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Mudança climática modificará profundamente a produção do vinho, indica estudo

Até 90% das regiões vinícolas tradicionais das áreas costeiras e do interior da Espanha, Itália e Grécia podem estar ameaçadas de extinção

Regiões tradicionais, desde La Rioja, na Espanha, até Bordeaux, na França, podem perder entre 49% e 70% de suas colheitas. (Germano Lüders/Exame)

Regiões tradicionais, desde La Rioja, na Espanha, até Bordeaux, na França, podem perder entre 49% e 70% de suas colheitas. (Germano Lüders/Exame)

AFP
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Agência de notícias

Publicado em 27 de março de 2024 às 10h01.

Última atualização em 2 de abril de 2024 às 11h22.

Vinhedos nos Andes e nos Pampas argentinos? De acordo com um estudo francês publicado ontem, 26, a mudança climática resultará em uma modificação profunda na geografia vinícola em todo o mundo.

"A mudança climática está alterando a geografia do vinho, e haverá vencedores e perdedores", resume Cornelis van Leeuwen, professor de viticultura de uma escola de engenharia agronômica francesa, Bordeaux Sciences Agro.

O calor e a seca aumentarão, e com eles as doenças da videira e o surgimento de pragas, segundo o estudo publicado na Nature Reviews Earth & Environment.

Até 90% das regiões vinícolas tradicionais das áreas costeiras e do interior da Espanha, Itália e Grécia podem estar ameaçadas de extinção.

Ao mesmo tempo, áreas onde o cultivo de uvas é escasso ou inexistente, como no sul da Inglaterra, nos Pampas ou em regiões mais altas dos Andes, podem se beneficiar.

De acordo com seu nível específico de aquecimento, essas regiões tradicionais, desde La Rioja, na Espanha, até Bordeaux, na França, podem perder entre 49% e 70% de suas colheitas.

"É possível produzir vinho em quase qualquer lugar (em climas tropicais, na Polinésia, na Índia...), mas nos concentramos na produção de vinhos de qualidade, com rendimentos economicamente viáveis", explica Van Leeuwen à AFP.

Por outro lado, entre 11% e 25% das regiões onde a videira já está estabelecida podem ver melhorias em sua produção, e novas regiões podem surgir em latitudes e altitudes mais altas.

"Dada a extensão da irrigação já adotada nas regiões vinícolas mais secas, como Mendoza, as projeções de precipitação sobre os vinhedos tradicionais da América do Sul não indicam mudanças substanciais em sua adequação. Portanto, a adequação futura nessas regiões dependerá principalmente do aumento da temperatura, da disponibilidade de água subterrânea e superficial e da frequência de eventos extremos", indica o relatório.

"Para um nível limitado de aquecimento, espera-se que o setor do Pacífico sul-americano experimente um baixo risco de perda de adequação, mas esse risco aumenta para as regiões atlânticas como Brasil e Uruguai", acrescenta.

"As regiões vitivinícolas de clima fresco, como a região dos Pampas, podem melhorar nessas condições. No caso de um aquecimento mais severo, a resiliência das regiões vitivinícolas do norte da Argentina pode exigir um deslocamento das terras baixas para as encostas mais altas dos Andes, enquanto o setor atlântico oferecerá poucas oportunidades para a vinificação", dizem os especialistas.

"A expansão para áreas recém-adaptadas poderia envolver um movimento para o sul em direção à Patagônia argentina ou potencialmente uma exploração das altas altitudes dos Andes equatorianos e colombianos."

O problema da irrigação

Um nível limitado de aquecimento seria aquele que permanecesse abaixo de +2°C a nível global.

Esse aumento da temperatura média do planeta também permitiria a sobrevivência da maioria das regiões produtoras atuais na Europa, onde a maioria do vinho é produzido.

Além dessa alta de +2ºC, a Califórnia também seria muito prejudicada.

"Advertimos contra a implementação da irrigação: é uma adaptação equivocada", afirma Van Leeuwen.

"Os vinhedos irrigados são mais vulneráveis à seca se houver falta de água" e a água "é um recurso limitado e é insensato alocá-lo para a videira, que pode se adaptar muito bem a um cultivo de sequeiro", enfatiza.

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