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Morre Niemeyer, o revolucionário pai da arquitetura moderna

Arquiteto buscava em seus projetos chegar sempre a um edifício "bonito, diferente e que gere surpresa"


	Niemeyer recebeu em 1988 o maior reconhecimento no mundo da arquitetura: o prêmio Pritzker
 (Valter Campanato/ABr)

Niemeyer recebeu em 1988 o maior reconhecimento no mundo da arquitetura: o prêmio Pritzker (Valter Campanato/ABr)

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Da Redação

Publicado em 5 de dezembro de 2012 às 21h31.

Oscar Niemeyer, o revolucionário 'pai' de Brasília e que deixou sua marca na história da arquitetura mundial, morreu nesta quarta-feira no Rio de Janeiro aos 104 anos - a dez dias de completar 105 - e deixou um enorme vazio na profissão que ocupou até praticamente o último dia de sua vida.

Revolucionário em seus desenhos e em sua ideologia, Niemeyer defendeu uma fé inquebrantável no comunismo em muitas de suas obras por todo o mundo, com as quais buscou contribuir à construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Ele gravou sua marca comunista com sutileza em obras como a igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, cujas sinuosas curvas lembram uma foice e um martelo, o que levou a Igreja Católica a desconfiar e a atrasar a consagração do templo por uma década.

O símbolo socialista também ficou marcado de forma ainda mais ousada no mausoléu do ex-presidente Juscelino Kubitschek, que foi construído em Brasília quando o país era governado por uma ditadura militar que o obrigou a se exilar entre 1967 e 1982, na maior parte do tempo em Paris.

Ao lado do urbanista Lúcio Costa, outro stalinista declarado, Niemeyer criou do nada Brasília, capital do país desde 1960 e que ambos queriam transformar em uma cidade ideal.


A contragosto com a evolução da capital e também por seu medo congênito de voar, Niemeyer não participou, em abril de 2010, da festa do 50º aniversário da cidade, declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

'Depois que Brasília foi inaugurada, vieram os homens do dinheiro, do capital, e tudo mudou. Chegaram a individualidade e a vaidade mais detestáveis, e os hábitos mudaram gradualmente, para adquirir aqueles da burguesia que reprovamos', comentou Niemeyer em função do cinquentenário da capital.

De suas pranchas surgiram os palácios, edifícios de governo, a catedral e os principais edifícios desta cidade que, da mesma forma que o resto de sua obra, são marcados por curvas atrevidas e sensuais, e que combinam funcionalidade e beleza plástica.

Em um documentário sobre sua vida, o arquiteto afirmou que sempre que é encarregado de projetar um edifício, tenta fazê-lo 'bonito, diferente e que gere surpresa', para que os pobres possam desfrutar de sua arte.

Pioneiro no uso do concreto armado como um elemento dútil com funcionalidade artística, Niemeyer foi convidado em 1947 a fazer parte da comissão de arquitetos que elaborou a sede das Nações Unidas em Nova York, liderada por Le Corbusier, seu mentor.


Desde esse projeto, o brasileiro sempre explorou uma arquitetura livre que foge do excessivo racionalismo e usou e abusou das curvas, com as quais buscou refletir o perfil feminino e romper com todo tipo de convenção.

Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho nasceu no Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1907 em uma família religiosa e de boa situação financeira.

Casou-se aos 21 anos com Anita Baldo, com quem compartilhou 75 anos de vida e teve sua única filha, Ana Maria, que lhe daria cinco netos e 13 bisnetos e faleceu em junho deste ano, aos 82 anos.

Em 2006, dois anos após ficar viúvo e aos 98 de idade, casou-se de novo, escondido de sua família, com Vera Lúcia Cabreira, que foi sua secretária durante décadas e é 40 anos mais jovem que ele.

Vera Lúcia foi sua companheira e mais ciumenta protetora nestes últimos anos de sua vida, nos quais recebeu muitos prêmios e reconhecimentos, sem que parassem de chegar pedidos de projetos a seu escritório no Rio de Janeiro.


Entre muitos prêmios, Niemeyer recebeu em 1988 o Pritzker, maior reconhecimento no mundo da arquitetura; o Lênin da Paz (1963), o Príncipe das Astúrias (1989), o Leão de Ouro da Bienal de Veneza (1996), o Unesco da Cultura (2001) e a Ordem das Artes e Letras do Governo da Espanha (2009).

Apesar de seus problemas de saúde, o infatigável Niemeyer trabalhou até seus últimos dias em diversos projetos e, às vésperas do carnaval deste ano, visitou o sambódromo do Rio de Janeiro, outra de suas criações, para conferir as obras de ampliação. EFE

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