Ferrari na Fórmula 1: temporada difícil para a fabricante (Sérgio Soares/RF1)
Repórter de Casual
Publicado em 12 de novembro de 2025 às 06h50.
Última atualização em 12 de novembro de 2025 às 08h52.
No último domingo, 9, o Autódromo de Interlagos terminou a corrida de 2025 do Grande Prêmio de Fórmula 1 de São Paulo mais silencioso do que o esperado. O mar de camisas vermelhas nas arquibancadas, que torcia por Lewis Hamilton e Charles Leclerc, ambos da Ferrari, começou a cruzar os braços quando os dois pilotos reclamaram dos carros e, por acidente e falha técnica, abandonaram a prova.
Foi uma das corridas mais emblemáticas dos últimos três anos na capital paulista. Logo na primeira volta, o brasileiro Gabriel Bortoleto saiu da pista após uma colisão e deixou a prova. Na sexta, um toque de carros atingiu por consequência Leclerc e foi o suficiente para que o piloto da Ferrari perdesse uma das rodas e deixasse a corrida.
Algumas voltas mais tarde, no 38º circuito, foi a vez de Hamilton abandonar a prova. O heptacampeão, que assinou com a fabricante italiana em janeiro deste ano após ótimas temporadas com a Mercedes, fez contato com Franco Colapinto na largada e recebeu uma punição de 5 segundos. Passou os demais circuitos reclamando do carro.
"Estou vivendo um pesadelo há algum tempo", disse o piloto logo após a corrida. "A alternância entre o sonho de pilotar para essa equipe incrível e o pesadelo dos resultados que tivemos."
São tempos difíceis para a Ferrari. Os dois pilotos de fora da corrida, faltando três prêmios para o final da temporada, são resultados de um ano inteiro sem vitórias. A fabricante aparece em quarto lugar na pontuação geral — com Leclerc em 5º e Hamilton em 6º. Antes, ocupava o segundo lugar.
Para Felipe Giaffoni, comentarista da Fórmula 1 na BandTV, a tensão entre a equipe e as diferenças no estilo de pilotagem dos dois pilotos tem interferido no desempenho da fabricante no campeonato. E ameaça a carreira de ambos, sobretudo a de Hamilton.
"Se você for comparar, a McLaren tem uma dupla boa, mas a Ferrari tem uma dupla bem mais forte do que as outras equipes lutando pelo campeonato", explica ele à Casual EXAME. "É um momento ruim. Acho que o Hamilton vai tentar ver se essa mudança de equipamento e regulamento pode beneficiar o estilo de pilotagem dele em 2026. Mas se no ano que vem ele tiver mais uma temporada como as últimas duas, para mim, ele pendura a chuteira."
O momento de Hamilton na fabricante italiana é delicado pelo desequilíbrio entre expectativa e resultado. O heptacampeão aceitou a oferta da Ferrari por um salário de US$ 100 milhões por temporada, o maior da Fórmula 1. De início, o contrato é valido por dois anos, e pode ser renovado para um terceiro. Foi proposto pelo próprio CEO da marca, John Elkann, com uma série de outros benefícios.
Mas dentro dos paddocks, o clima na Ferrari com a chegada do piloto à equipe tem sido frustrante. A adaptação de Hamilton à equipe não foi das melhores, segundo os rumores. E após a corrida do último domingo, o presidente veio a público para criticar a atuação de ambos os pilotos — com uma alfinetada 'a mais' ao piloto inglês.
"(O GP do) Brasil foi uma grande decepção. (Lewis e Charles) deveriam falar menos e se concentrar em pilotar. A Ferrari precisa de pilotos que pensem menos neles mesmos e mais na equipe", disse Elkann em entrevista à TV Sky Sports, em um evento do Comitê Olímpico Italiano após a corrida.
"Nossos mecânicos estão basicamente vencendo o campeonato com seu desempenho e tudo o que foi feito nos pitstops. Nossos engenheiros, sem dúvida, melhoraram o carro. Mas quando se trata do resto, ainda não está a altura.”
"Culpar" os pilotos pelo mal desempenho não é a estratégia mais justa, na visão dos especialistas ouvidos pela Casual EXAME, que preferiram não se identificar. A Ferrari tem passado por um processo de reestruturação desde dezembro de 2022, com nomes importantes de engenheiros e projetistas que garantiram a vantagem italiana no começo dos anos 2000, e debandada de parte da equipe técnica.
O novo projeto dos carros para esse ano, no entanto, gerou mudanças estruturais e fundamentais, especialmente no assoalho — o que interfere e muito no estilo de pilotagem tanto de Leclerc quanto de Hamilton.
O detalhe ganha mais importância quando a pressão sobre os dois pilotos é alta. "A expectativa para os desempenhos pré-temporada era de que o Leclerc e o Hamilton iam brigar por várias vitórias, ganhar várias corridas. Apostavam inclusive que o Leclerc, por ser mais experiente, poderia ganhar o título", disse uma das fontes ouvidas pela reportagem, que esteve no paddock da Ferrari em Melborn. "Começou o ano e essa expectativa ficou bem para trás."
O desenho da crise vai se criando pela pontuação. Até o momento, a fabricante ainda não garantiu nenhuma vitória no campeonato. Depois do GP de São Paulo, sobram só mais três oportunidades.
Em resposta às alegações de Elkmann, tanto Hamilton quanto Leclerc se pronunciaram nas redes sociais. O piloto inglês agradeceu o carinho da torcida brasileira, mas admitiu a frustração. "No fim, não foi a corrida que queríamos. É frustrante, especialmente depois de um bom progresso, mas vamos seguir em frente".
E deixou uma alfinetada ao presidente da casa de Maranello: "Eu apoio minha equipe. Apoio a mim mesmo. Não vou desistir. Nem agora, nem depois, nem nunca".
O piloto monegasco, por outro lado, mostrou um clima um pouco mais otimista. "Foi um fim de semana muito difícil em São Paulo. Decepcionante voltar para casa com quase nenhum ponto para a equipe, em um momento crucial da temporada para lutar pelo segundo lugar no campeonato de construtores. Agora é só ladeira acima e está claro que só a união pode nos ajudar a reverter essa situação nas últimas 3 corridas. Daremos tudo de nós, como sempre."
Com Hamilton e Leclerc, a Ferrari ocupa o quarto lugar do Mundial de Construtores da Fórmula 1, com 362 pontos - 36 a menos que a Mercedes, segunda colocada do campeonato.
A McLaren já assegurou o título dos construtores e soma 756 pontos.