Niki Lauda: carreira marcada pela perseverança (Quality Sport Images/Getty Images)
EFE
Publicado em 21 de maio de 2019 às 07h43.
Viena, Áustria — A Fórmula 1 e o negócio da aviação comercial perderam uma de suas referências das últimas décadas, o austríaco Niki Lauda, tricampeão da principal categoria do automobilismo, falecido na segunda-feira, em Zurique (Suíça), aos 70 anos de idade, após uma espetacular e movimentada carreira na terra e no ar.
Para muitos, Lauda é uma lenda do automobilismo, dada sua excepcional carreira esportiva, marcada não apenas pela sua perseverança e seus grandes triunfos, mas, além disso, pelos altos e baixos enfrentados e, sobretudo, pelo seu retorno tenaz e milagroso às pistas, pouco tempo depois do grave acidente sofrido em 1976.
Seu rosto ficou desfigurado pelo acidente e sua imagem vinculada para sempre ao boné com viseira vermelha que escondia parte dos ferimentos de suas queimaduras.
No verão passado, ele foi submetido a um transplante de pulmão e em janeiro desta ano voltou a ser internado devido a uma gripe contraída em Ibiza (Espanha), onde sua família possui residência.
"Nos deixou um dos grandes, um ídolo e lutador ambicioso que nunca desistiu", escreveu hoje o presidente da Áustria, Alexander van der Bellen, em sua conta do Twitter.
"Os circuitos (de F-1) eram seu lar, e a aviação, seu amor. E como nenhum outro, lutou para voltar à vida várias vezes. É um exemplo de coragem, disciplina e justiça", afirmou o chanceler austríaco Sebastian Kurz, também através da rede social.
O piloto, que ao lançar sua autobiografia no ano de 1996, em Viena, disse se considerar um lutador nato, teve que enfrentar um grande revés também como proprietário da companhia aérea Lauda Air, quando os 223 passageiros de um dos seus voos morreram em 1991, com a queda de um avião na Tailândia.
Nascido em Viena, no dia 22 de fevereiro de 1949 em uma família rica, Andreas Nikolaus Lauda tinha menos de 20 anos quando decidiu ser piloto, apesar da oposição dos seus pais.
Após passar pela escuderia British Racing Motors (BRM), assinou com a Ferrari em 1974 e neste mesmo ano conquistou sua primeira vitória, no Grande Prêmio da Espanha, antes de conseguir seu primeiro título mundial, em 1975.
Em agosto do ano seguinte, Lauda já havia ganho cinco provas e era favorito para conquistar novamente o título mundial, quando sofreu um grave acidente no circuito de Nürburgring, durante o GP da Alemanha, sendo atingido pelas chamas de sua Ferrari 312T2.
O piloto foi internado em um hospital alemão com queimaduras graves no rosto e em outras partes do corpo, várias fraturas de ossos e pulmões danificados pela inalação de fumaça tóxica.
Durante vários dias, esteve perto da morte ao ponto que inclusive foi lhe dada a extrema-unção, e, no entanto, apesar do duro processo de recuperação, retornava às pistas apenas seis semanas após o acidente e um ano mais tarde conquistava seu segundo mundial.
"Eu não quero continuar andando em círculos", disse Lauda, em 1979, quando anunciou que estava deixando a Fórmula 1 para se dedicar à aviação.
Ele conseguiu fundar sua própria companhia aérea apesar dos problemas que teve ao enfrentar a então estatal Austrian Airlines, que gozava então do monopólio dos voos comerciais no país.
Em 1982, quando sua "Lauda Air" beirava a falência, decidiu voltar a correr para financiá-la e conquistou seu terceiro título na Fórmula 1, desta vez pela McLaren, em 1984, um ano antes de retirar-se definitivamente das pistas.
No entanto, ele continuou ligado até último momento à F-1: após ser conselheiro da Ferrari e dirigir a equipe da Jaguar, desde 2012 era chefe do Conselho de Vigilância da Mercedes, da qual possuía 10% das ações.
Além disso, durante anos atuou como comentarista de Fórmula 1 para uma emissora de TV da Alemanha.
A "Lauda Air", que começou a operar em 1979 com dois aviões Fokker F-27 e mais tarde ganhou uma licença mundial para voos de linha, foi vendida para a Austrian Airlines em 2003.
Lauda então fundou outra companhia aérea, a Flyniki, rebatizada depois como Niki, que foi adquirida em 2011 pela hoje extinta Air Berlin.
Quando esta empresa alemã faliu no início deste ano, Lauda adquiriu a Niki, renomeou-a como Laudamotion e depois vendeu 75% das ações para a companhia aérea de baixo custo Ryanair.
Em sua autobiografia, intitulada "A Terceira Vida", o piloto e empresário diz que a "terceira vida" começou após o acidente do Boeing, em 1991.
O autor dedica um grande espaço à história do imenso fardo causado pela morte de 223 pessoas na catástrofe.
"Eu sou capaz de fazer qualquer loucura comigo mesmo, mas não posso suportar a responsabilidade de causar qualquer dano a alguém. Felizmente ficou provado que a causa da catástrofe foi da Boeing, mas o avião pertencia à minha empresa, responsabilidade que eu sempre carregarei nas minhas costas", afirmou.
Para sua vida privada, ele dedica menos espaço no livro, embora comente, entre outros capítulos, seu casamento secreto com Marlene Knaus, da qual se divorciou em 1991, e fala dos seus filhos Lukas e Mathias, assim como de Christophe, este nascido fora do casamento.
Lauda casou novamente, desta vez com Birgit Wetzinger, que lhe doou em 2005 um rim, e com quem teve os gêmeos Max e Mia.
O drama vivido pelo piloto em 1976 foi retratado em "Rush: No Limite da Emoção" (2013), filme dirigido pelo americano Ron Howard, onde o ator Daniel Brühl encarna o papel de Niki Lauda. EFE