começando com o grande capitão do multiverso audiovisual, Bob Iger, presidente da Walt Disney Company.

Os executivos são imediatamente seguidos pelos produtores criativos, encabeçados exatamente por Ryan Murphy, no 28° posto, seguido de perto por J.J. Abrams, Shonda Rhimes e Jason Blum, produtor, responsável por, entre outros, o premiado Corra!, mais um mundo de franquias de terror como Creep, The Purge e Atividade Paranormal.

O primeiro representante dos atores a aparecer na lista puramente por seus dotes dramáticos é Jennifer Lawrence. Ela está em 41° lugar.

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