Gucci: Demna Gvasalia, ex-Balenciaga, é o novo diretor criativo da marca italiana (Daniele Venturelli/Getty Images)
Repórter de Casual
Publicado em 16 de junho de 2025 às 14h59.
Última atualização em 16 de junho de 2025 às 16h05.
Desde o ano passado, a dança das cadeiras de diretores criativos tem sido longa e surpreendente, com diversos designers assumindo o cargo em marcas do mesmo grupo e até mesmo se aposentando. Ontem, 15, no entanto, outro grande anúncio foi feito: a saída de François-Henri Pinault como CEO da Kering e o anúncio da entrada de Luca de Meo, atual CEO da Renault, como uma tentativa de recuperação financeira do conglomerado de luxo.
Há um mês, durante uma audiência parlamentar realizada na França, Pinault anunciou que o grupo de luxo está com queda acentuada na demanda por seus produtos de luxo e moda nos Estados Unidos. "A queda no consumo, que já vem acontecendo há várias semanas, é bastante forte", disse Pinault.
Em abril, a Kering reportou vendas fracas no primeiro trimestre, prejudicadas por uma queda de 25% nas vendas da Gucci.O primeiro trimestre de vendas da Kering foi marcado por uma queda de 14% e uma redução de 25% na Gucci.
A possível chegada de Luca de Meo à Kering já anuncia pontos positivos para o grupo, com aumento nas ações para 9,85% por volta das 6h50 desta segunda-feira, 16.
O executivo italiano, que liderou a transformação da Renault nos últimos cinco anos, é visto por analistas como um nome forte para conduzir a reestruturação do grupo de luxo, que vem enfrentando dificuldades, especialmente com a queda nas vendas da Gucci.
As ações da Kering acumulam perda de mais de 60% nos últimos dois anos, pressionadas por alertas de lucro e trocas na direção criativa da sua principal marca.
De Meo assume o desafio de substituir Pinault, herdeiro da família controladora da Kering, que deve se manter no cargo de presidente do conselho de administração, separando pela primeira vez as funções de CEO e chairman após 20 anos.
Luca de Meo: da Renault para a crise financeira da Kering (Renault/Divulgação)
Luca de Meo assumiu a montadora francesa há cinco anos e desde então, as ações da Renault subiram mais de 90%, tornando-se uma das de melhor desempenho no setor automotivo europeu.
Antes da Renault, De Meo foi chefe da marca Seat, do grupo Volkswagen de 2009 a 2020. O executivo italiano já passou por montadoras como Toyota, Fiat e a própria Renault, onde começou a sua carreira no início da década de 1990.A chegada de De Meo à Kering se aproxima das tarefas que teve quando assumiu o cargo na Renault: aumentar as vendas do grupo. Em 2020, a montadora encontrava-se no meio do fogo cruzado causado pelo seu ex-CEO, Carlos Ghosn, que foi preso no Japão e posteriormente fugiu para o Líbano.
O anúncio da saída de De Meo acontece em um momento sensível para a Renault, que ainda enfrenta os desafios da concorrência com montadoras chinesas e dos impactos das tarifas comerciais dos Estados Unidos. Segundo a montadora, ele permanecerá no cargo até 15 de julho, e o conselho já iniciou o processo de sucessão.
A movimentação também ocorre em meio a rumores de que a Nissan, parceira da Renault, estaria avaliando vender parte de sua participação na montadora francesa para levantar recursos, segundo informou o jornal japonês Nikkei.
De Meo não é o primeiro exemplo de um outsider da moda que ingressa no setor. O crescimento da Prada e da Miu Miu aconteceram após a entrada de Andrea Guerra, ex-CEO do Eataly e do gigante de óculos de sol Luxottica como CEO do grupo.
Segundo o Business of Fashion, o CEO da Louis Vuitton, Pietro Beccari, e o CEO da Ralph Lauren, Patrice Louvet, também começaram suas carreiras em bens de consumo.
O final dos anos 1990 e o começo do milênio foram um dos mais importantes para a Kering. De 1999 a 2001, o grupo de luxo francês adquiriu 42% do Grupo Gucci, a Yves Saint Laurent, a casa de alta joalheria Boucheron, a Bottega Veneta, a Balenciaga e a Alexander McQueen House.
Com mais de 20 anos como presidente e CEO da PPR, Pinault, transformou o grupo global de luxo com aquisições de casas de luxo icônicas e outras atividades.
No entanto, a pandemia e os anos subsequentes trouxeram desafios ao setor de luxo. Com a redução do consumo destes produtos pelos Estados Unidos e a China, os dois países mais importantes para o setor. Somado a isso estão as políticas tarifárias de Donald Trump, que prometem um ano de 2025 difícil para o setor de luxo, que se prepara para o que pode ser sua maior queda em anos.
No entanto, o mercado de luxo possui altas margens de lucro e está mais bem posicionado do que outros setores para aumentar seus preços.
Para a Kering, a crise financeira toca ainda o mercado imobiliário. Segundo o Financial Times, o grupo está em negociações com a firma de private equity Ardian para vender uma participação majoritária em uma propriedade de destaque na Quinta Avenida, em Nova York.
Segundo o FT, a Kering gastou bilhões nos últimos anos adquirindo propriedades nos locais de varejo mais cobiçados nas principais capitais, como parte de uma corrida entre grupos rivais de luxo para garantir locais glamorosos para suas marcas.
No ano passado, o grupo comprou o edifício 715-717 da Quinta Avenida, próximo ao Rockefeller Center e à Catedral de São Patrício, por pouco menos de 1 bilhão de dólares.
Já nas passarelas, as grifes tentam se reinventar. Em 2022, a Gucci anunciou a saída de Alessandro Michele após sete anos na marca italiana. No ano passado, o destino de Michele foi revelado: a cadeira de diretor criativo na Valentino, que possui 30% de participação da Kering.
Já o destino das criações da Gucci ficará ao cargo de Demna Gvasalia, ex-Balenciaga. O assento da Balenciaga será ocupado por Pierpaolo Piccioli.
Para que algumas das marcas mais admiradas da moda continuem sendo desejadas pelos consumidores, a direção da Kering está nas mãos dos diretores criativos, que devem apresentar portfólios aspiracionais. E agora, também nas mãos de De Meo.