São Paulo – A dupla de músicos independentes Ex Cops passou, recentemente, por uma situação constrangedora já vivida por muitos artistas profissionais.

Amalie Bruun e Brian Harding foram convidados pelo McDonald’s para se apresentarem no festival americano South by Southwest, também conhecido como SXSW, que acontece de 13 a 22 de março, em Austin, Texas. O problema é que a empresa pediu que os profissionais tocassem sem receber sequer um centavo.

Diante da proposta, Harding resolveu publicar um texto crítico na página da banda no Facebook. Lá, ele afirmou que a rede de fast food havia dito que não tinham verba no orçamento para pagar os artistas, mas que a apresentação seria uma “grande oportunidade para exposição adicional” da dupla.

O músico disse também que a equipe do McDonald’s argumentou que deixaria sua equipe global digital no lugar do evento para conhecer as bandas e ajudar com sua promoção. Além disso, afirmaram que as imagens dos grupos musicais seriam exibidos no telão e que, possivelmente, eles seriam mencionados nos perfis da empresa nas redes sociais, como no Facebook.

O convite, no entanto, não atraiu como deveria e o Ex Cops se sentiu ofendido.

“Desde 2013, o McDonald’s é avaliado em 90,3 bilhões de dólares. Eu não vou entrar nas semânticas de internet, de coisas que você provavelmente viu em seu Facebook; como aquela coisa em que um trabalhador do McDonald’s demora 4 meses para ganhar o que o CEO ganha em uma hora, ou seu caso amoroso com ‘organismos geneticamente modificados’, e eu certamente vou poupar-lhe a graça de fotos mostrando como eles tratam seus animais”, afirmou Harding, na postagem, lembrando de algumas polêmicas que já envolveram a companhia.

Ele contou que, recentemente, tocaram em um pequeno bar independente, localizado no Brooklyn. Apesar de o estabelecimento não ser de grande porte, a equipe musical foi paga adequadamente, teve direito a tickets de bebida e cada membro da banda pôde escolher uma entrada completa do cardápio.

“É uma horrorosa e nojenta realidade quando alguém vê a verdadeira natureza das corporações e suas tentativas de alcançar relevância com a ‘geração y’”, continuou ele, lembrando que, no passado, a marca Doritos chamou a cantora Lady Gaga para se apresentar no festival (recebendo cachê).

No post, o músico lembrou, ainda, que a rede de fast-food deverá distribuir comida de graça para o público do festival, mas isso não mudou sua visão sobre a importância de pagar devidamente aos artistas participantes.

“Eu não tenho dúvida de que toneladas de bandas irão se prostrar diante desta porcaria de tentativa de fazer um show de rock. E eu estou ciente de que, para alcançar qualquer exposição, é uma tarefa hercúlea em 2015, mas a Roda da Fortuna é uma coisa real, e isso vai continuar a existir se nós, como artistas, continuarmos a dizer sim, em troca de um sabor de sucesso. Mesmo que cheire como um filé de peixe de merda”, finalizou.

À revista americana Rolling Stone, o McDonald’s se pronunciou afirmando que apenas seguiu o protocolo padrão que outras marcas e patrocinadores usam para abordar as bandas emergentes e chamá-las para o festival.

No entanto, Harding desmentiu a informação, em entrevista à publicação, afirmando que outras bandas estão sendo pagas por outras companhias. Ele ainda lembrou que é muito importante que as empresas entendam que não se deve tirar vantagem dos shows, único ganha-pão que restou para os músicos, já que a venda de álbuns caiu drasticamente.